Nascida na Figueira da Foz e criada em Pombal, Iolanda Costa, conhecida pelo público como iolanda, é a vencedora do Festival da Canção 2024. Este é o primeiro ano na vida da artista onde se encontra a viver da música que faz tendo em maio o primeiro concerto em nome próprio no Capitólio, dia 23 de maio, em Lisboa. A paixão pela música fez com que passasse dois anos em Londres, no BIMM, a estudar Songwriting. À FORUM, a artista falou sobre a experiência no Festival da Canção, o crescimento enquanto pessoa, autora e cantora, bem como sobre o percurso educativo que seguiu.
O que significa para ti vencer o Festival da Canção?
Estou neste momento sem grandes palavras porque ainda não me “caiu a ficha” de que vou representar o meu país na Suécia. Estou muito feliz com este voto de confiança. Foi uma noite tão bonita e conheci tantas pessoas incríveis, músicos talentosos e artistas que mereciam representar o nosso país, que só consigo estar feliz e plena com tudo o que está a acontecer. Quero vingar na Eurovisão e fazer o meu país chegar longe com tudo aquilo que posso entregar. Estou mesmo muito feliz e grata por me terem escolhido.
Como surgiu a oportunidade de participar?
Na altura estava a preparar-me para enviar uma livre submissão. De repente, recebi uma mensagem da minha manager que dizia que a RTP tinha enviado um e-mail a convidar-me para fazer uma canção para o Festival da Canção. Eu fiquei muito surpreendida e, de repente, pensei que era uma responsabilidade maior para mim. Depois de surgir esse convite por parte da RTP, começámos a preparar algo que fizesse sentido para aquilo que sou agora como cantora, enquanto artista. E então surgiu o “Grito”, que na altura chamava-se “Entrega”. E nunca houve dúvida quanto à música que ia enviar. Sempre soube que ia ser esta.
O que te inspirou para escreveres o “Grito”?
Foi a necessidade de fazer uma menção para aquilo que é mais importante para ti dentro de nós. E sinto que estou a passar por uma fase de perceber onde está a minha saúde mental, o que é que eu posso fazer de melhor, enquanto ser humano, para me proteger de tudo o que me rodeia. E, na verdade, a canção surge nessa perspetiva – de encontrar uma força interior. Quando falo do “…ainda arde…”, é sobre a chama que existe dentro mim, que essa luz “ainda arde” e que acredito em mim para fazer aquilo que quero na vida. É um grito de esperança, para ser ouvida e que é possível seres maior por ti.
Quando é que surgiu o interesse pela música?
Surge desde muito nova. Não quero utilizar o “clichê” que “nasci a tocar guitarra”. Envolvi-me com música desde pequenina, com 4 ou 5 anos fui para uma escola de música e comecei a aprender um instrumento. Como os meus pais perceberam que eu gostava muito, aos 6 anos, juntei-me ao grupo de Cavaquinhos do Louriçal, um sítio que mistura muita música, família e amizade. Todos os ensaios eram uma festa. Cresci em sítios com música e isso foi ficando sempre na minha mente. Tive aulas de voz, depois toquei saxofone durante um ano, mas não queria ir para a [banda] filarmónica. Foi nessa altura que me foquei mais no canto. Comecei a tocar piano também, mas nunca me focava no instrumento em si. Utilizava-o como base para a minha diversão. Na altura era só sobre divertir-me e explorar.
Qual foi a primeira música que compuseste?
O único registo que tenho da primeira música que compus é o “Lugar Certo”, que está no último EP. Não sei se compus algo antes. Lembro-me de escrever poesia, tinha muitos diários que escondia de toda a gente. O “Lugar Certo” escrevi no 2.º ano de faculdade, penso eu.
Com que artistas gostarias de trabalhar?
Tantos. A Maro, sem dúvida. Slow J. São tantos, porque sou uma aficionada por música portuguesa. A Milhanas, com quem tenho uma ótima relação e espero que aconteça rápido (risos). E tenho tantos outros. Internacionalmente, seria a Rosalía e a Billie Eilish
Partilha um pouco da tua experiência no Conservatório. Notaste diferenças para o ensino regular?
O Conservatório surgiu quando tinha 10 anos. Estava a acabar o 5.º ano e gostava de ir aprender piano, foi então que o meu pai me recomendou ir estudar para o Conservatório. Na altura, notei que o conservatório era um ensino mais livre. Não avancei para o ensino articulado, parei no meu 4.º grau, por isso, não sei bem como funciona.
Participaste em programas como “Uma Canção para Ti”, “Ídolos”, “The Voice”… Como é que estas experiências contribuíram para o teu crescimento?
A televisão é um sítio muito enriquecedor para um intérprete e teve um peso muito importante na minha vida. Comecei muito nova, com 14 anos, no programa “Uma Canção para Ti” e nunca encarei como algo que pudesse ser benéfico para mim. O que eu queria era cantar e divertir-me. Sempre foi difícil para mim aceitar que esta exposição pode ser positiva, tive sempre muito medo e era muito acanhada. Sinto que agora, no Festival da Canção, estou a aprender lidar com isto de uma forma mais tranquila.
«Quando falo do “…ainda arde…”, é sobre a chama que existe dentro mim […} que acredito em mim para fazer aquilo que quero na vida.»
Como surge a licenciatura em Ciências da Comunicação (CC)?
A licenciatura surgiu como um plano B. A minha vontade já era ser cantora, só que sempre tive aquela insegurança de, num país com pouco acesso à cultura e com o investimento não tão grande, saber que a cultura era um risco. Acho que crescemos todos com aquele medo de seguir o nosso plano inicial. Estava na dúvida de seguir CC ou Argumentação, que era algo que eu também queria. Precisava de algo que me desse segurança caso o meu plano principal não funcionasse. Sempre gostei de comunicar, de marketing, de gerir redes sociais. E eu percebi que era um curso que também me ia ajudar a nível musical, onde podia aprender a gerir as minhas redes, a produzir conteúdo. Estava contrariada, a certa altura, mas os meus colegas de curso e de residência, “seguraram-me”. Esforcei-me para acabar o curso, porque pensei “quero seguir música, mas já aqui estou e tenho de acabar”. Quase tudo o que aprendi no curso utilizo hoje em dia.
Passaste pelo BIMM Institute em Londres e licenciaste-te em songwriting. Podes falar-nos um pouco sobre esse período?
É em Londres que descubro a minha vontade de seguir a carreira enquanto cantora e artista. Fui para um sítio sozinha e fiquei à mercê de tudo o que estava a acontecer à minha volta. E estava tão focada em crescer enquanto lá estive que aprendi muitas coisas sobre mim. Foi um momento de crescimento e de auto-conhecimento. Todo o percurso é duro, mas é possível fazer música cá no país. Por isso é que a minha intenção sempre foi voltar. A minha perspetiva de ensino lá é de de algo mais prático, porque fui para música. Ia com a ideia de ter algo mais teórico, mas foi quase sempre prática. Foi um curso que me deu bases e ideias novas para conseguir ultrapassar bloqueios criativos.
«Ainda não me ‘caiu a ficha’ de que vou representar o meu país na Suécia.»
Fala-nos da iolanda enquanto aluna? Como é que eras?
Era uma miúda que queria fazer tudo ao mesmo tempo. Queria cantar, queria estudar, queria trabalhar para pagar as despesas. Mas foi uma miúda feliz, que teve a oportunidade de ir para uma residência de estudantes e fazer amizades que ficaram para a vida. Eu queria divertir-me, mas felizmente consegui aliar a vida social ao estudo.
Lançaste o EP “Cura” em 2023, trouxeste-nos a música “Grito” em 2024. Que planos tens para o futuro?
Estou muito entusiasmada. É a primeira vez que estou a viver da minha música e esse é um marco muito importante. Estou a aproveitar muito o momento do Festival da Canção, porque é muito bonito estar só a viver isto. Aproveitar cada dia, cada comentário e mensagem que recebo, para poder retribuir. Quero continuar a aproveitar o que me dão, entregar aquilo que fizer sentido, publicar um álbum, que vai ser muito mais pessoal, virado para a necessidade de me compreender. Vou fazer a minha primeira sala em nome próprio, no Capitólio, em Lisboa, no dia 23 de maio, e estou muito entusiasmada com o que aí vem.