“Um verão sem nenhum super-herói”. Era desta forma que, em abril, Alyssa Rosenberg previa o verão de 2020, destacando como a pandemia da Covid-19 tinha forçado os estúdios a adiar o lançamento de alguns dos seus filmes teoricamente mais lucrativos. Foi esse o caso de Wonder Woman 1984, originalmente com estreia marcada para o verão de 2020, mas sucessivamente adiado. Outro exemplo é The Batman, entretanto reagendado para... março de 2022.

Tal como no universo cinemático da DC Comics, também a Marvel Studios se viu obrigada a adiar todas as datas da sua famosa “fase quatro” – até à chegada de Black Widow, em março de 2021, serão 22 meses sem nenhuma adição ao seu universo cinematográfico. O resultado é uma grande concentração de aparições de super-heróis, durante os 16 meses seguintes: Entre Marvel e DC, um total de 11 filmes de super-heróis têm estreia marcada para esse período.

 

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Todos estes adiamentos têm uma explicação simples – o impacto financeiro da pandemia da Covid-19 nas receitas de bilheteira. Estas receitas são o motor que alimenta uma indústria que se tem evidenciado especialmente lucrativa em anos recentes. O Fórum Económico Mundial calcula que, em todo o mundo, a venda de bilhetes de cinema tenha atingido um máximo histórico em 2019: 42 mil milhões de dólares.

 


«As dificuldades da indústria do cinema, em 2020, surgem na sequência de um ano muito lucrativo. O Forum Económico Mundial calcula que, em todo o mundo, a venda de bilhetes de cinema tenha atingido um máximo histórico em 2019: 42 mil milhões de dólares»


 

 

Grande parte do crescimento das receitas de bilheteira, ao longo das últimas décadas, deve-se ao crescimento do mercado chinês. Entre 2009 e 2019, a receita média de bilheteira estagnou na maioria dos restantes países (tendo mesmo diminuído em alguns mercados históricos, como a Índia), tendo a China aumentado esse valor em 860%. Durante 2020, os cinemas chineses estiveram fechados seis meses, o que explica, em parte, a estratégia de adiamento adotada até agora.

 

Luzes, câmara… Streaming

Em agosto, a Warner Bros realizou uma aposta diferente dos adiamentos anunciados até então: lançou o mais recente filme de Christopher Nolan nas salas de cinema norte-americanas. As receitas de bilheteira ficaram-se pelos 60 milhões de dólares nesse país – um valor que é bastante reduzido face aos 360 milhões angariados em todo o Mundo. “Tenet foi apresentado como o salvador das salas de cinema, como o filme que traria os cinemas de volta à vida. Em vez disso, tornou-se um prenúncio da desgraça”, concluía a Entertainment Weekly, em setembro.

 

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Agora, escreve o mesmo portal, seria a vez de Wonder Woman 1984: “Se há filme capaz de trazer de novo espectadores, será um filme de super-heróis”. Contudo, a Warner apostou numa estratégia diferente. Depois da estreia mundial nos cinemas, no dia 16 de dezembro, o filme vai estrear nos Estados Unidos a 25 de dezembro, sendo disponibilizado, no mesmo dia, numa plataforma de streaming. “Oferecemos aos fãs o poder de escolher entre ir ao cinema local ou ver a estreia no HBO Max”, explica o CEO do estúdio, Jason Kilar, num artigo publicado na plataforma Medium.

“É a primeira vez que vamos poder decidir exatamente onde e quando queremos ver um potencial blockbuster”, escreve Peter Kafka, no portal Vox, explicando que difere das várias estratégias adoptadas por outros estúdios, depois dos adiamentos. A Disney, por exemplo também utilizou uma plataforma de streaming para estrear Mulan, mas pedia o pagamento de 30 dólares adicionais.

 


«[…] estúdios como a Marvel enfrentam um grande dilema: “equilibrar a ação de aumentar a expectativa dos fãs e permitir que títulos como Black Widow ganhem teias de aranha” com consecutivos adiamentos»


 

A aposta é vista também como uma forma de diversificar a forma de chegada ao espectador, num contexto em que a indústria de filmes de super-heróis poderá sofrer um impacto especialmente forte. Isto tendo em conta que a produção deste tipo de filmes é especialmente cara – Wonder Woman 1984, por exemplo, custou 200 milhões de dólares, sem incluir verbas de promoção. Nesse sentido, conclui Ryan Gillbey, escrevendo no The Guardian, estúdios como a Marvel enfrentam um grande dilema: equilibrar a forma como fazem crescer a expectativa dos fãs, enquanto permitem que títulos como Black Widow sejam consecutivamente adiados.