À medida que, ao início da manhã, cinquenta estudantes percorriam os dois quilómetros e meio de trilho que separam o Castelo da Lousã do Talasnal, era possível ouvir algumas queixas. O desabafo “nunca mais chegamos” ou a pergunta “ainda falta muito?” foram algumas das frases escolhidas. Foi já no final do percurso que o guia, José Gaspar, da associação Activar, revela a resposta que ofereceu: “contei-lhe histórias da população local que fazia este percurso descalça”.

Para o membro dos orgãos sociais da associação sediada na Lousã, “um trajeto como estes pode servir para compreender coisas importantes sobre a história das populações e as suas necessidades”. Por outro lado, esta é uma forma de poder proporcionar um contacto essencial face ao contexto: “os jovens têm um défice de Natureza”. E se experiências como esta podem ser saudáveis, José Gaspar deixa o aviso: “só o são verdadeiramente quando realizadas com regularidade”.



"Experiências como esta podem ser saudáveis, mas só o
são verdadeiramente quando realizadas com regularidade"
José Gaspar, Associação Activar

 

Ativar a região

A associação Activar foi criada há 20 anos e, explica José Gaspar, a sua atividade centra-se também em áreas como formação ou apoio à população local. O Turismo é também “uma das principais valências”, acrescenta – os trilhos pela serra foram definidos e marcados pela associação, bem como uma estrutura de caching e geocaching que passa por quatro aldeias. Brevemente, uma nova estrutura será criada, neste âmbito, com a inauguração da “Casa do Caminheiro”, até ao final do ano, revela o membro da associação.


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Para José Gaspar, o facto de este trabalho ser feito por uma associação local incorpora uma “clara vantagem”: “conhecemos o território e as histórias locais”. “E são as histórias que as pessoas procuram”, reforça, garantindo que “a procura nacional e internacional deste local tem uma grande dimensão que a maioria das pessoas desconhece”.

Relativamente ao impacto nas estruturas e população local, José Gaspar considera que a sensibilização ambiental tem garantido os seus frutos: “Há 20 anos, havia meia dúzia de pessoas e já havia lixo. Hoje, temos milhares de visitantes e não se encontra muito mais”. “Depois de conhecerem, as pessoas sentem a Natureza como delas”.

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Criar no topo

Depois da chegada ao Talasnal, os esforços foram conduzidos para a construção de uma escultura, numa atividade que contou com o apoio de estudantes e professores do curso de licenciatura de Arte e Design da Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC). “O objetivo é a construção de um objeto que se relaciona com espaço envolvente”, explica o diretor do curso Nuno Chuva Vasco. Por essa razão, em edições anteriores do I Love We, foram construídas esculturas de um veado, um ninho e uma árvore.

Para este ano, a escolha foi menos óbvia: os estudantes construíram, durante a tarde de hoje, um olho. A decisão “relaciona-se com a questão dos incêndios, numa lógica de uma estrutura que 'vigia' a floresta”. A correlação entre a construção e o espaço é também uma forma de introduzir os estudantes do ensino secundário e profissional a uma das áreas de atuação do curso de licenciatura de Arte e Design. “Esta é uma formação mais generalista que permite contactar com várias realidades – do design de equipamento, produto ou gráfico a artes como a fotografia, o vídeo, a pintura ou a escultura”.

 

 


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A visão de quem estuda

A diversidade de áreas é também destacada por duas estudantes do curso que participaram na atividade. “Escolhi este curso por ser abrangente e dar uma noção alargada do design e das artes em geral”, conta Catarina Gonçalves, de 21 anos. “Isso é importante para descobrirmos para onde nos vamos direcionar”, completa Beatriz Dias.

Para as estudantes, a adaptação ao Ensino Superior foi facilitada pelo facto de “a ESEC ser bastante acolhedora, desde o primeiro momento”. O facto de o curso de artes ocupar o piso inferior do edifício, salienta Beatriz Dias, “ajuda a criar um sentimento de pertença e à partilha de experiências”.


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A escolha de Beatriz baseou-se na perceção de que “a abordagem do Ensino Politécnico é mais prática”, uma noção que seria confirmada “com a maior preponderância dos estágios neste curso, que nos ajudam a perceber melhor a criação”, acrescenta Catarina Gonçalves. A questão não se resume apenas à preparação garantida pela formação, conclui Beatriz: “A componente prática é onde podemos também explorar o nosso potencial”.

O olho seria mesmo terminado e erguido, no cimo da aldeia do Talasnal. Depois da criação da estrutura, com recurso a madeira e arame, esta foi revestida por cartão e devidamente pintada. À volta do topo da serra, houve ainda tempo para uma passagem pelas piscinas naturais da Lousã.

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A I Love We continua amanhã, com uma viagem até Condeixa, para atividades de Língua Gestual Portuguesa, Gerontologia e Comunicação Social, realizadas na Biblioteca Municipal de Condeixa e no Museu Fernando Namora.