Juntos, os irmãos Fradique e António Mendes Ferreira são os Calema (que significa ondulação forte no mar). A 7 de junho de 2025, no Estádio da Luz, o duo quer levar o público numa “viagem inesquecível” pelas ondas da sua música e partilhar uma história que já passou por São Tomé e Príncipe, França e Portugal. Conhece melhor os irmãos Mendes Ferreira, a sua história e o que significa para eles este marco na carreira.
Como surgiu a música na vossa vida?
António: Desde muito novos que estávamos habituados a ouvir música em casa. Os nossos pais escutavam muita música sertaneja, brasileira, africana. E nós, consequentemente, fomos influenciados, ao ouvir essas músicas. Começámos a cantar na escola, na igreja e o nosso interesse nasceu assim, naturalmente. Nasceu muito cedo e, ao longo da nossa caminhada, vimos que a música nos podia levar mais longe. Na altura, era um hobby. Cantávamos porque gostávamos. Depois, os nossos pais viram que tínhamos essa faceta artística e sugeriram que juntássemos as nossas vozes e fizéssemos música em conjunto. A partir daí, a vontade de fazer música apenas cresceu.
Foram os vossos pais quem vos empurrou mais para o caminho da música?
António: Um bocado. Os nossos pais influenciaram, mas já tínhamos interesse.
Fradique: Também era do ambiente que tínhamos em casa. Da cultura. Foram esses estímulos que levaram a que crescesse o bichinho.
Chegaram a Portugal para estudar e depois foram para França, sempre com a música na cabeça. Como definem o vosso caminho até chegarem onde estão?
Fradique: Um conjunto de desafios, tentativas e aprendizagens. Encontrámos várias dificuldades e barreiras, mas tivemos um sonho e lutámos para o alcançar. Cada vez que dávamos um passo, era uma porta que se abria e chegou a uma altura em que vimos que podíamos viver da música. Fomos investindo cada vez mais. O não desistir e acreditar fez de nós aquilo que somos hoje.
António: O percurso, de certa forma, fez aquilo que somos. Não foi fácil, mas os desafios foram essenciais para que os Calema se tornassem aquilo que são hoje.
Lembram-se do vosso primeiro espetáculo? Como e onde foi?
António: Foi em São Tomé. Na Praça da Independência de São Tomé, no Dia da Independência de Cabo Verde. Estava lá toda a comitiva cabo-verdiana. Foi há alguns anos.
«Vemos nos concertos o quão impactantes são as nossas músicas, o que nos faz sentir realizados e com vontade de continuar»
Já passaram por algumas das salas mais emblemáticas do panorama musical português, como o Coliseu dos Recreios e o Pavilhão Atlântico (MEO Arena). O que representa para vocês tocar no Estádio da Luz?
Fradique: Para nós é um sonho. Será, sem dúvida, o maior concerto das nossas vidas. É um lugar com muita importância, não só por sermos benfiquistas, mas também pelo que o estádio representa a nível nacional e internacional. É uma forma de reunirmos todas as pessoas que acreditaram em nós desde o início, que nos deram esse voto de confiança, e de naquele dia, todos juntos, dizermos com orgulho que valeu realmente a pena não termos desistido. E, de certa forma, influenciar todos os que têm um sonho, têm fé e acreditam que podem conseguir. Dentro da lusofonia, queremos mostrar que é possível chegar a estes palcos. O Estádio da Luz vai ser um espetáculo de conquista e de todos aqueles que fizeram que isto se tornasse realidade.
António: Este vai ser um marco histórico para toda a lusofonia, para a língua portuguesa e para os jovens que vêm de São Tomé e Príncipe. A mensagem que queremos enviar é: independentemente de onde vens, se trabalhares, lutares e tiveres foco, tu consegues um dia fazer um Estádio da Luz, ser um astronauta, um empresário de sucesso ou alguém que inspira a próxima geração.
O que podem esperar os vossos fãs quanto a esse concerto? Têm surpresas preparadas?
Fradique: Claro! Um concerto desses tem de ser uma experiência inesquecível para todos os que lá estiverem. Temos muitas surpresas, convidados especiais, internacionais. Um bocado de tudo. Tal como o nome do nosso álbum “Voyage”, vai ser uma viagem.
António: Será um concerto cheio de surpresas. Vai ser único!
Há algum nervosismo que vem com este concerto?
António: Claro. É um desafio. Há uns tempos falávamos em fazer o Coliseu de Lisboa e lutámos para o conseguir, depois veio o Campo Pequeno e outras salas como o Altice Arena, o Olympia em França. Para nós fazer o Estádio da Luz é magnífico.
Fradique: Dá aquele frio na barriga. Estamos a falar de perto de 60 mil pessoas e temos de criar um espetáculo para que todas essas pessoas se sintam conectadas. É uma conquista para a música portuguesa ter, pela primeira vez, no Estádio da Luz, um artista lusófono. Acreditamos que vai ser um show maravilhoso.
A trilogia Voyage é ilustrativa do percurso que fizeram enquanto artistas, dos locais por onde passaram e das pessoas que conheceram?
António: Exatamente. Dividimos o álbum em três fases da nossa vida, onde passámos por França, Portugal, São Tomé. Mesmo a nível musical, melódico e de história, fazemos as pessoas viajarem um pouco no nosso percurso e naquilo que vivemos. Foi isso que tentámos trazer para as pessoas que nos seguem.
Quando partilham esse lado mais íntimo com os vossos fãs, qual é a mensagem que querem passar?
António: É uma mensagem de partilha, de não desistir e de esperança. O nosso objetivo é melhorar e inspirar o dia das pessoas com as nossas mensagens. Vemos nos concertos o quão impactantes são as nossas músicas, o que nos faz sentir realizados e com vontade de continuar a fazer música todos os dias e a transmitir essa energia.
«O nosso objetivo é melhorar e inspirar o dia das pessoas com as nossas mensagens»
Além de trabalharem na vossa música, também têm colaborado com artistas como o Nuno Ribeiro, os Anjos e Dino d’Santiago. Têm alguma lista de desejos de artistas, nacionais ou estrangeiros, com quem gostavam de colaborar?
Fradique: Em relação a artistas, claro que há muitos com quem gostaríamos de colaborar, mas é muito uma questão de feeling hoje em dia. Nós temos uma perceção diferente e, quando estamos no estúdio, é que sentimos a vibe. Às vezes idealizas as coisas, um artista, uma música, mas na prática não acontece como imaginaste. Procuramos desenvolver uma relação primeiro com o artista, para ter o feeling e depois, no estúdio, criarmos coisas extraordinárias. Hoje a nossa filosofia é essa, conhecer a pessoa primeiro e no estúdio desenvolver a parceria.
António: Para nós, fazer parcerias ajudou-nos a espalhar a mensagem dos Calema. Queremos colaborar com artistas de renome, como fizemos com a Marisa, o Nuno Ribeiro e outros . Queremos continuar a colaborar com mais artistas, para levar a língua portuguesa mais longe e explorar novos mercados.
O que gostam de fazer nos vossos tempos livres?
António: Muita coisa (risos). Ir à pesca, andar na natureza, mergulhar. Fazer desporto, jogar futebol.
Fradique: É a mesma coisa em termos de hobbies. Passar tempo com a família, com os meus filhos, a minha esposa. Fazer um pouco de tudo o que nós fazíamos em São Tomé e Príncipe. Tudo aquilo que envolve o contacto com a natureza, adoro. Manter o lado de criança vivo e não só. Fazíamos tanta coisa lá que os adultos cá não fazem, como ir à caça, andar na mata, cozinhar no mato, trepar árvores de fruto. Fomos criados na natureza e isso deu-nos uma ligação enorme. Trazemos a natureza sempre connosco.
Como é que vocês eram enquanto estudantes?
António e Fradique: (risos)
António: Depende da disciplina. No meu caso, gostava de tudo o que era relacionado com Ciências, Arte e Comunicação. Matemática também, mas não percebia nada daquilo. (risos)
Fradique: Gostava de Educação Visual e de História. Como em São Tomé vivíamos longe da escola, isso influenciou bastante a minha relação – sentia-me um peixe fora de água.