Ao longo das décadas, a lista de sucessos da Capcom tem vindo a acumular novas entradas. Para além da série Resident Evil, este grupo conta com nomes como Street Fighter, Devil May Cry ou Monster Hunter. Algures neste catálogo, encontramos um nome que para muitos poderá ser surpreendente – falamos de Dragon’s Dogma, lançado em 2012.

O sucesso deste RPGs de fantasia medieval foi tão inesperado que surpreendeu a própria Capcom. Cerca de um ano depois do lançamento, a empresa japonesa revelou ter vendido mais do que um milhão de cópias do jogo, um número que considerou “acima das expectativas” e que sinalizava um crescimento “sem precedentes” para um título original. 

Desde então, Dragon’s Dogma viu estes números aumentar significativamente. Em setembro de 2023, o total de vendas rondava os 8 milhões de cópias. Estes valores não colocam o jogo perto do topo da lista de maiores sucessos de vendas da Capcom. A série Resident Evil, por exemplo, já vendeu mais de 150 milhões de unidade em todo, aproximando-se do topo das sagas mais vendidas de sempre (ver destaque). Contudo, este crescimento é ilustrativo da popularidade que Dragon’s Dogma ganhou, entretanto, estatuto de culto. 

 

Um jogo “deliciosamente estranho”

Mas, afinal, o que torna especial Dragon’s Dogma? De acordo com o The Guardian, o jogo distingue-se por ser “deliciosamente estranho”. “Este é um dos segredos mais bem guardados do gaming, escreve o diário britânico, destacando a forma como consegue ultrapassar as primeiras expectativas que podem dar a entender tratar-se de “uma fantasia bastante genérica”

Bastará resumir o enredo para compreender essa possível expectativa. Em Dragon’s Dogma o jogador controla um herói ou heroína (apelidado de Arisen) que, depois de ver a sua aldeia destruída por um dragão, descobre ter como destino salvar o mundo, desvendando, pelo caminho, segredos e conspirações sobre o mundo que o rodeia. “Este é terreno familiar para jogos de fantasia”, escrevia a Vice, em 2019. 

Contudo, acrescenta a publicação norte-americana, “à medida que jogador avança, este enredo genérico de fantasia torna-se um conto sobre a claustrofobia do destino”. Também o diretor do jogo, Hideaki Itsuno, considera que a ligação entre ação e sentido está na base do que torna este jogo especial. “Penso que o jogo se destaca por ser mais do que um jogo em que se salva um mundo infestado de monstros – o jogador muda os destinos das pessoas que o habitam”, explicou ao The Guardian. 

Para além da história e dos temas explorados, Dragon’s Dogma inovou também na sua mecânica de jogo, incorporando elementos como um elaborado sistema de companheiros geridos por Inteligência Artificial ou a possibilidade de escalar inimigos gigantescos em combate. Dragon’s Dogma é construído a partir de pequenos elementos inspirados em outros títulos, que mistura de forma inovadora”, destacava a Forbes, em 2012.

 

 

O regresso de Arisen

É neste contexto que, cerca de 12 anos depois, a Capcom apostou no lançamento de uma sequela, com a publicação de Dragon’s Dogma 2 durante o mês de março. O jogo marca também o regresso do estúdio japonês ao género de RPGs de fantasia em mundo aberto. 

Em declarações à IGN, o diretor do jogo Hideaki Itsuno revelou que a sequela “se passa num mundo paralelo que inclui partes similares [ao jogo original] mas ainda assim diferentes”. O enredo inclui uma luta entre duas nações e o correspondente choque entre culturas e filosofias, bem como uma nova disputa com um inevitável dragão. O tamanho do mapa da sequela é cerca de quatro vezes maior do que o do jogo original. 

Uma das principais inovações está na inclusão de novas classes (ou “vocações”) que o jogador poderá escolher no momento de criar uma personagem. Originalmente, Dragon’s Dogma incluía 9 classes – criadas a partir da combinação de elementos de força, magia e destreza. O novo título torna este sistema mais complexo, com combinações realizadas a partir de quatro “vocações básicas”: arqueiro, lutador, mago e ladrão. 

Outro dos elementos destacados por Itsuno é a ausência de um sistema de fast travel que permita aos jogadores cruzar o mapa instantaneamente. “Viajar num jogo é entediante? Isso não é verdade. Só é um problema se o teu jogo for entediante”, explicou o criador, antes de acrescentar: “Só precisas de fazer com que viajar seja divertido”.