“O Pedro um dia decidiu agarrar no seu lado bom, romântico, otimista e criar um personagem para usar como veículo para transmitir um conjunto de mensagens positivas”, conta-nos este rapaz de uma família humilde que, aos 19 anos, lançou a sua estreia literária, em poesia, dedicada à mãe. Hoje, é na prosa que emociona os demais.

Foi uma desilusão amorosa que te despertou para a escrita. Quão autobiográfica é a tua obra?
Não falo muito sobre mim nos meus livros. Há sempre muitas coisas que vou buscar ao que vivi, mas penso que seja residual. Não uso a escrita para desabafar ou libertar-me, uso-a como um veículo para transmitir mensagens escondidas dentro de uma história que é, no fundo, como um Cavalo de Troia. Uso essencialmente experiências vividas por outras pessoas. É sobre elas que escrevo e para elas que escrevo. Como falo muito na primeira pessoa, os leitores acreditam que estou a falar de mim. Principalmente naquilo que vou partilhando nas redes sociais. Mas não estou. Apenas estou a interpretar um personagem que está a passar por uma determinada situação na vida e faz um desabafo. Embora sejam situações realistas são ficção. Não me estou a expor. Às vezes tenho pessoas que se dispõem a dar-me conselhos e força para enfrentar a situação que estou a relatar, o que agradeço, mas devem entender que não estou a falar de mim. Sou escritor, o meu trabalho é criar essas personagens.

Não tens receio de esgotar o tema amoroso?
É um mito acharem que falo de Amor. Falo mais da falta de amor do que de amor. Mas, acima de tudo, falo de relacionamentos. E o Amor acaba por ser um tema inevitável. Não considero que seja bom a escrever sobre Amor e por isso mesmo a minha escrita não é romântica, mas sim sobre desenvolvimento pessoal e relacionamentos. Neste tema já disse tudo o que tinha a dizer com a minha trilogia 'Larga Quem Não te Agarra', 'Todos os Dias São Para Sempre' e 'Dá-me Um Dia para Mudar a Tua Vida', e por isso o meu último livro foi num estilo diferente. 

O que sentes ao ocupares o 1.º lugar dos top de vendas nacionais?
Sinto-me grato por ter os leitores que tenho e por saber que os portugueses preferem um autor nacional a um estrangeiro. Isso é muito bom para a literatura nacional. Mas não é nada que me envaideça: é apenas o resultado de muito trabalho que é feito nos bastidores, não caiu nada no céu. Sei que não parece mas já escrevo há 10 anos e publico livros há 7. E ao longo destes anos, todos os dias ponho uma pedra em cima da outra para ir construindo o meu castelo. É suado, mas gratificante.

Qual é o segredo do teu sucesso?
O segredo é o trabalho, como é óbvio, e a cabeça com que se faz esse trabalho. É preciso muita paciência e estar sempre a inovar. É um trabalho que nunca nos dá descanso porque este livro pode ser bom, mas se o seguinte já não for podemos pôr uma carreira em risco.

Já que o sucesso não chegou de imediato, alguma vez pensaste desistir da escrita?
Nunca, porque sempre fui paciente e tudo o que viesse era lucro. Não me atirei para a escrita de cabeça pois os meus primeiros 4 livros foram escritos enquanto andava na faculdade. Como também estava a tirar um curso, não olhava para a escrita de uma forma tão obsessiva. Escrevia sempre com a ambição de ser lido e de poder viver disso, mas se não conseguisse não ia ser o fim do mundo.

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Há quem define o teu estilo como “lamechas”. Na sociedade atual já é permitido aos homens revelarem a sua sensibilidade?
As pessoas não têm paciência para abrir um livro, ler e dar uma opinião isenta. Veem a capa, veem meia dúzia de frases, formulam uma opinião e assunto arrumado. Isto serve para o bem e para o mal. Toda a vida houve homens a escrever sobre Amor. A sensibilidade faz parte do ser humano e não faz sentido tentarmos reprimir esse lado porque é ele que nos permite desfrutar desta experiência ao máximo.

Como é a tua relação com os fãs? Contam os seus dilemas amorosos? Pedem conselhos?
Tento que seja o mais próxima possível através das redes sociais, embora não consiga responder a todas porque são muitas. 90% do meu público são mulheres. Todos os dias recebo mensagens de pessoas a pedirem conselhos ou a contarem os seus testemunhos.

Já estás a preparar um novo livro? Andas sempre com um caderninho para apontar ideias?
A minha cabeça está sempre a trabalhar novas ideias, o que é um problema porque quero dormir e às vezes não consigo. Mas ainda não comecei a preparar o próximo livro. Quanto ao bloco de notas, uso o telemóvel para apontar as minhas ideias.

Gostas mais que te chamem Pedro ou Raul?
Quando estou em eventos quero que me tratem por Raul porque é ele que está ali. É sobre ele que se vai falar. O Raul é o escritor. O Raul é o artista. O Raul é um heterónimo do Pedro. São pessoas distintas. Também por isso posso dizer que não uso a escrita para falar sobre "mim".