A conversa a meio da tarde começa descontraída: dois dos membros da banda, Domingos Coimbra (DC) e Tomás Wallenstein (TW) descrevem o caminho que os trouxe até este álbum. Contam como a música falou sempre mais alto, apesar de manterem um percurso académico paralelo. Fala-se ainda da responsabilidade que é fazer música a um nível profissional, do documentário que está prestes a sair e até do vilão de James Bond, Scaramanga.
De onde surgem os Capitão Fausto? Contem-nos um pouco do início da vossa história.
DC – Aparecem como qualquer outra banda, entre 2009/2010 reuniu-se um grupo de amigos, e começou-se a tocar.
TW – Ensaiávamos a maior parte das vezes na cave do Domingos, até há pouco tempo em que mudámos. Utilizávamos o meu carro para ter ideias, ouvir coisas que estávamos a gravar e pensar um bocadinho no que íamos fazer. Mas isso era mesmo muito no início.
Entretanto mudaram o local de ensaio?
DC- Exatamente. Há cerca de um ano e meio, mudámos para um estúdio em Alvalade, que desde então tem sido quase a nossa segunda casa.
Existe algum motivo especial para o nome Capitão Fausto?
TW - Gostamos tão pouco de responder a essa pergunta, que durante os primeiros anos inventávamos sempre uma resposta diferente (risos). Hoje em dia já não mandamos tantas "tangas", como no início, mas ficamos sempre um bocado atrapalhados a responder a essa pergunta.
DC- Na verdade não há mesmo razão nenhuma específica para o nome. Foi um nome que ficou.
E influências que vos tenham levado à música?
DC- Eu comecei a tocar por causa de um primo meu que tinha um baixo, quando eu era muito novo. Eu conhecia muito pouco de música, porque quase ninguém na minha família tinha tocado, tirando esse meu primo. Um dia cheguei às aulas de música no colégio e o professor perguntou-me "Que instrumento queres tocar?", e eu respondi "baixo" sem ter noção à altura do que era um baixo. Foi a única razão que me levou para a música e a partir daí, achei graça e continuei.
TW- Eu sou o caso oposto. Estudo música desde pequeno porque os meus pais são músicos. Sempre tive esta relação próxima com o meio, apesar de que a música pop foi uma descoberta que fiz relativamente tarde. Acaba por ser o processo inverso. O meu pai formou-se em música, estudou jazz e clássico. Eu comecei pelo clássico, por influência dele.
A par da música nunca desistiram de um percurso académico? Foi difícil manter este equilíbrio?
TW- Eu sou licenciado em Arquitetura. Nós tentámos que fosse um processo sempre mais ou menos equilibrado. Mas em termos gerais a música acabava por contar sempre mais. Mas houve momentos em que tivemos de dar prioridade aos estudos.
DC- Houve alturas em que teve mesmo de ser. E acabei por terminar a licenciatura em Ciência Política e Relações Internacionais.
Este é um álbum mais maduro? É a vossa despedida a uma determinada fase da vossa juventude?
TW- Eu acho que tem mais a ver com o facto de uma pessoa prever a chegada de um determinado momento. Não é muito mais do que um clássico pânico da passagem do tempo, um fado da passagem do tempo, que é inevitável. Todos nós temos boas recordações, o que nos leva a pensar um pouco sobre o nosso percurso, onde começou e como se foi desenvolvendo. É importante lembrar com alegria os anos que foram passando.
Qual é a maior diferença deste álbum para os outros?
DC – Este disco serve como "fim", para as pessoas que pensaram que nós somos uma banda que faz sempre coisas muito parecidas, mas nós fazemos aquilo que nos apetece. Há uma ideia de continuidade, mas não é uma continuidade necessariamente ligada a uma estética. Não penso que este álbum entre em rutura com os outros. Tenho lido que este álbum parece uma total desconstrução do que eram as nossas outras músicas, mas eu não o considero assim. É só uma fase diferente, em que a banda sentiu a necessidade de fazer as coisas de determinada forma.
Como consideram a música hoje? Continua a ser a vossa paixão, o vosso escape?
DC – Sim, mas hoje em dia é um pouco mais. O próprio disco fala disso, antes se eu não estivesse na faculdade, ou não tivesse um teste podia ir tocar, neste momento temos de fazer música, ponto final. Claro que continua a ser um escape, mas a música enquanto escapismo não tem que ser apenas uma coisa a que recorremos em altura de necessidade. Há também uma responsabilidade ligada à música que nós fazemos e, é interessante encontrar um equilíbrio, o estar confortável com isso.
TW – A grande diferença é que nós hoje em dia não temos de criar circunstâncias para fazer música. São mais as vezes que vamos fazer música, independentemente se queremos ou não fazê-la. Mas apetece-nos quase sempre. Quando não temos que tocar, agora já não nos apetece ir tocar, apetece ir fazer outras coisas. Ensaiamos cerca de três vezes por semana (e foi quase sempre assim), só que em vez de termos aulas a ocuparem-nos o resto do tempo, agora não temos, portanto vou para a praia (risos).
Existe algum episódio engraçado sobre este último disco que nos possam contar?
DC – Há uma coisa sobre a qual posso falar, que conta com vários episódios engraçados. Nós vamos agora lançar um documentário com o Ricardo Oliveira. Ele acompanhou-nos durante o último ano, mais ou menos o tempo em que o disco demorou a ser feito. Acompanhou-nos em todos os processos e basicamente filmou tudo. Neste momento ele está a fazer a montagem, e em breve vai sair um documentário sobre "Capitão Fausto Têm os Dias Contados". Já vi algumas versões e tenho a certeza de que há bons momentos.
Existe alguma coisa que querem que as pessoas saibam sobre a banda? Algo que fique sempre por dizer?
DC: Na verdade aquilo que queremos que as pessoas saibam sobre nós, mais do que qualquer outra coisa é a música que nós fazemos. Mas se eu tivesse que falar um bocadinho sobre o que as pessoas não sabem sobre nós, em vez de falar sobre a banda, eu falava das pessoas que estão sempre connosco. Existem pessoas a quem temos de agradecer, pela ajuda que nos têm dado. Por exemplo o Diogo Rodrigues, que é com quem partilhamos a sala em Alvalade e que anda sempre connosco na estrada, bem como ao António Branco, o nosso manager. O Nuno Roque que nos grava os discos, o Ricardo Oliveira, pelo documentário, e a Sony que está a editar o nosso disco. A música é da nossa responsabilidade, mas estas pessoas que nos rodeiam acabam por ajudar imenso em "fazer as coisas acontecer".
Como têm corrido os concertos? O público já conhece as vossas músicas?
DC – Surpreendentemente sim. Fiquei impressionado, não estava à espera. No Porto, como o disco tinha saído no dia anterior, já havia muita gente a cantar, mas não com "aquela garra" que houve no "Lux". Houve alguns momentos em que as músicas novas, que são mais calminhas até, tiveram mais barulho e mais entusiasmo do que as antigas. Isso é bom sinal e sobretudo sabe bem. Acho que "Dias Contados" é a música que eu tenho sentido que tem mais impacto e "Amanhã Tou Melhor".
E "Alvalade Chama por Mim"?
DC – Existe uma coisa engraçada sobre essa música, o título inicial chamava-se "Scaramanga", como o vilão do James Bond. Isto aconteceu porque quando gravámos o disco tínhamos a coleção inteira dos filmes e estávamos sempre a tentar dar esse nome a uma música. Depois alterámos porque era um nome de trabalho, a única que ficou com o título original, foi uma que eu sempre gostei muito, a "Corazón".
Qual é o próximo passo?
TW – Fazer outro álbum. Primeiro vamos aproveitar para descansar, porque o processo foi todo acelerado, tudo a acontecer em cima da hora. Ainda temos muitas datas marcadas para concertos, mas agora podemos descomprimir um pouco.
DC – Eventualmente tiramos umas férias. O nosso problema é que quando tiramos umas férias, normalmente aproveitamos para fazer músicas.
Domingos Coimbra e Tomás Wallenstein (foto: Melissa Fernandes)
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