“Fim do Nada”, o primeiro álbum de Mizzy Miles, conheceu a luz do dia. O artista luso-brasileiro, que também é produtor, lança o seu longa-duração de estreia e, na antecâmara do lançamento, partilhou em conversa como surgiu a sua ligação com a música e o seu processo de criação. Com milhões de reproduções dos seus singles em platformas digitais, Mizzy Miles promete não ficar por aqui.     

Qual é a origem do nome Mizzy Miles?

A origem é simples mas tem uma história por trás. Antes de ser quem sou a nível de produtor e DJ, comecei por querer ser rapper. Como sempre fui mais americanizado e não prestava muita atenção à indústria musical portuguesa, queria fazer rap e cantar em inglês. Logo, queria que o meu nome fosse em inglês. Na altura, estava a pensar qual ia ser o meu nome e o que faria sentido. Veio-me o nome “Miles”, uma medida de comprimento, “milhas”, que na língua inglesa também é um nome próprio. Então “Miles”, porque simboliza a distância a que estou do meu objetivo e que vou percorrer até lá chegar. E o “Mizzy” vem do calão, é um diminutivo. Por exemplo, o Drake era o Drizzy.

Como é que a música apareceu na tua vida? 

A música apareceu logo desde muito cedo. Diria que o primeiro contacto que tive com a música foi através do meu pai e não tenho nenhum músico na minha família direta. É muito habitual nas famílias do Brasil – sou luso-brasileiro – principalmente na zona do Rio de Janeiro, ter essa veia musical do pagode e do samba. Cresci a ouvir Martinho da Vila, Zeca Pagodinho e foram eles a minha primeira escola de música. O samba e o bossa nova moldaram o meu cérebro para noção de ritmo e tom. 

 

 

 

 

Qual a importância que a música teve no teu percurso?

Teve muita importância. É aquilo que mais amo. Quando era mais novo, tinha dois amores, o skate e a música. E sempre fui mais do rap e do hip-hop. Entrei em contacto com o rap aos 10 anos e foi amor à primeira vista, aquilo moldou-me e fez-me ser quem sou hoje. Sempre abri os braços para outros géneros, porque ouço outras bandas desde o rock, ao metal e ao punk, mas o meu ADN sempre foi o hip-hop. Tanto que queria ser pro skater e rapper.

O que sentes ao ver o teu primeiro álbum pronto?

É um misto de emoções. Tira-me um peso gigante dos ombros, é o fechar de um ciclo e um sonho tornado realidade. Sinto que todos os passos que dei ao longo da minha vida, todas as decisões que tomei, escolhas que fiz, foram para chegar até aqui. Este álbum é o culminar de anos de trabalho. O meu caminho enquanto produtor, artista, é diferente de um cantor, pois estou dependente dos artistas para fazer música. Tenho que lidar com agendas e disponibilidades e é um processo só para fazer um som acontecer. Tudo gira à volta da persistência e do quanto tu queres fazer isto acontecer. E isso requer uma personalidade específica. Aguentar nãos, esperar meses para conseguir completar algo. Ver este álbum conhecer a luz do dia é muito satisfatório.

 

 

No Spotify já tens mais de 700 mil ouvintes por mês e músicas como “Bênção” e “Europa” contam com 18 e 20 milhões de reproduções, respetivamente. O que significam para ti estes números?

É um sonho tornado realidade. A prova de que é possível e que tudo valeu a pena. Fizemos isto acontecer e tornou-se maior do que estava à espera, o que só me dá ambição de fazer mais. 20 milhões é fixe, agora quero 30. Algo que está cravado em mim, enquanto pessoa, é correr atrás de mais e querer sempre mais. Por isso é que o nome da minha label é Make More, Never Less, porque é essa a filosofia que eu vivo e são essas as palavras que eu prego a todos os que se cruzam no meu caminho.

E a receção ao teu trabalho, como tem sido?

Tem sido positiva. Os números e os palcos falam por si. Acho que é muito bonito quando vês um artista em ascensão e a conseguir atingir certos patamares. Fiz palcos como o Sol da Caparica, Queimas das Fitas, onde tinha estado como espetador e quando subi ao palco pensei “como é que é possível um gajo chegar aqui?”. É a maior validação que posso ter no meu trabalho, quando somos queridos e chamados para fazer parte de certos lineups e recebemos o carinho do público.

Depois do lançamento do teu álbum, o que podemos esperar do Mizzy Miles em 2025?

Podem esperar muitos espetáculos, a tour do “Fim do Nada”. Estou a planear, após o álbum, ir passar uma temporada no Brasil e fazer um projeto gravado totalmente por lá. O meu objetivo, a minha ambição, é internacionalizar-me. 

 


«Entrei em contacto com o rap aos 10 anos e foi amor à primeira vista, aquilo moldou-me e fez-me ser quem sou hoje»


 

Numa entrevista à RDP África falaste em expansão. Além de Portugal e Brasil, onde é que a tua ambição te quer levar?

A ambição é mesmo tornar-me internacional. Sinto que sou capaz de fazer isso acontecer com o meu trabalho. Sei que tenho a skill e o talento musical para fazer isso acontecer. 

Como é o teu processo de criação? Produzes primeiro o beat e depois pensas no artista com quem queres trabalhar ou um artista mostra interesse e tu propões o som?

É sempre da primeira forma. Pode acontecer entrar em contacto com um músico ou um guitarrista e estarmos ali jamming à procura do loop e da vibe certa, mas eu já vou sempre intencionado. Não é só “bora ver o que sai”.

 

 

 

 

Como consegues ver que dois artistas vão combinar numa música?

É muito através do feeling e da vibe em si. Não foram muitas faixas onde fiz o beat e pensei, “vai ser este ou aquele”. No caso da “Bênção” foi assim, no “Fim do Nada” também. Na maioria dos casos começo com um artista e, dentro da vibe que se criou, vejo quem pode ser o artista ideal para completar o som.

Em que papel te sentes mais à vontade? De produtor, cantor ou curador?

Sinceramente, os três. Nenhum é menos confortável que o outro.

Do panorama nacional quais são os artistas com quem queres colaborar?

Plutónio.


«Algo que está cravado em mim, enquanto pessoa, é correr atrás de mais e querer sempre mais»


 

Fala-nos da tua experiência no Rock in Rio Brasil. Tendo sido criado entre Portugal e Brasil, o que significou para ti este momento?

Principalmente, afirmação e realização que é possível de migrar de um país para outro. Temos de adaptar a nossa linguagem e estratégia, mas com a persistência certa é possível. Ir ao Rock in Rio Brasil, estar no meio daqueles artistas e experimentar aquilo tudo foi bizarro.