O que mudou na tua vida, depois da medalha de bronze no Europeu?  

O terceiro lugar no Europeu garantiu-me o estatuto de atleta olímpico em Portugal. Por isso, tenho agora um apoio maior do tinha antes, o que me proporciona uma vida melhor. Talvez consiga, ainda durante este ano, dedicar-me apenas à modalidade, porque trabalho em part-time. O europeu e o mundial foram apenas o início, tendo em vista a qualificação para os Jogos Olímpicos de Paris, em 2024. 

Recentemente revelaste que a qualificação para os jogos olímpicos estava bem encaminhada. Como tem evoluído esse objetivo?  

Ainda só fizemos três competições. Até agora, estamos no top 8 a nível mundial, sendo que o importante é ficar no top 16. Faltam ainda muitas provas este ano, mas estamos bem. Agora, podendo concentrar-me a full-time, o resultado também poderá ser um pouco melhor. 

 

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E o que significou esse reconhecimento do breaking enquanto modalidade olímpica?  

Penso que permite chegar a pessoas mais velhas, que possam ter uma imagem negativa e errada da modalidade. Desta forma, podem ver que o breaking fez uma jornada das ruas para o palco olímpico. Houve uma progressão, ao longo destes anos, que vai permitir que mais pais possam incentivar os filhos a praticar, por exemplo.  

Sobre a modalidade, podes explicar-nos a diferença entre “breakdance” e “breaking”?  

“Breaking” é o termo correto porque envolve todo o aspeto cultural da modalidade. O breakdance é um termo algo ingénuo, que apenas representa a dança. Por essa razão, consideramos que breaking é o termo correto, ao envolver toda a essência cultural. 

 


«[…] Hoje temos muito jovens a praticar a modalidade que já são muito bons»


 

Como se processa uma competição ou prova?  

Há um painel de jurados e um conjunto de b-boys e b-girls que mostram o seu melhor numa entrada de cerca de 40 segundos. A partir dessa qualificação, são escolhidos 16 ou 32 atletas que competem entre si. Existe um DJ que coloca uma música que desconhecemos, ao som da qual os atletas dançam, até que seja decidido o vencedor. 

O improviso parece ser uma parte importante da prática desta modalidade… 

Sim. Não é como outras modalidades desportivas, em que os atletas são avaliados por realizar os mesmos movimentos. Aqui, trata-se da análise de uma forma de movimento que nunca é igual à do oponente, de uma personalidade. Penso que isso é o que dá interesse à modalidade. Nunca vamos fazer a mesma entrada duas vezes, é algo no momento. Quem está ali, também vai testemunhar algo que nunca vai ser reproduzido outra vez. 

 

 

 

Tu começaste o teu percurso com aulas de dança, em Leiria, de onde és natural. É hoje mais fácil um jovem entrar no universo do breaking? O que mudou? 

Sim, é definitivamente mais fácil, principalmente devido à exposição da modalidade. Houve também marcas que ajudaram a essa divulgação, como a Red Bull que é, desde 2004, uma plataforma essencial para a modalidade. Atualmente, com a Internet, consegue-se chegar a muito mais pessoas. Mesmo do ponto de vista da aprendizagem há uma diferença –  antigamente, era o passar da cassete VHS que o amigo emprestava ao amigo. Penso que hoje temos muito jovens a praticar que já são muito bons e é precisamente por causa disso. Há cada vez mais marcas e eventos a nível mundial, que também levam à divulgação da modalidade. 

Há alguma mensagem que queiras deixar aos estudantes portugueses?  

Gostaria de dizer que tem havido muito mais oportunidades para mulheres nesta modalidade. Esta ainda é uma cena dominada por rapazes e homens, mas penso que isso está a mudar mais e mais. Eu comecei tarde e, tal como eu, há possibilidade de muitas mulheres poderem começar. Seria muito interessante ter cada vez mais raparigas a participar e a darem uma oportunidade ao breaking.