Quando falamos de Cem Anos de Solidão, falamos de uma obra muito pessoal para Gabriel Garcia Márquez. Tendo por inspiração a casa dos avós onde cresceu, o escritor colombiano escreveu todos os dias durante 18 meses e vendeu o carro da família, entre outros esforços, só para conseguir focar-se nesta obra e finalmente lançá-la em 1967.
Passados 14 anos, em 1981, a obra ganhou a sua primeira adaptação para cinema, dirigida pelo realizador japonês Shuji Terayama. Uma longa-metragem que não convenceu Garcia Márquez, que não permitiu que esta usasse o título do livro no seu lançamento para as salas de cinema.
Agora, 43 anos depois, a 11 de dezembro, estreia na plataforma de streaming Netflix a primeira parte de uma série de 16 episódios. Cem Anos de Solidão vai trazer-nos pela primeira vez ao pequeno ecrã um mundo que Gabriel Garcia Márquez – ou Gabo como alguns o conheciam – achava não poder ser adaptado para outros meios, preferindo que fossem os leitores a imaginar as personagens.
A história do romance acompanha a história da família Buendía ao longo de sete gerações na vila fictícia de Macondo, que se inspira em Aracataca, vila colombiana onde Gabriel Garcia Márquez cresceu. De acordo com a sinopse oficial da série, esta mostra os Buendía enquanto tentam lidar “com o amor, o esquecimento e a inevitabilidade do passado… e do destino”.
Adaptar o realismo mágico
Em 2021, a Disney lançou o filme animado Encanto, nome da vila onde habita a mágica família Madrigal e a protagonista Mirabel. A longa-metragem foi buscar inspiração à cultura colombiana, bem como às obras e ao realismo mágico de escritores sul-americanos como Gabriel Garcia Márquez e Isabel Allende. Este é um género artístico caracterizado pela incorporação de elementos sobrenaturais na vida quotidiana, um estilo que segundo o site norte-americano CBR é “distintivamente latino-americano”.
Muitos colombianos esperam que esta seja uma adaptação fiel do clássico literário escrito por Gabo nos anos 60, mas Alex García López, que dirigiu alguns dos episódios, avisou em entrevista à Vanity Fair que a série não seria “como Harry Potter onde a música aumenta e o brilho muda quando aparece um fantasma”.
Os filhos de Gabriel Garcia Márquez assumiram o papel de produtores executivos na série, tendo só uma exigência para a Netflix: que a série tivesse a duração necessária para contar a história. Quando o realizador García López recebeu o convite para realizar a série, disse aos responsáveis da empresa de streaming que tinha “de voltar a ler o livro e que depois respondia”, visto que esta era, nas suas palavras, uma tarefa e responsabilidade “assombrosa”.
“É um épico da literatura, não apenas criativamente, mas também no que significa culturalmente adaptar um livro tão grande e apreciado”, explicou à publicação norte-americana Vanity Fair Alex García Lopez
Sobre o livro Cem Anos de Solidão
Desde a sua publicação em 1967, Cem Anos de Solidão já foi traduzido para 46 línguas diferentes e vendeu mais de 50 milhões de cópias em todo o mundo. Considerada uma das obras literárias mais importantes de língua espanhola, a obra de Gabriel Garcia Márquez é aclamada pela crítica e é considerada uma das maiores conquistas da literatura mundial. Em 2022, o livro encontrava-se na lista de 100 clássicos que devem ser lidos, escolhida pelos leitores da editora norte-americana Penguin.
Os cenários, a equipa e os atores
A série colombiana vai ser produzida pela Dynamo, a mesma empresa de produção que ficou responsável pela realização da série Narcos para a Netflix. Depois dessa primeira parceria de sucesso, as duas empresas esperam repetir a fórmula com 100 Anos de Solidão. A equipa de produção conta com alguns nomeados e vencedores a Oscar nas suas fileiras, como Eugenio Caballero e Bárbara Énriquez. Os atores são maioritariamente colombianos e desconhecidos do grande público.
Filmada inteiramente na Colômbia, a vila fictícia de Macondo foi construída perto de Ibagué, nos Andes Colombianos, devido às semelhanças que o terreno partilha com a vila de Aracataca onde Gabriel Garcia Márquez cresceu. Descrito pela Vanity Fair, o cenário desenhado por Eugenio Caballero e Bárbara Enriquez mostra um povoamento com telhados de palha, para 20 famílias a transformar-se numa vila ao longo de sete gerações.
Com os direitos para a produção adquiridos em 2019, a Netflix considera este “um dos seus projetos mais ambiciosos até ao momento, adaptada pelos artistas mais talentosos da Colômbia e América Latina”. A primeira parte da série estreia a 11 de dezembro, com a segunda parte com data ainda por anunciar.