O artista benji price, que conta anos de exp
eriência enquanto produtor, abriu as portas a um novo desafio, com o primeiro disco a solo. Em entrevista à FORUM, benji price fala do seu presente, passado e futuro, destacando a forma como a música sempre esteve presente: “Desde que me lembro de ter pensamentos que penso nisso.  

Como surgiu o nome artístico benji price?

Nunca tive uma alcunha na vida e, não tendo nada que viesse naturalmente, deixei andar. Houve um dia em que estava a trabalhar numa faixa em que mencionava “benjis” – em referência à imagem de Benjamin Franklin nas notas de 100 dólares nos Estados Unidos. É daí que vem o benji. Pouco tempo depois, acrescentou-se o price porque o ProfJam estava sempre a lembrar as cenas do Captain Tsubasa.

O que é o ígneo? 

Eu encaro este álbum como um teste a mim mesmo. Estou nisto [no mundo da música] como produtor há alguns anos e sinto que já alcancei grande parte daquilo que é possível dentro do panorama do hip-hop nacional. Tendo feito já isso enquanto produtor, e com uma vontade muito grande de fazer música, o passo natural foi começar a fazer coisas para mim. Este projeto acaba por encapsular essa vontade de fazer algo palpável, de materializar uma ideia para algo gravado. É um álbum sobre querer fazer um álbum, é essa a energia.


 

"Neste projeto, quis ir ao extremo e perceber o que é a natureza hiperbólica de ser um rapper"


 

Essa energia és mais tu? És mais o João neste álbum do que no SYSTEM com o ProfJam? 

Sim, talvez não num sentido muito biográfico ou narrativo. Neste projeto, quis ir ao extremo e perceber o que é a natureza hiperbólica de ser um rapper. “O que é que é ser um rapper?” é uma pergunta um bocado estranha e a perceção das pessoas normalmente envolve uma versão muito exagerada das nossas personalidades. O meu percurso tem-me levado, cada vez mais, a um ponto de vista de querer fazer isto enquanto João e acho que, com o passar do tempo, vou chegar lá ainda mais.

Foi por isso que, numa entrevista passada, disseste que este álbum era, de alguma maneira, “a morte do benji price”?

Exatamente. Sinto que com este álbum já encerrei o ciclo do que é fazer um álbum sobre uma ideia concreta de ser rapper. Estando isso feito, o desafio já foi acabado e tenho de procurar outras coisas por fazer. Sinto que consegui realizar aquilo a que me propus, por isso, não consigo antecipar mais nenhum projeto para o futuro que seja uma exploração do que é ser o benji price.?

“Girassóis” é o primeiro tema deste álbum a ser lançado. O objetivo da música é romper também aquilo que vinhas a fazer anteriormente?? 

Sim, sem dúvida. A música “Girassóis” foi a primeira em muitos aspetos, foi a primeira que eu fiz depois de ter saído do álbum anterior, do SYSTEM, e fez sentido para mim ser a primeira a apresentar-me por ser tão disruptiva em relação ao que vinha para trás. E, porque é a penúltima faixa do álbum, eu sinto que quase todas as outras encadeiam até esse momento. À medida que vais ouvindo o projeto na sua totalidade, ele vai-se afastando mais do sítio onde eu próprio me deixei no álbum anterior. A “Girassóis” é o pináculo desse ponto de viragem.?


 

"Sou uma pessoa muito compelida pela vontade de fazer coisas. Mais do que haver algo em concreto que possa identificar como o objetivo, estou sempre a mudar o que me satisfaz"


 

Num dos versos dessa música, afirmas: “mesmo que eu nunca me ilumine, eu vou esperar sempre pelo dia como girassóis”. Isto é um mote para ti no dia-a-dia? 

Sem dúvida. Sou uma pessoa muito compelida pela vontade de fazer coisas. Mais do que haver algo em concreto que possa identificar como o objetivo, estou sempre a mudar o que me satisfaz. Essa frase existe num contexto de sucesso abstrato, em vez de ser uma coisa muito concreta e palpável. Eu digo isso porque me apetece trabalhar, porque por mais que eu faça alguma coisa, e se isso me trouxer sucesso ou não, eu vou querer fazer mais. 

E, se não trabalhasses no panorama da música, o que farias? 

Eu trabalhei muitos anos em audiovisuais. Antes de estar exclusivamente na música, trabalhei para canais de televisão e produtoras de filmes. Então, provavelmente, por defeito, estaria a trabalhar nessa área, tendo em conta que já foi a minha profissão. Mas, se não fosse músico nem trabalhasse em audiovisuais, gostava de ter um trabalho que envolvesse fazer coisas com as mãos, por exemplo, chef de cozinha ou carpinteiro. Tanto que o lado mais técnico daquilo que eu faço, como ligar cabos e montar equipamento, é muito divertido para mim.


"Desde que me lembro de ter pensamentos que eu penso nisso [fazer música]"


Sempre soubeste que querias fazer música?

Sim. Desde que me lembro de ter pensamentos que penso nisso.

Quais foram os maiores desafios que já enfrentaste na música?  

Fazer dinheiro – é o maior desafio para toda a gente. Como temos uma indústria pequena, para fazeres dinheiro, ou és uma pessoa que se mexe muito e faz muita coisa, que eu acho que é mais o meu caso, ou tens de ser consideravelmente popular durante algum tempo. Não há propriamente uma fase de entrada, não há um salário mínimo na música portuguesa, nem há o estágio profissional remunerado. Então acho que o maior desafio para mim foi saber como é que eu me vou pôr numa posição em que eu consigo sustentar e proliferar na minha vida só fazendo isso.

E já chegaste ao lugar onde imaginavas que chegarias? 

Cheguei há algum tempo, mas entretanto já estou a imaginar outra coisa. Há tão pouca coisa me satisfaz, que a partir do momento em que a obtenho, já me esqueci de que a queria. Eu lembro-me de que uma coisa que eu queria muito ter há uns anos era um single de platina, para mim era uma demonstração palpável de ter sucesso. Hoje em dia, fazer um single de platina é uma coisa extraordinariamente banal. Não que seja fácil fazê-lo, mas, como já o fiz umas quantas vezes, a experiência do ponto de vista emocional já traz pouca gratificação. Eu estou sempre a traçar objetivos novos para me manter interessado. Também só estando interessado é que consegues manter um bom nível. 

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Falando sobre o futuro… O que é que podemos esperar?

Daqui para a frente, tenho muitos convites para muitas coisas, só que sou mais de estar a trabalhar no estúdio do que a tocar ao vivo. Tenho de ver o que faz sentido para mim. Eu sei que haverá mais concertos, só não sei ainda quais e onde. Depois disso, se calhar vou estar uns meses de volta ao meu trabalho antigo, só a produzir para outras pessoas.  Enquanto cantor, vão ter de esperar algum tempo até eu sentir que tenho capacidade de fazer outro álbum. Mas gostava de, pelo menos para o ano, estar de volta a fazer acontecer alguma coisa, nem que seja a lançar músicas soltas.