Este verão, a companhia estreará, na Quinta da Ribafria, em Sintra, “O Deus das Moscas”, produzido pelo teatromosca e promovido pela Fundação Cultursintra, uma adaptação do romance homónimo de William Golding, com encenação de Pedro Alves e banda sonora original composta por Noiserv.
Inserido num ciclo em que este coletivo teatral se empenha em questionar conceitos como “identidade”, “juventude” e “maioridade”, o trabalho com estes 13 jovens (atrizes, produtores, técnicos etc.) passa tanto pela criação de um espetáculo de teatro que fará carreira entre 5 de julho e 31 de agosto, às sextas e sábados, às 21.30h, como pela formação dos jovens em diferentes áreas relacionadas com as artes performativas, ao mesmo tempo que, na sala de ensaios, são dinamizadas sessões de reflexão com toda a equipa (profissional e não profissional), procurando discutir temas que, de algum modo, poderão estar relacionados com o texto e que deverão, igualmente, vir a enformar o espetáculo.
Deste modo, serão debatidas questões prementes como a ascensão de regimes totalitários, o conceito de maioridade e a perda da inocência, as visões conflituantes que poderão opor a civilização à selvajaria, a ordem e a lei à anarquia e ao caos, ou que, numa posição mais ampla, tenderiam a opor o bem ao mal. Em “O Deus das Moscas”, há um avião que se despenha numa ilha paradisíaca. Há um grupo de rapazes de colégios britânicos que sobrevive a esse acidente, quando fugia de uma (qualquer) guerra. Longe da supervisão dos adultos, começam por festejar, brincar, nadar nas águas cristalinas do ilhéu. É nesse ambiente exo?tico, luxuriante e tropical, conscientemente selvagem e sufocante, que o grupo procurará criar bases para a edificação de uma nova sociedade. À medida que os dias vão passando, sem sinais do mundo exterior, sem salvamento à vista, à medida que o frágil sentido de ordem começa a ruir, os jovens tornar-se-ão tribais e, depois de o corpo de um piloto cair de paraquedas na ilha, as suas inquietações ganharão contornos sinistros e bárbaros. O mundo paradisíaco das brincadeiras, dos livros de aventuras, acabará por dar lugar a um cenário assustador, a puerilidade dissolver-se-á na água do mar e os medos irão correr à solta, embrenhando-se na densa floresta tropical.
Publicado em 1954, “O Deus das Moscas” é um dos romances essenciais da literatura mundial e pode ser visto como uma alegoria, uma parábola, um tratado político ou até mesmo uma visão apocalíptica da fragilidade humana.