No espaço público, muitos performers ou buskers encontram uma oportunidade para expor a sua arte. São sobretudo os grandes centros urbanos, como é o caso de Lisboa e do Porto, que acolhem estes novos talentos. Certamente que nos teus passeios já te cruzaste com algum busker, seja a cantar um cover da tua música favorita ou até mesmo a praticar os melhores passos de dança.  

O que move estes artistas é a paixão pela sua arte, testando novas performances, de forma a perceber como são recebidas pelo público. Muitos fazem-se acompanhar de instrumentos musicais ou outros utensílios auxiliares. Outros optam pela simplicidade das suas próprias vozes ou até dos seus próprios corpos, quer para dar um pezinho de dança ou, por exemplo, para se transformarem numa verdadeira estátua humana. 

Tiago Francisquinho, conhecido pelo público como Cano Guru, tem 37 anos e já conta com uma vasta experiência enquanto busker. É ativamente músico, produtor musical e compositor, sendo que atualmente toca didgeridoo pelas ruas de Portugal e da Europa. A oportunidade de estudar vários tipos de música e arte em geral, com foco na engenharia de som, culminaram na sua paixão pelo busking. “Eu sou busker ativo”, conta Tiago.  

 

 

Este também é o caso de António Bento, um músico e busker de 31 anos, que começou a apostar na arte de rua há cerca de três anos. O músico explica à FORUM que estudou música, em particular o violoncelo, tendo realizado uma licenciatura, mestrado e pós-graduação. Durante alguns anos, dedicou-se ao ensino e a tocar em orquestras. Contudo, acabou por procurar outras oportunidades. “Foi aí que surgiu a rua”, conta o artista. 

António começou por tocar violoncelo, sendo que sua arte hoje consiste em realizar performances com frutas e legumes. "Aos poucos fui fazendo experiências, até encontrar esta tecnologia que me permite fazer músicas com um pouco de tudo”, conta, explicando que pode atribuir “qualquer som a qualquer legume”. Ao optar por utilizar frutas e legumes, a curiosidade do público cresceu, o que lhe permitiu explorar a sua arte numa “variante relacionada com a alimentação saudável”, por exemplo, ao “fazer workshops em escolas”.

 

 

No caso de Tiago, o primeiro passo foi motivado pelas “amizades e o contacto com pessoas novas” que entraram na sua vida quando chegou à faculdade em Lisboa. A partir de então, começou a aprender e a tocar didgeridoo mais regularmente. “Depois de já ter algum tipo de condução no instrumento, fui sentar-me na Rua Augusta pela primeira vez”, conta. Ao aperceber-se que esta arte era, de facto, algo que gostava de fazer, tocar na rua rapidamente se tornou um hábito: “Estava sempre a tocar em todo o lado”. 

Olhos postos nos buskers

Seja a cantar, tocar, a dançar ou até a improvisar truques de magia, são várias as perfomance de buskers oberserváveis nas ruas de Portugal. E se há dias em que as ruas estão mais vazias ou em que as pessoas caminham com pressa, existem também outros dias em que os olhares e um esboçar de um sorriso são, muitas vezes, a melhor recompensa. 

António Bento destaca a surpresa das pessoas quando se cruzam com a sua arte pelas ruas do Porto: “Umas incrédulas, surpreendidas… Há quem não acredite que eu estou de facto a fazer música com os legumes, pensam que é playback. Mas é sempre mágico para mim”


 Busking - O que é? 

 Este conceito traduz-se como performance artística de rua, ou seja, todas as demonstrações de diferentes tipos de arte em locais públicos, nomeadamente através da música, dança ou das artes circenses, entre outros.


Tiago Francisquinho considera que tem um acolhimento positivo por parte do público. É certo que a arte de rua pode ser vista como "uma forma de praticares constantemente", conta Tiago, além de que oferece a possibilidade “de surpreender as pessoas que passam", na perspetiva de António. O busking é por isso uma mais-valia para os espaços públicos, sendo que, nestes espetáculos, também se estimula a interação social. “As pessoas acabam também por se conhecerem umas às outras”, conta Tiago. 

A rua, um palco promissor mas exigente

Apesar de abrir portas para novas oportunidades, as ruas podem ser desafiantes para qualquer artista. É esta a perspetiva de António Bento e Tiago Francisquinho, que sentem na pele a dificuldade de fazer rua em Portugal. “Quando eu vou para a rua, não estou propriamente a pensar que é dali que vou sair para um grande palco. Na realidade, eu acho que aquilo já é o tipo de palco mais difícil de todos, porque tudo depende só de ti”, conta Tiago. 

O mesmo acontece com António, para quem a rua “é “uma grande lição de vida”. O contacto com “todo o tipo de pessoas”, segundo o artista, pode nem sempre ser favorável, já que existem pessoas “que gostam do teu trabalho, outras a quem o trabalho é indiferente e outras que, por algum motivo, te detestam”. Além disso, as condições meteorológicas podem impedir o trabalho destes artistas, a par de todo o material que muitos trazem consigo para atuar: “eu carrego muito material, é muito exigente!”, conta Tiago. 

 

 

No entanto, apesar destes desafios constantes, é da rua que saem novas propostas e oportunidades para os buskers. António explica que as ruas lhe trouxeram experiência e divulgação necessária para receber pedidos de trabalho na área da música, enquanto Tiago explica que o busking lhe permitiu tocar em vários palcos e países. O que mudou realmente a minha vida foi tocar na rua”, conclui.