Em junho deste ano, uma iniciativa da FNAJ resultou em “25 Objetivos da Juventude Portuguesa” que foram inclusivamente partilhados com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. O que é que nos podes contar sobre este projeto?

Tal como a Forum, a FNAJ também celebra em 2021 uma data redonda – neste caso, 25 anos de existência (risos). Foi essa razão pela qual escolhemos apresentar 25 medidas. Este projeto surge no seguimento de outras agendas internacionais, como os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), a nível mundial, ou os European Youth Goals, a nível europeu. Nós quisemos perceber se, no caso dos jovens portugueses, o mapeamento de objetivos era semelhante ou muito desfasado dessas agendas. Estes objetivos foram criados através de um longo processo de maturação, com cimeiras e fóruns online, em que, no total, foram envolvidos mais de 1000 jovens. No final, foram selecionados 25 jovens, de todos os distritos e regiões autónomas, que deram a cara pelos 25 objetivos a propor.

 

Podes conhecer os 25 Objetivos da Juventude Portuguesa aqui.

 

Para além do momento de partilha com o Presidente da República, que outros caminhos preveem para corporizar estes objetivos?

Estes objetivos integram uma agenda para inovação das politicas de juventude que incluiu a realização de cimeiras que têm envolvido decisores políticos como autarcas, governantes, secretários de estado ou ministros. O objetivo é que consigamos assumir um compromisso local e nacional. É por isso que, no final deste ano, vamos realizar uma cimeira atlântica na Madeira, para criar o primeiro Pacto para a Juventude. Este pacto procura levar a que os estados central e local assumam, de uma vez por todas, metas – metas tangíveis a curto, médio e longo prazo – ou seja, que exista um princípio de aplicação e de compromisso para com a nossa geração. No futuro, vamos continuar a sentar os agentes políticos à mesa com os jovens para assumir compromissos.

 

 

Sobre a ação dos jovens, hoje em dia, pensas que os jovens estão especialmente despertos para questões como o ativismo? E que impacto tem essa ligação no associativismo juvenil?

Há muito que percebemos que as formas de participação da minha geração e das próximas que virão serão muito diferentes das que já cá estão há mais tempo. Não só porque hoje temos o ativismo digital, mas também porque temos formas de estar e comunicar diferentes. Hoje em dia, vemos cada vez mais a arte como forma de crítica social e intervenção política, seja através da música ou das artes plásticas, por exemplo. Vemos jovens que também fazem isso com a partilha de memes, que pode ser vista como uma forma de participação política. A questão que se coloca sempre – e esta deve ser uma preocupação dos jovens – é se estas novas formas de participação têm implicações nas ações políticas dos governantes.

 


«O associativismo é a forma mais genuína e espontânea de uma sociedade se expressar»


 

E pensas que estas novas formas de participação têm implicações nas ações políticas dos governantes?  

Creio que não têm ainda na medida certa. Se esta participação digital não passar de uma indignação que não resulta em mudanças políticas, aí nós, jovens, tempos de perceber se teremos de adotar formas diferentes de participar e reivindicar os nossos direitos, sob pena de essa reivindicação não se traduzir na melhoria da qualidade de vida dos jovens.

 

O associativismo juvenil pode ser um caminho para encontrar essa representação mais eficaz?

Não tenho dúvidas nenhumas. O associativismo é a forma mais genuína e espontânea de uma sociedade se expressar. Seja através da participação de jovens ou não jovens. É uma expressão objetiva, porque estamos a falar de organizações formais, constituídas, e que não representam um só indivíduo, mas também um coletivo. Portanto, têm uma força de expressão e reivindicação muito superior ao que pode ser a nossa inquietação pessoal numa rede social. É nesta medida que também queremos que as associações juvenis e estudantis sejam determinantes na forma de participar na sociedade.

 

 

Quais são as mais-valias que um jovem pode retirar da participação no movimento associativo?

O primeiro ponto é que participar no associativismo juvenil aumenta o seu núcleo de amigos. É possível encontrar amigos que pensam de forma idêntica e de forma diferente. Em segundo lugar, existe o desenvolvimento pessoal, as competências pessoais adquiridas, em áreas como gestão de projeto, gestão de equipas ou falar em público, por exemplo. Há ainda um vetor muito importante que é a diferença que fazemos na sociedade. No associativismo, estamos a colocar parte do nosso tempo ao dispor de uma comunidade, seja numa associação ambientalista, cultural ou de voluntariado, por exemplo. Uma das grandes riquezas do movimento associativo é oferecer-nos horizontes mais amplos. Não tenho duvidas que marca quem por lá passa.

 

Referiste que esta é uma geração marcadamente solidária. O que é que encontras na tua vida diária que dá corpo a essa visão?

Eu penso que as causas que os jovens abraçam mostram isso. Atualmente, os jovens batem-se muito pelo ambiente. O ambiente não é uma causa individualista, estamos a falar da proteção da casa de todos nos que é o planeta. De igual forma, os jovens têm-se insurgido permanentemente contra abusos de direitos humanos, injustiças ou desigualdades. O movimento Black Lives Matter, bem como outros, noutros países, mostram isso. Temos visto, cada vez mais, jovens na linha da frente. Esta é uma geração que tem procurado um mundo mais justo e igual, procurando estar na linha da frente destas batalhas e levar a sociedade a reboque. Outro exemplo é visível no papel dos jovens durante o confinamento resultante da pandemia da Covid-19, disponibilizando-se para apoiar as populações mais fragilizadas. Só espero e desejo que este ímpeto dos jovens seja um fator transformador da nossa sociedade. Eu acredito que seremos capazes de fazer isso mesmo.

 


«[Nós, jovens,] não estamos de mão estendida, não pedimos nada dado, nada que não seja justo. Só esperamos é que sejam geradas oportunidades para mostrarmos as nossas competências e potencialidades»


 

Acreditas que a pandemia pode ser uma oportunidade para levar os jovens a redescobrir a ação comunitária, associativa e de impacto direto na comunidade?

Não tenho dúvidas disso. Penso que as nossas associações podem tirar partido disso e já estão a tirar, envolvendo uma nova geração que tem procurado ser uma nova solução para quando o país atravessa um problema. Apenas esperamos que esta veia solidária tenha um reverso da medalha, que a sociedade olhe para nós e tenha consciência de que precisamos de oportunidades para nos afirmarmos. Não estamos de mão estendida, não pedimos nada dado, nada que não seja justo. Nós só esperamos é que sejam geradas oportunidades para mostrarmos as nossas competências e potencialidades. Estamos cansados de ser uma geração de rótulos, como a “geração mais bem preparada” e “mais bem qualificada”, sem que isso se traduza em melhor qualidade de vida, melhores empregos e, acima de tudo, num futuro melhor. Basta de rótulos, queremos apenas concretizar os nossos sonhos e ser felizes. Se a sociedade não conseguir perceber isso, caberá a nós, jovens, ocupar lugares de decisão para que consigamos mudar essa realidade, sendo os agentes e protagonistas desta mudança, através de uma postura política ativa e de participação cidadã.

 

 

Há alguma mensagem que queiras deixar aos estudantes portugueses?

Sim. Acima de tudo, que nunca deixem de expressar as suas ideias e opiniões, mesmo que pareçam diruptivas, pois é uma caraterística fundamental da juventude ter ideias fora do nosso tempo. É essa a missão que nós, jovens, temos: desassossegar quem cá está. E apresentar sempre visões diferentes sobre a sociedade. A participação em associações de estudantes e em associações juvenis é um veículo fundamental para afirmarmos a nossa voz. A minha mensagem é essa. Não percam a vossa voz, pelo contrário, partilhem-na sempre. Há sempre espaço para as ideias, sejam elas mais disruptivas ou mais utópicas.