Tcherno Amadu Baldé nasceu e cumpriu o seu percurso escolar na Guiné-Bissau. Veio para Portugal para estudar no ensino superior e aí teve o primeiro contacto com a Academia de Líderes Ubuntu. Agora, com o Prémio António Brandão de Vasconcelos, vai cumprir um sonho e prosseguir os estudos, seguindo um doutoramento. Em conversa com a FORUM, Tcherno partilhou o impacto da filosofia Ubuntu na sua vida, contou-nos sobre o seu percurso e falou dos seus objetivos.
Como te sentes depois de vencer o prémio António Brandão Vasconcelos?
Sinto-me bem. Agora melhor, inclusive já comecei o doutoramento, que tem estado a corresponder às minhas expectativas. Estou muito feliz por ter recebido o prémio que me permite ter a possibilidade de concretizar este sonho.
O valor do prémio vai ajudar-te nessa concretização?
Certo. Vai ajudar a financiar o doutoramento que é um projeto de vida. O impacto deste prémio não será só sentido agora, mas também posteriormente.
Quando é que a Academia de Líderes Ubuntu (ALU) entrou na tua vida?
A Academia Ubuntu entrou na minha vida a partir da faculdade. Sou da Guiné-Bissau. Entrei para licenciatura em 2012, em Ciência Política e Relações Internacionais, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa. Nessa altura, conheci alguns jovens guineenses, pessoas que procurava como referência para obter dicas e ajudar na minha integração, que estavam a participar na Academia de Líderes Ubuntu (ALU) e me falaram dos fins de semana de formação, partilharam as suas experiências. Foi assim que fui tendo conhecimento. Eram pessoas que falavam com grande entusiasmo, quis conhecer e saber mais e fui à procura, entrando na quarta edição da academia.
«Sou um produto de um projeto de família, de um esforço coletivo. Todos se aplicaram e contribuíram à sua maneira, com a parte motivacional e financeira»
O que te levou a juntar à ALU?
Era a oportunidade poder estar com outras pessoas, mas não só isso. Pelo impacto, valores de que falavam e eram transmitidos na Academia, pelas figuras de referência que tinha – como Nelson Mandela ou Martin Luther King Jr. – e pelas origens da filosofia “Eu sou, porque tu és”. Tudo isso fez com que quisesse descobrir mais.
Sentes que juntares-te à ALU ajudou no teu processo de integração em Portugal?
Ajudou porque tínhamos a possibilidade de conhecer outros jovens de origem migrante. Eram um lugar de encontro, onde podíamos encontrar pessoas de backgrounds diferentes. Depois, reuníamos em grandes ou pequenos grupos de trabalho e isso obviamente que ajudou no processo de integração, conhecer pessoas, não só de Lisboa, mas de vários pontos do país.
Que impacto sentes que teve na tua vida?
Acho que veio reforçar algumas convicções, na forma como tinha de ver o mundo como espaço para todos e onde todos possam ter lugar. Como um espaço de construção de pontes. Deu-me ferramentas e inspiração através da metodologia, conteúdos e pessoas. Uma vez que a academia valoriza muito o poder das histórias de vida, tínhamos oportunidade de conhecer histórias de vida incríveis em termos de superação pessoal, o que nos inspira. Posso dizer que me assumi como embaixador do projeto. Fui um grande divulgador e incentivei outros jovens a entrar na Academia e a fazer a formação. Ver o impacto da academia nas escolas é mesmo gratificante. Acaba por ser uma vivência.
Fala-nos um pouco do teu percurso até vir para Portugal.
Nasci e cresci na Guiné-Bissau. No seio de uma família grande, sou o mais novo de 9 irmãos. Tive a sorte de estudar em boas escolas da Guiné do 1º ao 12º. Os esforços financeiros da família, como eu era o mais novo, foram concentrados em mim. A par da educação convencional, a educação religiosa muçulmana também esteve muito presente na minha vida
O esforço coletivo da tua família inspirou-te ao longo do teu percurso educativo?
Correto. Sou um produto desse projeto de família, desse esforço coletivo. Todos se aplicaram e contribuíram à sua maneira, com a parte motivacional e financeira.
«Ver o impacto das Academias de Líderes Ubuntu nas escolas é gratificante»
Como eras enquanto aluno?
Do 1º ano até ao 6º ano fui um bom aluno. Depois, houve um período entre o 7º e 8º ano mais complicado. Era uma pessoa mais introvertida e não era fácil com as mudanças. Demorei-me a adaptar a uma nova realidade, passei de uma escola para um liceu e havia um medo dessa realidade. Desviei-me dos meus objetivos, faltando às aulas, discutindo com professores… Foi um período marcante. Que serviu de viragem e ganhei consciência dos esforços da minha mãe.
Tcherno Amadú Baldé é o vencedor do Prémio António Brandão Vasconcelos 2023
Vencedor da segunda edição do prémio recebe apoio no valor de 5 mil euros para prosseguir estudos no Ensino Superior.
Quais os teus planos para o futuro?
A curto prazo, é mesmo concluir o doutoramento e continuar a trabalhar com a ALU. São estes os objetivos a curto-prazo. A longo prazo, gostava muito de voltar à Guiné-Bissau.