Quando os teus artistas preferidos entram em palco têm por trás, desde logo, uma banda de músicos instrumentistas. No fundo da sala, normalmente, encontras técnicos de som que ajustam o som às características do espaço e do equipamento. No backstage, um conjunto de roadies ou stagehands fazem os trabalhos necessários, enquanto o produtor ou produtora garantem a coordenação e cumprimento das tarefas.

As profissões incluídas no mundo dos eventos e espetáculo são muitas e variadas. E não dizem respeito apenas ao mundo da música. Quando se levanta a cortina numa peça de teatro, para além dos atores que vemos a contracenar, existe também um encenador, uma equipa de luz e de som, maquilhadores, responsáveis pelos figurinos (roupas) e uma equipa de sala. Mesmo quando o palco apenas é ocupado por um comediante de stand-up comedy, sozinho com o seu microfone, existe uma equipa que o apoia e permite fazer o seu trabalho.

 


Tiago Cação instagram
No dia 26 de setembro, o tour manager de António Zambujo, Tiago Cação, iniciou uma viagem de bicicleta que foi do quilómetro 0 (Chaves) ao quilómetro 738 (Faro) da Estrada Nacional 2. O objetivo passou por angariar fundos para a União Audiovisual, sendo que o percurso foi realizado em cerca de 48 horas.

 

A pandemia do novo coronavírus representou um desafio adicional para estes profissionais. A 19 de março de 2020, o início do estado de emergência resultante da pandemia da Covid-19 levou a que fossem cancelados todos os eventos e espetáculos. O resultado é que centenas de profissionais desta área ficaram sem poder trabalhar.

Ao mesmo tempo que milhares de alunos e estudantes eram enviados para casa, para passarem a estudar em “telescola” e a distância, os profissionais de eventos e espetáculos viam as suas agendas serem esvaziadas. Para chamar a atenção para esta questão, foi realizado um protesto na Praça do Comércio, em Lisboa, no 11 de agosto de 2020 (foto em destaque).

 

 
 
 
 
 
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Domingo, 4 de Outubro

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Estamos a falar de profissionais altamente especializados, a maioria com formação superior, com investimento próprio elevado”, explica-nos Suse Ribeiro, produtora musical e co-fundadora do grupo União Audiovisual, que procura ajudar estes profissionais. “São profissionais freelancers que, para se aguentarem como freelancers, são extremamente competentes e reconhecidos profissionalmente. Não são pessoas dependentes de subsídios, mas a verdade é que, de repente, não há trabalho”, acrescenta.

Foi depois de se aperceber que havia muitos colegas a passar dificuldades, que um grupo informal de técnicos do audiovisual e do espetáculo decidiu criar a União Audiovisual, a 11 de abril. Desde então, o grupo marca pontos de recolha de bens alimentares, higiene pessoal e limpeza, e distribui por quem tem necessidades a estes níveis, ajudando cerca de 1 500 pessoas por mês.




Como ajudar?
Para ajudar a União Audiovisual a auxiliar os trabalhadores das áreas do espetáculo, as melhores plataformas são o grupo de Facebook e o site da União Audiovisual. É lá que são divulgados todos os pontos de recolha de donativos (bens alimentares, de higiene pessoal e de limpeza). A coordenação do grupo organiza depois vários cabazes, que são entregues por voluntários a quem mais precisa.


 


O grupo só existe para receber e entregar estes bens a quem trabalha nesta área e ficou sem trabalho por casa da pandemia”, descreve Suse Ribeiro. O grupo de voluntários já soma mais de 9 000 membros no Facebook, mas a produtora musical afirma que “quanto mais cedo o grupo terminar, melhor, porque é sinal de que as pessoas já não precisam de ajuda a este nível, porque já há trabalho”.

 

Uma tarefa difícil

Ao longo dos cerca de cinco meses de existência, a União Audiovisual já contou com o apoio de algumas personalidades, que se juntaram a este movimento e que contribuíram para ajudar profissionais necessitados. O guarda-redes Rui Patrício é um desses casos, tendo feito uma doação particularmente generosa. Também o comediante António Raminhos colabora regularmente com a União Audiovisual, não só com doações, mas também com divulgação da rede de entreajuda.

Segundo Suse Ribeiro, “tem sido mais difícil, nos últimos tempos, conseguir doações”, por se sentir que o desconfinamento tirou atenção e tempo a quem antes ajudava. A retoma da atividade na área dos espetáculos e do audiovisual, não é ainda suficiente, conta. “As iniciativas que têm acontecido são muito pontuais, não são verdadeiramente criadoras de trabalho para estes trabalhadores. É uma gota no oceano.” Consequentemente, tem havido mais pedidos de ajuda, revela Suse Ribeiro: “[Essas] pessoas esgotaram o seu ‘pé-de-meia’ e outras ajudas e agora passam mais dificuldades”.