Há uma década começou a gravar as suas rimas. Depois foi para Londres aprender do ofício. No regresso, fundou a editora Think Music Records e produziu para vários rappers portugueses. Mas agora chegou a sua vez de viver o sonho em nome próprio, ainda que rodeado da sua família hip-hop.


Que expetativas tens em relação a este teu primeiro álbum?

Que as pessoas gostem, usufruam dele, que as marque de forma a que, no futuro, se lembrem de quando o ouviram pela primeira vez e que fiquem com estas canções para o resto das suas vidas. Que este disco tenha um lugar especial nas suas vidas, que tenha um impacto.

 

Foi um trabalho que deu muito trabalho?
Foi, foi. Mas é aquela questão de que, quando uma pessoa faz com gosto, não cansa, ou pelo menos não cansa tanto. Embora haja fases em que uma pessoa já esteja realmente saturada, é muito recompensador. Por isso, valeu a pena.

No single 'Tou Bem' dizes que “estava na ponta, mas agora estou no meio”. Durante muito tempo ambicionaste estar onde estás agora?
Nunca tive muito essa ambição ou objetivo, foi acontecendo. Tudo aconteceu à medida que fui trabalhando: as pessoas foram gostando e dando a sua força. E eu comecei a acreditar, tanto que depois apontei mais para isso, para ter o meu destaque ao nível da história do hip-hop. Gostava de causar o meu impacto, a minha assinatura nessa cultura. O “estava na ponta, mas agora estou no meio” também tem outro significado: é o facto de antes viver muito nos extremos das coisas e que agora sei que é no meio, lá está, que está a virtude. Acabamos por ser pessoas mais completas, se conseguirmos estar no meio. O meu trajeto até aqui foi encontrar esse equilíbrio.

 



"Espero que este disco tenha um
lugar especial na vida das pessoas".
Profjam





Como é que defines a tua assinatura?

É uma experiência que não sei definir muito bem. Mas espero que as pessoas também já sintam quando me ouvem, que já percebam o que é. É, sobretudo, associar-me à liberdade de pensamento, a honestidade intelectual, a procura da verdade seja onde for. Procurar as perguntas e não só as perguntas. Tudo isso ligado à escrita que é o que gosto muito.


Este álbum reflete uma grande espiritualidade. Foi algo que descobriste mais recentemente ou sempre foste interessado por esses temas?

Sempre fui muito espiritual. Acho que é uma coisa que não acontece: ou somos ou não somos. Embora eu ache que toda a gente tem a sua espiritualidade. Quis ter essa parte de mim demonstrada no disco e puxar por pessoas que estejam mais adormecidas para esses assuntos e também por outras mais “acordadas”. Para que elas saibam que há música para esse tipo de exposição. É uma visão mais espiritual sobre a vida, mais ligada à eternidade. Não é necessariamente algo religioso, mas sim ganhar perspetiva sobre as coisas.


Achas que o público jovem apreciador de hip-hop está sintonizado com essas questões?

Constato que toda a gente tem um pouco. Eu também fui fruto da minha educação. Não sei se as pessoas estão propriamente à procura disso. Mas, se encontrarem, talvez. É um bocado isso que eu faço: estou de certa maneira a usar o hip-hop como um veículo para a minha mensagem.

 

 

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#FFFFFF é o código hexadecimal para a cor branco. Qual a explicação para teres escolhido este título?

Tem a ver uma espiritualidade que pode ser digital. Depois também a questão do branco ser a junção de todas as cores. E as cores aqui são seja o que for, são tudo o que faz parte do ser humano.


No verão passado tudo mudou, graças às boas prestações ao vivo que chamaram a atenção do público e da indústria musical, ao ponto de depois assinares pela Sony Music… Sentes que aconteceu tudo de repente, como num sonho?

É um sonho no verdadeiro sentido da palavra. Aqui há uns tempos era literalmente um sonho. Depois, a vida vai acontecendo e traz-me o sonho, até que nos apercebemos que é a realidade. Quando acontece, já não é um sonho, porque uma pessoa já lá está dentro. É assim que eu vejo a vida. O próprio álbum fala sobre isso. Vivi certas cenas que, do nada, saem da minha cabeça. Quando percebemos que essas coisas estão a acontecer, é fixe. Estou feliz por estar a viver o sonho da minha vida.


No verão, atuas nos festivais NOS Primavera Sound e Super Bock Super Rock. Em palco é onde se sentes mais pleno ou preferes o trabalho de criação em estúdio?

Gosto muito de criar, não gosto tanto de executar, no sentido de repetir aquilo mil vezes. A criar é onde me sinto com a pica toda e, depois, ao vivo, é onde me sinto mais vivo, no fundo. Tenho um guião mas é onde a perceção do tempo se transforma mesmo. Fica ali uma espécie de um momento que não passa mas que passa super rápido. Pode tudo correr mal mas, ao mesmo tempo, pode tudo correr bem. Gosto mesmo de estar no palco.





Como era o Mário Cotrim antes de se transformar no ProfJam?
Agora já ouço mais “Prof” mas ainda há quem me chame Mário. O Mário, pelos vistos, entretia-se a criar o ProfJam (risos). Basicamente, o que difere um do outro é que agora já há coisas que, se calhar, não posso fazer da mesma maneira, como estar com o pessoal na rua. Agora também crescemos mais: temos os nossos empregos e as nossas vidas. Também ando mais ocupado na estrada e no estúdio. O ProfJam veio da minha cabeça, é um universo que eu controlo porque eu é que crio as regras. O Mário é que estava e está mais cingido pelas regras da sociedade. O ProfJam é o imortal, o poder infinito. Eu hei de ir para uma cova ou para outro mundo, sei lá. Mas o ProfJam há de ficar aqui porque é algo imaterial, é uma ideia, é um ficheiro de música que, se Deus quiser, há de estar aí nos servidores para a malta ouvir bastante depois de eu estar cá. Isso era o meu maior sonho.