No passado, o Centro Internet Segura realizou um webinar sobre o tema "Sexualidade e Comportamentos de Risco Online". Pode dizer-nos quais são os principais comportamentos de risco adoptados pelo jovens em Portugal? 

A Internet tem mudado a forma como nos relacionamos. Infelizmente multiplicam-se, também, as queixas com a invasão, violação da privacidade com muitas queixas da divulgação de conteúdos da esfera íntima. A procura pela pornografia também tem trazido algumas dificuldades para os relacionamentos “reais” uma vez que é usada para “aprender”, criando falsas expectativas.


Em entrevistas passadas, afirmou que a sexualidade continua a ser um tabu e que continua a ser necessário falar mais sobre esse tema. Que influência pode ter este contexto na ligação dos jovens aos comportamentos de risco? E de que forma se pode mudar esse paradigma? 

A educação sexual tem de se adaptar aos novos desafios. É importante que os jovens conheçam as potencialidades e os riscos destas novas formas de relacionamento. Hoje, temos muitas entidades que nos podem apoiar numa situação de risco. Por isso, divulgar contactos de apoio, por exemplo, é muito importante. Ainda assim, a aposta deve recair na prevenção, para não sermos confrontados com uma situação que sai do nosso controlo e que pode prejudicar-nos. Do ponto de vista do conhecimento, existe acesso a muita informação, mas muita dela é errada e não contribui para uma sexualidade saudável.

 

 

As redes sociais e a Internet são normalmente associadas a fenómenos nocivos, no que diz respeito à sexualidade dos jovens. Pensa que a tecnologia pode ocupar um papel na construção de uma vida sexual saudável para os jovens? Se sim, de que forma? 

O sexo virtual diminui as principais situações de risco, como infeções e gravidez [indesejada] mas despersonaliza-nos. Penso que pode ser uma mais-valia para conhecermos pessoas com os mesmos interesses de forma mais rápida. O consumo de pornografia pode banalizar a intimidade e dar ideias erradas do que é a satisfação e prazer. Também não queremos que as pessoas vejam na Internet a única forma de serem felizes. Passar muitas horas em frente a um ecrã tem consequências graves para o desenvolvimento – nada substitui o toque e a presença do outro, estes confinamentos têm mostrado isso. Por outro lado, tenho há 4 anos uma linha no WhatsApp de esclarecimento em sexualidade, por exemplo, que permite tirar dúvidas de forma sigilosa e gratuita. Sem as novas tecnologias, não seria possível.


No caso de algum jovem enfrentar alguns destes contextos adversos, existem alguns passos que possam ajudar à resolução da situação? Quais? 

Perante uma situação de risco não devemos fechar-nos na vergonha. Entidades como as forças policiais, a APAV – Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, entre outras, oferecem atendimento especializado perante uma situação de risco. As vítimas nunca são culpadas. Quando somos alvo de um crime, do outro lado, existem pessoas experientes e manipuladoras. Nunca devemos mergulhar no silêncio, pedir ajuda é muito importante.

 


«As vítimas nunca são culpadas. Quando somos alvo de um crime, do outro lado, existem pessoas experientes e manipuladoras»
Vânia Beliz




Como pensa que se deve caracterizar a comunicação entre filhos e pais ou encarregados de educação sobre o tema da sexualidade? 

A comunicação deve existir desde cedo. Não precisamos de nos sentar no sofá e ter “aquela” conversa. Existem muitas formas de falar sobre as temáticas da sexualidade de forma aberta e sem rodeios. Começar na puberdade ou adolescência é um erro. É óbvio que existem temas que são da nossa esfera íntima e que não precisamos falar,  mas devemos ter neles um porto seguro. Cabe às famílias educar para o estabelecimento de relações saudáveis de forma a evitar situações de abuso. Educar para a sexualidade não é apenas falar de sexo.



Há alguma mensagem que queira deixar aos estudantes portugueses? 

A Internet não é um bicho papão, tem muitas coisas que vieram melhorar os nossos relacionamentos. Mas viver dentro dos ecrãs pode ser redutor e dar-nos uma perspetiva de que precisamos de ser tão felizes ou tão bem-sucedidos como os influencers que conhecemos. Quanto à intimidade, é importante evitar enviar conteúdos que nos possam comprometer e refletir sobre cada mensagem enviada. Se, antes, o que acontecia num sítio ali ficavam agora nunca estamos sozinhos. Nunca estamos longe de uma câmara que nos pode catapultar para o mundo, pelo melhor e pelo pior motivo.

 

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