Juntos, os estudantes do ensino superior Mafalda Rodrigues, Miguel Azevedo, Miguel Pereira e Matias Ferreira são os Marquise. A banda lança hoje o álbum "Ela Caiu", o seu primeiro longa-duração enquanto grupo, depois de um primeiro EP lançado em 2023. Em conversa com a FORUM, os Marquise dão a conhecer as suas origens, influências e partilham as ambições que têm enquanto grupo.
Como se conheceram?
Miguel Pereira: Eu e o Matias conhecemo-nos logo no 5.º ano na Escola Francisco Torrinha, no Porto, andando nas mesmas escolas até ao 12.º. Conhecemos o Miguel Azevedo na Escola Garcia de Orta, quando fomos para o 9.º ano e ele era da nossa turma. A Mafalda conhecemos quando fomos estudar para a Escola Artística Soares dos Reis.
Como surgiu a ligação à música?
Miguel Azevedo: Antes de nos juntarmos, o Miguel [Pereira] e o Matias já tinham tocado em muitos projetos, inclusive com a Mafalda. Uma vez, fomos a um estúdio juntos, no Marquês, fazer covers de bandas. A caminho do estúdio, o Miguel Pereira encontrou a Mafalda, que se juntou a ele. Começámos a tocar covers, descobrimos que gostávamos de fazer música uns com os outros e decidimos continuar. Foi algo bastante orgânico. Fomos fazendo o que nos apetecia e deu ganas para compor umas coisas.
E quando viram que tinham maturidade para lançar algo?
Miguel Pereira: Começámos logo a trabalhar em originais. Uma das primeiras em que trabalhámos foi a “Nave”, que foi uma ideia do Azevedo, que me mostrou. No ensaio, decidimos trabalhar nisto e o resto foi surgindo. Cada um levava uma ideia e íamos vendo. Depois o EP saiu naturalmente desse conjunto de músicas que achámos que eram fixes lançar.
«Fomos fazendo o que nos apetecia e deu ganas para compor umas coisas.»
Miguel Azevedo, Marquise
O vosso processo criativo como é?
Miguel Pereira: É orgânico no sentido em que uma pessoa manda uma ideia que faz em casa no computador, outras vezes mandamos em áudio e vamos discutindo. Estamos os quatro, temos o feedback individual de cada um e depois vai-se juntando.
De vocês quem é que mais gosta de escrever?
Miguel Azevedo: Letras é a Mafalda. Música é o Matias, que vai compondo muito com guitarra.
O nome Marquise, como é que surgiu?
Mafalda Rodrigues: Foi uma luta. Nós precisávamos de um nome e não podíamos ser uma banda a dar um concerto sem nome, passámos muito tempo a pensar, ninguém gostava de Marquise…
Miguel Pereira (interrompe): Tu gostavas.
Mafalda (risos): Gostei porque fui eu a dizer “e se nos chamássemos Marquise?”. Mas eles não estavam muito a favor do nome. Não há mesmo uma razão muito específica, a não ser o estúdio que é no Marquês e toda a questão fonética.
Quem foram os artistas que mais vos influenciaram?
Mafalda: Cada um tem o seu gosto individual (risos). Para mim a Lena d’Água sempre foi uma grande referência, sempre convivi muito com a música e as letras dela. A Banda do Casaco também tem sido uma referência, na parte lírica.
Miguel Pereira: Pixies é um nome comum entre os quatro. As bandas do grunge e não só, anos 80 e 90. Uma banda que me tem entusiasmado ultimamente é Fontaines D.C.. Provavelmente, para mim, a maior influência é Radiohead.
Matias: Em termos de composição, acho que as minhas grandes referências foram Beatles. Continuo a gostar muito de Nirvana.
Miguel Azevedo: O que costumo ouvir não é o que mais me influência, pelo menos a compor. Tenho como grandes referências Red Hot Chilli Peppers e gosto muito de Jamiroquai. Há também um álbum de R&B que mudou a minha vida toda no que toca a tocar baixo, que é o “Voodoo”, do D’Angelo.
«Nunca nenhum de nós falou sobre ser uma cara do rock português, nem alguma vez foi tema de conversa.»
Miguel Azevedo, Marquise
Sentem que neste álbum ainda estão a explorar a vossa sonoridade?
Mafalda: Acho que a nossa sonoridade está mais sólida. Pelo menos é a minha perspetiva, o mesmo com o álbum.
Miguel Azevedo: É muito fruto de passarmos tempo a tocar uns com os outros. Conseguimos perceber quais são as coisas que a Mafalda tende para compor ou cantar e as melodias em que o Miguel trabalha. O nosso estilo vai mudando, daqui a 10 anos sabe-se lá o que vamos estar a ouvir ou lançar.
Miguel Pereira: Também diria que estamos sempre em evolução. Posso estar a ouvir música eletrónica num mês e pop no outro. Este álbum está mais coeso, mas mais pesado que o EP.
Matias: Um dos desafios que tivemos a montar o álbum foi pensar no alinhamento. E foi fixe perceber como as músicas jogam umas com as outras e funcionam muito bem. Cada música tem a sua cena distinta e diferente. Não estamos propriamente com um som só.
O que podem esperar os vossos fãs no concerto de apresentação?
Matias: Nós estamos a preparar um concerto denso, mas fixe. Os fãs podem esperar aquilo a que estão habituados, que é metê-los todos a dançar.
Querem ser a cara de uma nova geração do rock portuense?
(em uníssono): Não necessariamente.
Miguel Pereira: É difícil de definir. Mesmo quando lançámos o EP, não estávamos com grandes expectativas. É mais o que acontecer, acontece.
Matias: Nunca começámos, decidimos ou continuamos a fazer a música, nem para agradar a nenhuma cena da música ou do rock. Acho que enquanto o pessoal continuar a gostar do que nós vamos lançando é fixe.
Mafalda: E este álbum não foi feito com um intuito de ter um fim específico…
Miguel Azevedo: Acho que os nossos objetivos são mais fazer música que gostamos e ver o pessoal a curtir a música como consequência disso. É bom partilhar o que gostamos e as pessoas partilharem isso. Nunca nenhum de nós falou sobre ser uma cara do rock português ou da nova geração do rock portuense, nem alguma vez foi tema de conversa. Mencionarem que estamos nessa geração é um elogio e nós os quatros agradecemos, mas não estamos à procura.
Qual é que acham que é o lugar do rock na sociedade?
Miguel Pereira: Cada vez mais penso que se vê música que não é pop a ser popular. Desde o confinamento penso que as pessoas estão mais transversais no que ouvem e muito mais ecléticas. Qual o papel do rock? Não sei.
Miguel Azevedo: Pelo menos aqui em Portugal sinto que o rock está bastante inserido, especialmente no Porto, na cena underground, que é muito forte e dedicada. A ideia que tenho é que o rock está a expandir.
Como aliam os estudos com a música?
Miguel Azevedo: Se alguém quer muito alguma coisa, faz para que aconteça. Gosto muito de Matemática em Lisboa e de rock com os meus amigos no Porto. Passo a vida a fazer piscinas, para poder fazer algo que gosto bastante.
Mafalda: É cansativo, mas para mim pelo menos, é um prazer.
Quais é que são os vossos objetivos para 2025?
Miguel Pereira: Que os concertos corram bem e que a gente se divirta a tocar. Que ninguém parta instrumentos, que isso também não dá muito jeito (risos).
Miguel Azevedo: Que consigamos continuar a equilibrar isto tudo, eu acho. Fazemos quase vida dupla, enquanto estudantes e músicos, acho que o objetivo é mesmo manter esse equilíbrio. Vou entrar em ano de tese e quero adaptar-me bem a isso.
Matias: Que o disco chegue ao maior número de pessoas possível e que o pessoal curta.
Mafalda: Estou super ansiosa para voltar a ensaiar e a fazer coisas novas. Quero muito. É o fechar de um ciclo e o iniciar de outro.