De acordo com dados partilhados pela UNICEF, 1 em cada 3 jovens em 30 países afirmou ter sido vítima de ciberbullying. Em Portugal, os estudos mostram que a maioria dos casos não é denunciada e apenas 0,8% dos jovens admitem ser agressores.

Estes foram alguns dados partilhados durante a sessão de abertura do CIS Digital Camp, no auditório do Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL), em Lisboa. Durante a sessão, Ruth Ferrony, do Centro Nacional de Cibersegurança / Centro Internet Segura (CNCS/CIS), sublinhou algumas das consequências do ciberbullying como isolamento, diminuição do rendimento escolar, dificuldades de concentração ou faltar às aulas. 

 

 

A oradora focou ainda algumas das diferenças para o bullying tradicional, como o facto de poder existir 24 horas por dia, muitas vezes de forma anónima e com recurso a fotos, vídeos ou mensagens.

“O Cibebullying é real e tem uma presença na nossa vida”, destacou Ruth Ferrony, deixando um apelo: “Ajudem quem passa por este problema, sejam agentes de mudança”. Nesse particular foi destacado o papel da Linha Internet Segura, através da qual é possível contactar técnicos/as de Apoio à Vítima especializados no apoio a pessoas que foram ou são vítimas de crimes praticados fazendo uso da Internet.

 


O que é o Centro Internet Segura (CIS)?

Durante a sessão de abertura, Ruth Ferrony descreveu a missão do CIS como “desenvolver uma cultura de uso responsável e consciente da Internet”, capacitando os cidadãos para “decisões informadas e contribuir para o combate às condutas e conteúdos ilegais online”. Criado através de um consórcio com entidades como IPDJ, APAV, Microsoft, FCT, CNCS, o CIS está ainda ligado a redes que incluem outros 27 centros nacionais por toda a Europa. O Dia da Internet Mais Segura foi ainda destacado como uma data “muito especial”: “Tem sido sempre muito interessante estar em vários pontos de Portugal, numa atividade que tem crescido cada vez mais”.


 

Semana digital, experiência analógica

Esta é a primeira de cinco edições do CIS Digital Camp em 2025, uma iniciativa que, durante uma semana, reúne 50 estudantes do ensino secundário e profissional para os capacitar sobre temas ligados à literacia digital e cibersegurança. Partilhas de testemunhos, workshops, debates ou painéis são alguns exemplos das atividades realizadas. A edição que começou hoje e que continua até sexta-feira tem como tema central o ciberbullying.

 

Ruth Ferrony, do CNCS/CIS, deu as boas-vindas aos participantes do CIS Digital Camp.

 

“Aproveitem esta oportunidade para absorver toda a informação que conseguirem”, destacou, no acolhimento dos participantes, Ruth Ferrony, que agradeceu ainda o apoio e colaboração do Politécnico de Lisboa, que acolhe esta primeira edição. “Obrigado também aos participantes, desejo-vos um grande CIS Digital Camp”, acrescentou, antes de acrescentar: “Estamos aqui para vos ajudar em tudo o que precisarem”.

Presente na sessão de abertura, o presidente do Politécnico de Lisboa, António Belo, salientou ser “sempre um prazer e um gosto colaborar com o CIS”. “A porta estará sempre aberta para quando precisarem”, reforçou. Dirigindo-se aos participantes, desejou que esta fosse uma semana “muito rica em termos de conhecimentos” e deixou um apelo: “Embora este seja um ‘Digital Camp’, sejam muito analógicos – partilhem as vossas experiências e vivam esta semana”.

  


TESTEMUNHO

«Se as atividades forem todas como até agora, vai ser incrível»

 Ana Baía, 17 anos, Escola Secundária André de Gouveia, Évora 


"O tema do ciberbullying é cada vez mais atual, à medida que surgem novas tecnologias e formas de as usar para fins que não são os ideais. Acho muito interessante, especialmente agora com a evolução da inteligência artificial, abordar este tema e consciencializar as pessoas da nossa idade. Até porque, até agora, foram tocados temas complementares que são igualmente interessantes, nomeadamente a misoginia no espaço dos influencers e o que fazer quando alguém está numa situação de perigo online. Acho tudo isto muito importante porque somos a geração da tecnologia e isto faz parte da nossa convivência. Se todas as atividades forem como até agora, interativas e com a malta empenhada, vai ser incrível. Estou animada para poder debater
tudo isto com os outros participantes".


 

Situações da vida real

A primeira atividade do CIS Digital Camp consistiu numa sessão sobre Literacia Mediática que teve como mote “ver para além do ecrã”. Conduzida pelas docentes e investigadoras da Escola Superior de Comunicação Social do Politécnico de Lisboa, Fernanda Bonacho e Margarida Alpuim, a atividade dividiu os participantes em 10 grupos para analisar “situações da vida real”. Depois de feita a análise, os participantes partilharam as suas principais reflexões e conclusões.

 

As docentes Fernanda Bonacho (acima) e Margarida Alpuim (abaixo) conduziram uma sessão sobre Literacia Digital

 

As situações partilhadas diziam respeito à utilização de canais como o WhatsApp ou o Tik, lidando com fenómenos como o ciberbullying, a desinformação, ao discurso de ódio entre outros.

“O desafio consiste em trazer estas questões ligadas aos média, à Internet, à comunicação, à informação e ao jornalismo para a discussão”, explicou Fernanda Bonacho: “Para que saibamos do que falamos quando falamos destas coisas”. “O objetivo é que pensem de que forma, na nossa vida, esta situação vos afeta e o que querem fazer em relação a isso”, completou Margarida Alpuim.

 

 

Os limites da liberdade de expressão

O primeiro dia do CIS Digital Camp 2025 continuou com uma atividade que refletiu sobre o tema "Ciberbullying e Liberdade de Expressão - Onde traçamos o limite?". Os participantes foram divididos em vários grupos, de forma a trabalharem diferentes visões sobre este tema.  

Foram trabalhadas três questões-chave: "O humor pode tudo?", "Se é público posso comentar o que quiser?" e ainda "Os influencers devem ser responsabilizados pelo que dizem?". Para cada um destes tópicos, foram criados dois grupos que adoptaram visões contrárias, criando argumentos e partilhando com os seus colegas. "A ideia é trabalharem este tema e facilitar a vossa discussão destas ideias", explicou o responsável pela atividade, Félix Pinéu. 

 

 SJR 1226

 

O CIS Digital Camp continua amanhã, com atividades dinamizadas pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), o Instituto Portuguès do Desporto e da Juventude (IPDJ) e da Direção-Geral da Educação (DGE). 

 

SJR 1229