“Capitaneada” pelo hexacampeão nacional auto Miguel Barbosa, a equipa conta com o jovem Martim Ventura e o consagrado David Megre nas motos e a eles se juntam mais dois pilotos de referência na competição das quatro rodas como Lourenço Rosa e o ex-campeão nacional de rugby Luis Portela Morais, agora a competir de SSV.
De entre os muito parâmetros relevantes para uma participação de elevado nível numa modalidade tão exigente escolhemos neste artigo revelar o modo surpreendentemente diferente como cada um destes cinco atletas desenvolvem a sua preparação física e quais os cuidados alimentares que possuem com vista a um melhor desempenho desportivo.
Começamos pelos pilotos das duas rodas, disciplina aparentemente mais exigente no plano físico. Com apenas 23 anos, Martim Ventura é o mais jovem elemento da equipa. Começou a competir com 10 anos e é o atual líder do Campeonato Nacional que disputa aos comandos de uma Yamaha. Já foi por três vezes campeão classe TT, por quatro vezes campeão júnior e depois de duas vezes vice-campeão nacional absoluto ambiciona este ano conquistar o título máximo e partir para voos mais ambiciosos no plano internacional. Afirma-se um amante do treino físico e nesse sentido “faço bastantes treinos de bicicleta e mota, natação, ginásio e corrida a pé. Tento variar entre estes, mas os treinos de mota e bicicleta têm de estar sempre presentes. O treino de bicicleta em particular obriga a alimentar-me convenientemente e a dormir bem. Obviamente que essa aprendizagem e disciplina é depois também transportada para os treinos que faço com a mota”.
Guloso assumido, Martim Ventura admite que a principal dificuldade com a alimentação se prende essencialmente com a necessidade de ingestão de açucares, particularmente após as competições. “Tento evitar ao máximo a ingestão de açucares. Após as provas, é o momento em que conseguimos relaxar um pouco e é aí que por vezes acontece sentir alguma necessidade de ingerir açúcar. Sinto muita diferença quando me alimento bem e quando não tenho tanto cuidado. Os açucares e as gorduras mexem muito comigo. Fico mais leve e com energia quando faço uma alimentação cuidada, o que afeta o meu rendimento. Os açucares para mim são o pior porque me afetam bastante fisicamente. Sou muito guloso. De qualquer modo, tento fazer refeições leves para gerir da melhor forma a energia que a corrida a pé e a bicicleta, em particular, exigem. Evito comer hidratos de carbono à noite para não ingerir o que o corpo não vai gastar. Tento comê-los ao almoço depois do treino. Quando nos alimentamos bem, também dormimos melhor e acabamos por ter mais energia”, explica.
Também com um palmarés invejável que inclui medalhas de ouro e prata, liderando atualmente o campeonato europeu de bajas, David Megre tem uma carreira com mais de 20 anos e uma profissão bem diferente do jovem Martim, urbano e recém licenciado. Agricultor natural de Coruche com 39 anos e pai de três filhos David Megre é um aficionado por BTT, Wakeboard e Ski, atividades desportivas que o ajudam a manter-se em forma, “mas também faço ginásio. Faço aulas de hit. Sou viciado em competições e adoro o campo”.
Se habitualmente compete de moto David Megre, que teve a sua primeira experiência no Rally Dakar em 2017, regressou à grande maratona mundial em 2022 onde navegou Luis Portela Morais num SSV com o qual conquistaram um brilhante sétimo lugar.
Ex-campeão nacional de rugby tendo sido frequentemente jogador da Seleção Nacional, Luis Portela Morais sempre viveu no ambiente do todo-o-terreno. Os pais e a irmã foram praticantes empenhados e depois de se iniciar nas motos é agora um dos melhores pilotos nacionais de SSV. Aos 35 anos, assume que não tem grandes restrições alimentares, mas confessa-se um desportista durante todo o ano. “Treino cerca de três vezes por semana com algum ginásio incluído quer existam ou não corridas. Nesta altura ainda faço mais desporto do que o normal, mas é assim que me mantenho em forma, sendo que para provas mais exigentes, como o Rally Dakar, faço um plano de treino mais específico. Tento estar sempre dentro do meu peso ideal. Nas semanas em que há provas perco sempre dois ou três quilos, evito um ou outro alimento, mas no geral faço uma alimentação perfeitamente normal”, acrescenta.
Referência maior do Todo-o-Terreno em Portugal, Miguel Barbosa já averbou oito títulos na modalidade, mas também conta com títulos na velocidade e participou com grande sucesso nos Ralis. Tem quatro participações no Rally Dakar, em cenários tão distintos como África, América do Sul e mais recentemente Arábia Saudita. Piloto profissional com 45 anos de idade e dispondo de uma máquina de topo da modalidade aposta cuidadosamente na preparação física e, juntamente com o seu personal trainer consegue em ambiente de ginásio e fora deste executar um plano abrangente que lhe permite dar resposta às exigências das competições. “Treino de manhã e diariamente. O cenário muitas vezes escolhido é o Estádio Nacional do Jamor. Também faço os treinos com o carro para me preparar para as competições. Portugal é dos países na Europa que apresenta terrenos de excelência para a prática do TT, mas por exemplo o Dakar, de exigência mais elevada exige também maior preparação, muitas vezes além-fronteiras. Marrocos é o cenário ideal, mais perto de Portugal, onde é possível testar e treinar. Tem areia e uma forte componente de navegação tão dominantes”, revela Miguel Barbosa que sobre a alimentação assume que “o único cuidado que tenho é em procurar comer mais fruta e legumes e deixar um pouco mais de lado as gorduras. Excluindo essa situação tento beber sempre bastantes líquidos porque uma boa hidratação é fundamental. Gosto muito de praticar Padel, BTT, Ski e Wakeboard”.
Dispondo de uma máquina idêntica à de Miguel Barbosa também Lourenço Rosa é um piloto multifacetado. Para além de todo-o-terreno disputou provas de Rally, Circuito e Velocidade contabilizando uma presença no Rally Dakar em 2020. É amante de Padel e jogou Rugby durante 9 anos.
Para Lourenço Rosa com 46 anos de idade “a condução é sempre muito exigente, estar bem hidratado e dormir bem é fundamental. Não faço treino de ginásio. Exercito-me mais fazendo jogos em equipa, gosto bastante de padel e também pratico bicicleta. Tento ter algum cuidado com a alimentação nas semanas anteriores à corrida porque disputar as provas pressupõe muita desidratação. Evito beber leite e procuro ter boas noites de descanso. As corridas internacionais, obrigam a que nos desloquemos com dois ou três dias de antecedência para nos ambientarmos com algum tempo à temperatura local e até para podermos descansar da viagem que por vezes demora horas. Com esta nova máquina tenho sentido um grande esforço físico nas últimas corridas. Chego ao final dos troços extremamente cansado, mas penso que este aspeto não tem prejudicado a minha condução nem o meu desempenho na corrida. O carro é muito trabalhoso, mexe muito com a caixa de velocidades, travão de mão. Também utilizamos o pé esquerdo para travar, o que exige um grande esforço”.