A edição anual do Festival Periferias está de volta. Esta iniciativa, que existe desde 2011 e dá palco a artistas emergentes, levará, de 17 a 20 de março, as artes performativas até Sintra, com espetáculos nas várias salas da vila, mas também ao vivo nas ruas, perto de toda a população. Dança, música, teatro, teatro de marionetas e de miniaturas e ainda uma feira do livro farão parte dos quatro dias do evento.
A Forum Estudante esteve à conversa com o diretor artístico da Associação Cultural Chão de Oliva, Nuno Correia Pinto, a entidade organizadora do festival.
Fala-nos um pouco sobre Associação Cultural Chão da Oliva.
Esta associação é uma entidade que nasceu e faz um trabalho em Sintra, mas que tem uma proporção maior do que o concelho de Sintra. Vem-se afirmando em festivais internacionais e é convidada para estar presente e atuar de norte a sul do país. Tem o seu espaço na Casa de Teatro de Sintra e o seu trabalho vai desde a formação de professores da escola de teatro de Sintra a várias oficinas. As oficinas incluem cursos de iniciações teatrais, que são oficinas lúdicas, educativas e de sensibilização da população para as artes.
Há muitos jovens a aderir à associação, todos os anos?
Não tenho um número concreto neste momento, mas temos imensos jovens. Existem até várias iniciativas e oficinas dedicadas exclusivamente aos jovens. Aproveitamos para proporcionar o desenvolvimento de capacidades para que os jovens percebam que também podem "ganhar dinheiro” através da arte, que podem realizar os seus sonhos. Acreditamos que as artes podem acrescentar algo à vida das pessoas.
"A arte torna os jovens melhores cidadãos, mais capazes de enfrentar as dificuldades que o mundo traz"
Que importância têm as artes na vida dos jovens?
As artes dão uma capacidade tremenda àquilo que nós, portugueses, somos caraterizados, que é a criatividade. Dá-nos a capacidade, a partir das várias linguagens artísticas, quer das expressões plásticas, dramáticas ou musicais, de nos adaptarmos, de ver que as coisas não têm uma única linguagem, têm vários pontos de vista. A arte torna os jovens melhores cidadãos, mais capazes de enfrentar as dificuldades que o mundo traz.
É muito difícil, para um jovem, viver das artes em Portugal?
Acho que é muito difícil viver em Portugal, em qualquer área (risos). Quando ambicionamos algo, temos de lutar por isso. Para nos apropriarmos daquilo que foi o nosso percurso, a nossa história. A diferença, no mundo das artes, é que não há uma necessidade prioritária de consumo. A cultura, muitas vezes, fica para o fim porque não fomos habituados à mesma, em Portugal.
Noutros países os hábitos de consumo são diferentes?
Há outros povos que dão muito mais valor à cultura do que o povo português. Nós nunca fomos habituados a olhar para a cultura como um consumo prioritário, necessário para o nosso ser.
Em relação ao festival Periferias, quais são as suas particularidades?
Em primeiro lugar, é um festival que acolhe artistas que vêm de todos os cantos do país. Damos preferência a apresentar aqui, na Casa de Teatro, estruturas de vários géneros de arte, como marionetas, dança, música, preferencialmente de pessoas que venham de fora da área de Lisboa, para que tenham a oportunidade de se apresentarem. Além disso, queremos que as pessoas de Lisboa possam ter acesso a cultura vinda de outras cidades.
Por isso é que o festival se chama "Periferias"?
Exatamente. Em primeiro porque, estando em Sintra, sentíamo-nos na periferia, por estarmos a 40km de Lisboa (risos). Além disso, porque gostamos de apostar em coisas diferentes, em arte mais contemporânea e fora do comum. Isso é ser periférico, ter um pensamento periférico, fora da caixa.
Como são selecionados os artistas?
Geralmente escolhemos um tema e vamos buscar artistas que estejam dentro do mesmo. Este ano escolhemos a “memória” como tema para trabalhar. Temos por exemplo um artista, o Rogério, que trabalha a relação da memória com a civilização. Convidámos também a Karyna Gomes, que é guineense, que nos traz um concerto com sonoridades das suas raízes, tipicamente tribais, e mistura-as com sonoridades contemporâneas. As nossas memórias não têm de ficar estanques, não têm de ficar secas, temos de as ir regando.
O festival tem um espaço físico?
O Periferias é um festival que, além dos espetáculos fechados, vai também para as ruas, para as aldeias, para proporcionar espetáculos de música e dança, onde as pessoas não têm muitos hábitos de consumo.
Esperam muita adesão do público?
O festival tinha muita adesão do público em 2020. Com as questões pandémicas, veio a alterar-se um pouco o cenário. O medo ainda está muito presente na vida das pessoas. Ainda há algum receio em comparecer. No ano passado, dividimos o festival em quatro momentos (em cada uma das estações do ano), e fomos adaptando às medidas da altura. Neste ano, concentramos tudo na mesma semana para que as pessoas vão voltando à rotina do consumo das artes.