À pergunta “quando sentiste, pela primeira vez, a ligação ao empreendedorismo?”, o estudante Bernado Monteiro, de 17 anos, tem uma resposta pouco habitual: “Aos seis anos”. “Perguntavam-me o que faria com uma certa quantidade de dinheiro e eu dava ideias”, explica. Aos 12 anos, começou “a pensar mais a sério”. Aos 15, surge “o primeiro negócio”, enquanto estudante da Escola Secundária Matias Aires: personalizar cartões da escola.
“Fazia o trabalho nos intervalos da escola e, como o pessoal aderiu tanto, acabei por ficar sem tempo”, recorda. Acabaria por “entregar o negócio à escola”. Contudo, a ligação nunca seria quebrada: desde então, já abriu uma loja online de venda de sofás insufláveis. “E, hoje em dia, faço sites”, realça.
Foi este interesse que levou Bernardo a inscrever-se na Academia IPStartupWeek. “Conheci a academia na minha escola e o facto do tema ser o empreendedorismo foi decisivo”, explica, antes de deixar a sua expectativa para estes cinco dias de atividades no Politécnico de Setúbal: “Espero divertir-me e sair daqui com um pouco mais de conhecimento sobre esta área”.
“Espero divertir-me e sair daqui com um
pouco mais de conhecimento sobre a área do empreendedorismo”.
Bernardo Monteiro, participante da IPStartupWeek
Por dentro do Ensino Superior
“É um prazer receber-vos”, começou por destacar a vice-presidente do IPS, Ângela Lemos, no acolhimento dos participantes da IPStartupWeek. Enquanto Instituição de Ensino Superior, o Politécnico de Setúbal tem uma ligação especial a este público, realçou: “É para vocês que nós existimos”.
Estes cinco dias de atividades servem para os estudantes “desenvolverem as vertentes empreendedora e de inovação – algo que uma instituição de ensino como o IPStartupWeek possui”. Por essa razão, acrescentou Ângela Lemos, o programa desta academia inclui “vários momentos de workshop ou formação nestas áreas”.
Para além das atividades realizadas e das amizades criadas, esta é também uma oportunidade para “conhecer a oferta formativa muito vasta do IPS”, realçou a vice-presidente. Para além das diferentes áreas de estudo (que vão da Saúde à Educação, passando pela Tecnologia e pelas Ciências Empresariais), existem ainda opções formativas adequadas aos vários perfis de estudantes à saída do Ensino Secundário: dos Cursos Técnicos Superiores Profissioais aos cursos de licenciatura.
Em comum, os cursos ministrados pelo Politécnico de Setúbal distinguem-se por “ser virados para a prática, com relações próximas com as empresas, as indústrias e as instituições sociais”, destaca Ângela Lemos. As atividades da semana vão também contar com o apoio de estudantes de cursos das diferentes áreas do IPS, acrescentou, reforçando: “Aproveitem para nos conhecer”.
My Startup Week
Ainda durante a sessão de acolhimento, que serviu como abertura desta semana de atividades, foi lançada a iniciativa “My Startup Life”: ao longo dos cinco dias, os participantes são desafiados a registar os melhores momentos da sua semana, editando um vídeo por equipa em que, para além do tempo máximo de três minutos, “o único limite é a imaginação”.
O subdiretor da Escola Superior de Educação do IPS, João Pires, destacou como esta inicativa serve para criar uma memória personalizada: “Mostrem o que mais vos dará prazer esta semana”. Um dos desafios, realçou, passará por equilibrar os registos informativo e artístico, uma vez que “um bom documentário é um documentário criativo”.
João Pires partilhou, depois, algumas orientações relativas às principais técnicas a utilizar durante a semana: a orientação de gravação (horizontal e não vertical), o equilíbrio entre a utilização de vídeo ou fotografia ou o cuidado com os pormenores técnicos foram algumas das questões abordadas.
Quebrar o gelo
No pavilhão da ESE, as músicas sucedem-se e trazem ambientes diferentes a cada mudança. À guitarra de Carlos Paredes, segue-se uma batida de Hip-Hop. Pelo meio, há Bossa Nova. O desafio colocado aos participantes é acompanhar livremente as diferentes sonoridades, corporizando a sua relação com a música.
O momento inseriu-se na primeira atividade do programa da IPStartupWeek – um “Quebra-Gelo” na Escola Superior de Educação. De acordo com o docente desta escola, Filipe Fialho, a escolha não foi inocente: “A ideia é que, com atividades muito descontraídas, sobretudo expressivas e utilizando o contacto, se possam quebrar barreiras naturais presentes entre pessoas que acabaram de se conhecer”.
Por essa razão, este momento de interação poderá ter impacto no resto da semana, acredita o docente, uma vez que os participantes se tornam “mais capazes de crescer e de contribuir para o crescimento do outro”. “Queremos criar um espaço de partilha”, reforçou.
Para o docente do departamenteo de artes da ESE, esta é também uma forma de conhecer o trabalho realizado nesta escola. Ao “utilizar linguagens artísticas como a dança ou a música”, é possível conhecer atividades que fazem parte de unidades curriculares de diferentes cursos da ESE, explica: “são atividades que estão incluídas nas primeiras abordagens, ao nível da Educação Artística”.
À conversa com empreendedores
O final de tarde foi passado à sombra do icónico sobreiro que ocupa um dos espaços centrais da Escola Superior de Educação, durante uma conversa com três empreendedores ligados à IPStartup – a incubadora de empresas e ideias de negócio do Politécnico de Setúbal. Durante cerca de uma hora e meia, numa dinâmica de Q & A (Perguntas e Respostas), a conversa passou pela partilha de experiências sobre os desafios e as oportunidades da atividade empreendedora.
Para a colabodora da IPStartup, Elis Ossmane, o principal objetivo passou por “mostrar que é possível empreender, desde cedo”, independentemente de existir um fim empresarial. Cada vez mais, acredita, “é necessário que as pessoas tenham iniciativa e isso deve ser trabalhado”, independemente de se vir a criar uma empresa.
Através do contacto com os casos específicos incubados na IPStartup, foi também possível aos participantes conhecer as várias fases do processo empreendedor. Um processo que é aplicado às mais diferentes áreas, explica Elis Ossmane: “Por exemplo, hoje, tivemos aqui projetos das áreas de biotecnologia, tecnologias de informação e da gestão”.
Os estudantes, acrescenta, mostraram-se “participativos e interessados”. Sobretudo, realça, evidenciaram uma possível necessidade. “Muitos destes estudantes referiram que não existe este tipo de iniciativas ou abordagem ao empreendedorismo nas suas escolas”.
À descoberta do campus
Para depois de jantar, estava reservado um peddy-paper no Politécnico de Setúbal, organizado pela Associação Académica deste instituto. A presidente da AAIPS, Inês Silva, explica que o objetivo passa por “levar os participantes a conhecer o campus, as suas escolas e também os seus detalhes”.
Enquanto associação académica, a AAIPS “consegue representar cada estudante e, em conjunto com os núcleos de curso, chegar verdadeiramente às suas necessidades”, explica. Uma missão que é especialmente relevante face ao contexto, acredita Inês Silva: “A nível nacional, a Ação Social já há muito tempo que não consegue dar resposta a todas as necessidades [dos estudantes]”. Nesse sentido, a presidente destaca o papel de serviços como o apoio à alimentação, à compra do traje ou o acesso a bicicletas.
Outra dos focos de ação desta associação faz-se através de estruturas como o bar ou as reprografias, que “permitem praticar preços mais acessíveis”. No final do peddy-paper, houve ainda tempo para um momento de convívio que pretendeu trazer um pouco do espírito académico a este final de tarde. “Este momento transporta o ambiente que vivemos, por exemplo, numa festa académica, permitindo conehcer essa vertente da nossa ação”, conclui Inês Silva.
É durante este momento que Bernardo Monteiro nos conta que considerou o dia “espetacular”. “O quebra-gelo foi importante, sentiu-se logo uma grande diferença”, explica, antes de realçar ter cumprido um dos seus objetivos: “tive a oportunidade de falar com um dos empreendedores, para tirar algumas dúvidas sobre a venda de produtos online”.
A IPStartupWeek continua amanhã com atividades na Escola Superior de Tecnologia do Barreiro. O desafio será coletivo e passará pela construção... de pontes de esparguete.