Vai ser a keynote speaker do Dia da Internet Mais Segura. Qual é a importância deste evento?

Hoje, tendo em conta todos os desafios que enfrentamos no mundo digital, a existência de um espaço de diálogo sobre boas práticas digitais com especialistas, educadores, estudantes e decisores é essencial para promover uma utilização responsável e crítica das tecnologias. Todas as datas serão necessárias e este evento é, de facto, fundamental para reforçar a importância de participarmos num ambiente digital mais seguro, inclusivo e consciente, que possibilite a construção de uma sociedade digital mais informada e criteriosa. 
 
A Educação para a Cidadania Digital é o foco dos trabalhos deste ano. Qual é a relevância que este tema tem no contextual atual que vivemos?

A Educação para a Cidadania Digital é mais relevante do que nunca. Vivemos num mundo hiperligado, ruidoso e muito confuso, onde a capacidade de navegar com segurança, ética e consciência na internet se tornou uma competência essencial. Desde o combate à desinformação até à preservação da privacidade e segurança online, a importância de pôr a educação para a cidadania digital na agenda mediática e na discussão pública é inegável. Contribuir para a formação de cidadãos capazes de tomar decisões informadas e éticas no contexto digital é contribuir, simultaneamente, para a construção de uma sociedade mais saudável, democrática e responsável. 

 


 
Como podemos tornar as crianças e jovens mais conscientes para os perigos presentes na Internet?

Criar espaços para um diálogo aberto sobre experiências digitais é fundamental, mostrando que alguns erros e perigos podem ser oportunidades de aprendizagem sobre o funcionamento das plataformas digitais. Disponibilizar o acesso à Internet e a ferramentas interativas, como jogos educativos e aplicações, pode ser uma excelente forma de captar a atenção desta geração. Contudo, não é suficiente e será até perigoso se for feito sem acompanhamento. Devemos ensinar as crianças e jovens a reconhecer sinais de perigo, como o phishing, o ciberbullying ou a desinformação, e a adotar comportamentos seguros, como a criação de senhas de acesso fortes, o cuidado com a partilha de conteúdos virais e a verificação das fontes de informação. Existe um trabalho de literacia digital que é indispensável e o caminho passa por encontrar o tempo e o espaço para pensar sobre as práticas digitais de forma crítica, informada e consciente.  
 
Quão importante é o papel dos professores neste processo educativo? E de que maneira podem as escolas trabalhar este papel dos alunos enquanto cidadãos digitais?

Os professores desempenham um papel central como exemplos a seguir no desenvolvimento da literacia digital. Todos os profissionais da educação devem integrar estas competências em diferentes disciplinas e estimular um pensamento crítico digital. A questão aqui é assegurar também a formação de professores nesta área para que as escolas tenham condições de criar programas específicos de cidadania digital, incentivar debates sobre ética online e incluir projetos práticos. Existem já boas práticas nas nossas escolas (Artistas DigitaisClubes de Informação e Comunicação). Contudo, o ecossistema digital requer uma formação contínua e colaborativa não só para enfrentar casos reais de desinformação ou insegurança online, por exemplo, mas também para garantir uma atualização constante dos conhecimentos e competências. 

 


«Vivemos num mundo hiperligado, ruidoso e muito confuso, onde a capacidade de navegar com segurança, ética e consciência na internet se tornou uma competência essencial»


 
E em casa? O que é que os pais e familiares podem fazer?

Os pais e familiares são os primeiros educadores digitais das crianças. É essencial ter competências digitais, estabelecer uma comunicação aberta sobre o uso da tecnologia, partilhar boas práticas e definir limites saudáveis para o tempo na internet. Além disso, os pais devem acompanhar as atividades online dos mais pequenos, aprender sobre as plataformas que os filhos utilizam e, sempre que possível, explorá-las para conhecer melhor a forma como funcionam e os conteúdos que veiculam. Um exemplo prático é, por um lado, mostrar aos filhos conteúdos digitais de qualidade e discutir os valores e riscos associados à informação partilhada online e, por outro, dar o exemplo na utilização responsável no dispositivo e no acesso à internet. Que mensagem estamos a passar quando, num almoço de família, os nossos telemóveis são colocados ao lado da faca e do garfo?  
 
Há alguma coisa que deseje acrescentar?

Gostaria de sublinhar a ideia de que a responsabilidade por uma internet mais segura é coletiva. Cabe a cada um de nós – professore(a)s, pais, plataformas digitais e governos – promover uma cultura saudável de cidadania digital. Individualmente, e de forma concreta, esta responsabilidade pode passar por, no dia a dia, cada um de nós estar muito consciente da sua própria experiência nas comunicações online — por exemplo, saber avaliar a qualidade das partilhas que fazemos e recebemos e a capacidade de perceber o funcionamento das plataformas digitais onde passamos grande parte do nosso tempo. O potencial da Internet para educar, unir e inspirar é imenso, mas só será verdadeiramente positivo se todos contribuirmos para um ambiente digital que respeite a diversidade, a segurança e os direitos de todos.