A pandemia mudou o que os profissionais procuram dos seus empregadores, e as empresas ainda não compreenderam completamente a extensão desta mudança. É a conclusão de um inquérito conduzido pelo Grupo Adecco em 10 países, que reuniu as perceções de mais de mil trabalhadores e 155 empresas, para comparar o que os trabalhadores querem e o que os empregadores pensam que os trabalhadores querem.
“À primeira vista, empregadores e trabalhadores parecem estar alinhados com os principais critérios que motivam as pessoas a candidatarem-se a um emprego: concordam que o salário é o mais relevante, seguido do ambiente de trabalho e as oportunidades de desenvolvimento de carreira, mas o peso atribuído a cada um destes fatores não é convergente”, afirma o estudo.
Os empregadores tendem a sobrestimar a importância do salário - 72% das empresas mencionam-no como a grande motivação dos colaboradores, em comparação com 53% dos profissionais que efetivamente valorizam a remuneração no topo das suas motivações.
As empresas também valorizam muito a sua reputação como fator de atratividade de profissionais qualificados, colocando-a em 7º lugar; mas para os profissionais, a reputação aparece apenas em 16º lugar.
Pós-covid: profissionais querem flexibilidade
Vários estudos comprovam, inclusive o último ‘Resetting Normal: Defining a New era of Work’ realizado pelo Grupo Adecco, que a flexibilidade veio para ficar. “Esta é mesmo uma das mais importantes motivações dos profissionais, a par da saúde, bem-estar e segurança no trabalho. Não obstante, os empregadores parecem subestimar este dado”, acrescenta o estudo.
A Covid-19 fez com que os trabalhadores valorizassem todos os tipos de flexibilidade, em particular os horários e locais de trabalho, com mais tempo para o trabalho remoto ou híbrido. É o caso no Reino Unido, Alemanha e EUA, onde 22% dos trabalhadores afirmaram valorizar a opção de trabalhar a tempo inteiro em casa, em comparação com uma média global de 9%. Tendencialmente, as mulheres priorizam a flexibilidade em detrimento dos homens.
O inquérito do Grupo Adecco encontrou outras diferenças entre regiões e gerações. De acordo com o estudo, “os franceses e belgas priorizam o salário, enquanto os italianos e indianos atribuem ao desenvolvimento da carreira um dos fatores de maior peso na motivação profissional”. Além disso, “apenas os profissionais da América Latina e de Espanha tendem a preferir o trabalho em colaboração ao trabalho individual”.
"Empresas devem repensar os estilos de liderança"
Quando o Grupo Adecco perguntou aos empregadores qual era o principal estilo de liderança na sua empresa, a escolha recaiu sob os líderes "pacesetter", que pressionam por resultados mais rapidamente. Contudo, quando a pergunta foi colocada aos funcionários, este estilo de liderança vocacionada para os resultados não se encontrava nas três primeiras respostas.
Em vez disso, a escolha mais comum, selecionada por um em cada quatro respondentes, foi a dos "líderes carismáticos" que podem inspirar com uma visão. Isto é seguido de perto por "líderes ao serviço", que dão prioridade ao bem-estar dos seus trabalhadores. Ambas as escolhas podem ser vistas como um reflexo do período da pandemia, em que os profissionais dão valor acrescido ao bem-estar. A terceira resposta mais comum entre os trabalhadores é que o estilo de liderança não é relevante, desde que sejam felizes no trabalho. Esta foi a resposta mais apontada na Bélgica, França e Alemanha.
Processos de recrutamento digital
O inquérito do Grupo Adecco revelou um último desajustamento importante na expetativa entre empregadores e colaboradores que está relacionado com o processo de recrutamento. O recrutamento tende a ser digital e os candidatos estão a interiorizar este processo de como normal e desejável, o que não está a acontecer com as empresas.
“35% dos profissionais responderam que estão confortáveis e que gostariam que os processos de recrutamento acontecessem em ambiente digital, mas os empregadores acreditam que isto só é verdade para 9%”, revela o estudo.
Também no tópico da avaliação, os profissionais estão mais abertos do que os empregadores e esperam que as suas competências sejam avaliadas por um questionário online durante o processo de recrutamento, numa base contínua.
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