Quais as prioridades da nova direção da ANESPO para o triénio 2024-2027?
O compromisso da ANESPO com os seus associados tem por base o manifesto eleitoral que assenta em quatro pilares fundamentais na implementação e no reforço da atividade das escolas profissionais privadas: i) sustentabilidade financeira das escolas profissionais privadas, ii) inovação pedagógica e reforço das ofertas formativas, iii) afirmação institucional a nível nacional e internacional e iv) reorganização do funcionamento da associação e dos serviços que presta aos associados.
Importa referir que o ensino profissional privado faz parte da política pública de educação. No âmbito da sustentabilidade financeira das escolas profissionais privadas, consideramos que o seu financiamento deverá ser inscrito no Orçamento do Estado (OE) nas escolas do continente, e nos orçamentos regionais das escolas da Madeira e dos Açores, transferindo o financiamento das escolas profissionais privadas (EPP) para o Governo e assegurando maior estabilidade financeira das escolas desde o início do ano letivo, generalizando o apoio a todos os alunos para alojamento, deslocações, entre outras. Pretendemos que as tabelas de financiamento contratualizadas em 2010 sejam revistas e atualizadas à luz do custo de vida atual. Queremos reforçar o financiamento das turmas compostas por “duas meias turmas”, que têm um custo suplementar na ordem dos 30% e cujas áreas técnica e parte da científica corresponde a mais de 50% do volume de formação, que não é financiado. O financiamento dos Cursos de Educação e Formação (CEFs), cujas turmas têm um volume de formação idêntico aos cursos profissionais e que são financiados em apenas 60% do custo real, deve ser revisto.
No pilar da inovação pedagógica e reforço das ofertas formativas, e em conjunto com as escolas, pretendemos apostar na valorização do projeto educativo de cada uma das instituições de ensino. Será dada prioridade à inovação educacional, ao enriquecimento curricular, à transformação digital, à inteligência artificial, criando condições de suporte às escolas no sentido de se adaptarem e melhorarem os seus procedimentos e adequar a sua oferta formativa e reforçar o trabalho feito pelas redes de cooperação das escolas, para que trabalhem de forma concertada e integrada. Pretendemos revitalizar o Centro de Formação da ANESPO (CEFANESPO) como grande promotor do conhecimento e de competências, numa perspetiva pró-ativa e com forte aposta na formação à distância, não só para professores, mas também para técnicos e operacionais que trabalham nas escolas. A aposta nos serviços de informação e orientação profissional é absolutamente crucial para o novo triénio, no sentido de disponibilizar aos jovens que terminam o terceiro ciclo, e às suas famílias, um conhecimento real da oferta formativa disponível na sua região. O nosso intuito é auxiliar, também, a tomada de decisão, pois um jovem que esteja realizado com a sua escolha, está condenado ao sucesso.
Ao nível da afirmação institucional nacional e internacional, vamos manter os nossos membros efetivos nas diversas instituições, tais como, o Conselho Nacional de Educação, o Conselho Geral da ANQEP, a Comissão de acompanhamento do Pessoas 2030, a Comissão Setorial para a Educação e Formação do IPQ, através da nossa participação ativa e pró-ativa, no sentido de dar inputs para as melhorias da qualidade que se pretende para a educação e formação. Também vamos manter o contacto regular com os grupos parlamentares, o Governo e Ministério da Educação e Secretarias de estado, no sentido de potenciarmos melhorias contínuas nesta modalidade de ensino. Também participamos em duas confederações – CNEF e CCP – que, entre outras atividades, nos permitem negociar os contratos coletivos de trabalho. A nível internacional, vamos manter os projetos que temos desenvolvido no quadro da UE e CPLP.
«Queremos dinamizar e modernizar os serviços, alavancando o funcionamento das estruturas regionais, melhorar o apoio que prestamos aos associados, desenvolver iniciativas e estratégias de comunicação com os nossos associados, entre outras iniciativas»
A organização e o funcionamento da ANESPO é, para nós, de extrema importância, pois é este pilar que nos permite estar mais próximos das escolas. Queremos dinamizar e modernizar os serviços, alavancando o funcionamento das estruturas regionais, melhorar o apoio que prestamos aos associados, desenvolver iniciativas e estratégias de comunicação com os nossos associados, entre outras iniciativas.
Estes são os grandes objetivos para este triénio que, apesar de ambiciosos, acreditamos que vão ser muito gratificantes.
A valorização do Ensino Profissional tem sido apontada como uma prioridade estratégica do país. Sente que esse objetivo tem sido alcançado? Quais os principais passos dados no sentido dessa valorização? De que forma trabalha a ANESPO este tema?
As entidades que nos tutelam têm feito um grande esforço no sentido da valorização do ensino profissional. Seja o programa Pessoas 2030 e as campanhas de divulgação nos media das ofertas formativas; seja a Agência Nacional para a Qualificação de Ensino Profissional – ANQEP, o Ministério da Educação, a própria ANESPO, as escolas e os municípios têm desenvolvido algumas campanhas de divulgação e massificação desta oferta formativa. Apesar de todo o trabalho em rede que tem sido feito, há ainda muito mais a fazer. Identifico desde já a necessidade de alteração profunda do modelo de orientação vocacional dos jovens, no sentido de os capacitar e adequar às necessidades reais das empresas, uma orientação vocacional com aplicabilidade. Adicionalmente, é necessário alterar o modelo de informação para os encarregados de educação, tornando-os mais conhecedores da oferta formativa que existe na sua região que poderá ser mais ajustada ao perfil daquele jovem. O tratamento da orientação vocacional por parte de serviços externos à escola será uma mais-valia para todas as partes envolvidas: será mais isenta, mais plural e muito mais informada.
Adicionalmente, entendemos que, mais do que trabalhar um ensino assente em conteúdos, devem ser trabalhadas as competências, as soft skills, como a pontualidade, responsabilidade, comunicação, compromisso, criatividade, capacidade de adaptabilidade, entre outras, para que a integração destes jovens no mercado de trabalho seja plena e ágil.
Em particular, o prosseguimento de estudos para estudantes de opções profissionalizantes tem sido um assunto em destaque de há uns anos a esta parte. O que pensa ser ainda necessário fazer neste tema em particular?
Têm sido dados passos importantes, nomeadamente, na diferenciação de algumas matérias, considerando se o jovem quer fazer prosseguimento de estudos ou não. Adequar os programas e matérias científicas de acordo com a tipologia do curso que o aluno está a frequentar, garantindo a equidade no tratamento do jovem é, de facto, de salientar e valorizar. Foram criados contingentes especiais para os alunos das escolas profissionais, contingentes esses que tiveram de ser anuídos por diversas instituições de ensino superior e foram criadas vagas específicas para os alunos inseridos nestes contingentes. Por outro lado, há ainda universidades que ainda não abrem vagas para este tipo de contingentes e o nosso trabalho vai no sentido de atuar junto destas entidades, criando iguais oportunidades para estes jovens no acesso ao ensino superior. Há naturalmente uma maior abertura do lado dos politécnicos, veja-se o exemplo dos Cursos Técnicos Superiores Profissionais (CTeSP) que dão acesso direto ao ensino superior, mas há ainda muito trabalho a fazer nesta matéria, melhorias a implementar, para que os nossos jovens que frequentam o ensino profissional, público ou privado, sejam tratados com equidade em relação a todos os outros que fazem prosseguimento de estudos.
De que forma sente que tem evoluído a ligação dos jovens e dos encarregados de educação às opções profissionalizantes?
As escolas são bastante ativas na divulgação da sua oferta formativa junto da comunidade, pais, alunos e professores, com o objetivo de dar a conhecer o que se faz em cada curso profissional. Neste tipo de cursos, mais de 50% da carga horária é passada em oficinas, laboratórios, empresas e o contacto com mercado de trabalho, em contexto real, é constante e permanente. E neste aspeto, a relação que existe entre a escola e a empresa é fundamental e o ideal é que seja de grande proximidade. Nos dias que correm, as escolas só tomam decisões de investimento depois de ouvir as empresas, numa perspetiva de trabalho concertado e de verdadeira resposta às necessidades reais do tecido empresarial de determinada região.
«É nosso objetivo continuar a apostar na divulgação destes projetos educativos, procurar a dinamização por parte das entidades e procurar captar apoios mais significativos...»
A diversidade geográfica das escolas que fazem parte da nova direção tem sido destacada pela ANESPO. Existem alguns dos desafios comuns enfrentados pelas escolas profissionais portuguesas de todo o país?
Sem dúvida que sim. As escolas do litoral são diferentes das do interior, assim como as do Sul são diferentes das do Norte e até mesmo das escolas das ilhas. As assimetrias que se verificam no nosso país, em diversos setores e dimensões da sociedade, são também sentidas no ensino profissional.
Quando olhamos para o litoral, onde há elevada densidade populacional, grandes zonas industriais, bastante concentração de empresas prestadoras de serviços, onde o mercado de trabalho é muito fértil, falamos de um tipo de realidade. Mas quando olhamos para o interior, a realidade é completamente diferente. Há escolas profissionais do interior que são, além do município, a segunda entidade mais empregadora do concelho, representando um duplo papel naquela região, o de formador e o de empregador.
Os “périplos pelas regiões de baixa densidade populacional”, uma iniciativa da ANESPO, têm como objetivo visitar escolas do interior. Nestas visitas, procuramos levar connosco elementos da tutela para que possam conhecer projetos educativos e formativos que são o grande motor de desenvolvimento local e catalisador de fixação de pessoas para aquela região. É nosso objetivo continuar a apostar na divulgação destes projetos educativos, procurar a dinamização por parte das entidades e procurar captar apoios mais significativos para estes territórios. É importante olhar para estes territórios de forma diferente e diferenciadora, no sentido de os apoiar (através de apoios mais concretos e específicos) e não os deixar cair. Cada vez que uma escola fecha, aquele território fica mais pobre.
Há alguma coisa que deseje acrescentar?
Acho que vamos fazer um bom mandato. As minhas expetativas estão muito altas, pois sinto que o próprio Governo está ciente da importância de reforçar o ensino profissional, assim como o seu financiamento; da importância que estes projetos educativos e formativos têm para a economia nacional e para as regiões onde as escolas estão implantadas.
Vamos fazer com que o ensino profissional deixe de ser visto como um ensino de segunda, mas sim um ensino de primeira, que é o lugar que ele merece.