Teve lugar ontem, quinta-feira, dia 9, a sessão online promovida pela Forum Estudante e pelo Relational LAB que abordava Saúde Psicológica e Bem-Estar na Escola. A sessão, realizada via Zoom, foi coordenada pela psicóloga clínica e professora universitária, Margarida Gaspar de Matos e contou com a moderação do Coordenador-Geral do Relational Lab, Rui Marques.

Rui Marques deu as boas-vindas à sessão e aproveitou para apresentar o Relational Lab e a sua equipa, que também se encontrava presente. No programa estava a apresentação de dois estudos, realizados em 2022 e em 2024, sobre a Saúde Psicológica e Bem-Estar na Escola, seguindo-se uma breve discussão sobre as temáticas em discussão.

“O Relational Lab está focado em promover qualidade relacional a diferentes níveis (interpessoal, organizacional e comunitário), num tempo marcado por deficits relacionais”, começou por explicar o Coordenador-Geral. “Além de projetos de educação relacional que temos estado a desenvolver em diferentes pontos do país, temos também olhado para as áreas da saúde, da administração pública, das cidades e territórios, do digital e trazer este enorme desafio da qualidade relacional como resposta a este inverno relacional”, concluiu, antes de agradecer a presença de Margarida Gaspar de Matos.

Coordenadora do Observatório da Saúde Psicológica e do Bem Estar (OSPBE), Margarida Gaspar de Matos começou por explicar o seu trabalho "sempre temos ligado a questão da investigação com a prevenção, intervenção clínica e educativa". "Tentamos agarrar nas coisas que fazemos e que construímos para pressionar as políticas públicas para bem do país”, continuou. 

O que os estudos mostram

O estudo Saúde Psicológica e Bem-Estar, do OSPBE, de 2022, que tinha como objetivo recolher e monitorizar indicadores de saúde psicológica e bem-estar nas escolas portuguesas após a COVID-19, recolheu dados de 27 agrupamentos de escolas e contou com a participação de mais de 8 mil alunos, da pré-escola ao 12º ano. Algumas descobertas mostraram que 1/3 dos alunos apresentavam mal-estar psicológico (sintomas como irritabilidade ou tristeza); o género feminino apresentava maior vulnerabilidade psicológica, com a idade revelava-se um agravamento da saúde psicológica e bem-estar; dois picos de agravamento de diversos indicadores de saúde psicológica nos anos de transição (2º e 8º ano de escolaridade).

A perceção de qualidade de vida diminui do 5º para o 12º ano e os sintomas aumentam do 5º para o 12º ano. Questões mais patológicas como o stress, a ansiedade e a depressão também aumentam do 7º até ao 12º ano, esclarece Margarida Gaspar Matos. 

Quando feito o mesmo inquérito aos professores, metade destes apresentava mau-estar psicológico. Mais idade, mais anos de serviço e género feminino também estavam associados a menor saúde psicológica e bem-estar.

Na discussão, recomendou o E-book: “Saúde Psicológica e Bem-Estar: monitorização e ação”, que reforça a importância da atividade física, do sono e da gestão do tempo de ecrã para a saúde psicológica. Identificou ainda que 1 em cada 5 adolescentes estavam em risco de depressão, sendo três vezes maior o risco no género feminino.

A professora universitária e psicóloga clínica, apresentou então características a ser promovidas para não haver mal estar psicológico, tais como a conexão (relação interpessoal), confiança e a competência. Se estas características forem promovidas, o mal estar diminui a depressão, a ansiedade e o stress, o mesmo se fizermos este exercício com a satisfação com a vida.

Referiu ainda a criação por parte do OSPBE de uma plataforma de boas práticas promotoras de saúde psicológica e bem estar que coloca os professores em ligação uns com os outros. 

Os resultados mais recentes

O segundo estudo, feito já em 2024-2025, com uma amostra de cerca de 6 mil alunos  apresentava 1/4 dos alunos com mal-estar psicológico (número melhorou comparativamente ao estudo anterior), o género feminino voltava a apresentar maior vulnerabilidade, havendo um agravamento da saúde psicológica e bem estar com a idade, com recuperação no 12º ano. As exceções são o bullying e a ansiedade nos testes.

Margarida Gaspar Matos revela também que o número de professores que apresenta mau estar psicológico, de uma amostra de 380,  se mantém em metade, mas nota falta adesão de direções, psicólogos, assistentes operacionais e encarregados de educação à resposta ao inquérito.

Os problemas apresentados pelos alunos estão relacionados com a ansiedade nos testes; a gestão do uso dos ecrãs; o  sono e a exaustão; e a saúde psicológica no género feminino. O que pode ajudar a combater estas problemáticas são fatores como a sensação de pertença à escola; a confiança (relação com pares, professores, escola); a segurança; e a participação.

A coordenadora do OSPBE afirma que a conexão é dos fatores mais importantes da satisfação com a vida e de haver menos sofrimento psicológico.

Este capítulo da apresentação foi concluído com a apresentação dos 12 pilares do autocuidado, sendo alguns deles a prática do exercício físico, grupo social de apoio (família, amigos, etc), cultura de não violência nas relações, entre outros.

Houve tempo ainda para uma pequena conversa sobre os temas discutidos, com o coordenador-geral do Relational Lab Rui Marques a moderar o espaço de discussão.