Garante que gosta de estar no cantinho, com a sua namorada e a sua vida. Mas, por estes dias, no momento em que lança o seu disco de estreia, poucos na rua não darão conta de quem é Murta. Concorrente nada vencido do 'The Voice Portugal', aos 21 anos, edita 'D’Art Vida'. Eis o fruto do seu amor pela música, um lote de canções nos quais ambiciona revelar “um progresso constante”, para si, a única chave para ganhar raízes nesta indústria.

Com que emoção assistes agora o lançamento do teu álbum de estreia?
É estranho. Apesar de ainda agora estar tudo a começar, sinto já muita gratidão por causa da boa reação das pessoas, que já estão a consumir o álbum e a partilhá-lo. Sinto que ainda há muito para fazer. Ainda há muitas facetas minhas para mostrar. A vida continua e eu tenho já novas histórias para contar. Já estou a preparar um segundo álbum. Estou bué ansioso para continuar a mostrar o meu trabalho. Só espero que me deixem fazê-lo (risos).

Sentes que foi um longo caminho até chegares a este ponto? Tiveste de batalhar muito?
Sem dúvida! Sem dúvida! Toda a gente tem um longo caminho até chegar a algum lado. Pode não ter sido sempre no universo da música, mas o meu caminho foi longo. Sem dúvida que fiz por estar onde estou e que mereço isto. Não se deve parar.

É esse o conselho que dás a quem queira seguir uma carreira musical?
Sim, sim. Havia um rapper na minha zona [Figueira da Foz], que entretanto deixou de escrever e pôr sons, que tinha uma frase bué interessante e que sempre me bateu bastante: “o sucesso virá quando o progresso é constante”. Isso fez-me sempre sentido. Só consigo prometer um progresso constante. Aconselho a não pararem, a progredirem sempre. Não tentem fazer algo pelos outros. Entreguem-se a trabalhos de qualidade, com mensagem, com energia (seja ela positiva ou negativa) e com alguma lição por trás. E o sucesso virá, porque alguém se vai identificar. Se for sincero, alguém acabará por se identificar.

 

Murta 2

 

Mesmo que pelo caminho se ouçam muitos “nãos”?
Claro! Podes levar um “não” numa etapa da tua vida mas isso não quer dizer que devas parar. Eu levei um “não”: não ganhei um programa. Não fiquei com um contrato e continuei, progredi. E agora estou na mesma editora que a pessoa que ganhou esse programa. Mas com mais dois anos de experiência a batalhar sozinho, a ganhar maturidade artística e pessoal. E agora não foi um “não”, foi um “sim”. É o que os miúdos têm de perceber: a vida não é sempre “sim”. Pode haver “nãos” e isso não quer dizer nada.

No ´The Voice Portugal ganhaste, pelo menos, mais experiência de palco…
Já antes do programa dava alguns concertos, o que me ajudou bastante na experiência de palco e no contacto com as pessoas. Mas, sem dúvida, que o programa ainda me ajudou a crescer mais nesse aspeto. Também me ajudou a perceber que as coisas não são assim tão perfeitas quanto parecem na televisão. Isto tudo faz parte e ajuda a que a visão do artista também se molde. Foi o que me aconteceu.

O programa ajudou a divulgar o teu nome: agora, toda a gente sabe quem é o Murta. Como é isso de ires na rua e dizerem “Olha, o Murta! Olha, o Murta!”? Já não tens sossego?
Eh, pá, como é que eu posso dizer isto sem parecer ingrato: eu amo as pessoas e amo quem me ama e quem ama o meu trabalho porque é para essas pessoas que eu faço o que faço. Mas eu não gosto nada dessa parte de ser abordado... Não é mesmo a minha “cena”. Eu adoro estar no meu cantinho, com a minha namorada, com a minha vida. Gosto de estar tranquilo. Mas percebo que me abordem porque se fosse ao contrário eu também gostaria de abordar a pessoa e dizer: “olha, tu és importante para mim”, “a tua música salvou-me de alguma maneira”. Isso faz parte e espero que aumente. Espero que seja cada vez mais chato. É bom sinal (risos).

 

 

Qual o significado do trocadilho D’Art Vida, que serve de título ao disco?
D’Art Vida tem dois lados: o primeiro é dar-te vida a ti que vais ouvir a minha música e o outro é eu querer ajudar-te a dar vida. Daí eu ter posto na edição física do álbum sementes de margaridas amarelas que cada um poderá depois plantar. Queria que todos nós contribuíssemos para esse conceito do “dar vida”. E ainda há a faceta de fazer da minha arte vida. Por isso que eu, na faixa Channel, 33 digo: “nada é demais quando é para unir”.

E em ti quem plantou o gosto pela música?
Olha, boa pergunta… Por acaso, sou a única pessoa na minha família que se dedicou à música e eu próprio não consigo dizer quando é que me interessei por isso. Sempre gostei de mensagens, sempre gostei bué de cores fundidas com formas, fundidas com cheiros, fundidas com texturas. Sempre gostei de receber sensações. Sempre fui curioso. E a música despertava-me algo diferente como mais nenhuma outra coisa me despertava. Não foi ninguém que plantou em mim o gosto pela música. Foi o facto de ir ouvindo, de ir tocando flauta na escola e depois piano. Foi essa procura que plantou em mim o gosto pela música.

 


 

"Sempre gostei de receber sensações. Sempre fui curioso. E a música despertava-me algo diferente como mais nenhuma outra coisa me despertava"

 


 

Como é que descreves a tua sonoridade?
Diria urbana, só. Não gosto nada de me pôr em caixinhas. Hoje em dia é tudo tão relativo: ninguém sabe o que é que é trap, hip-hop, pop ou rock alternativo. Ouço hip-hop, muito soul, muito pop. Mas, por exemplo, o álbum abre com o Feels Like, com um riff de guitarra de rock psicadélico. Tenho vibes, ouço um bocado de tudo e crio um bocado de tudo.

Saudade é o teu 4º single depois das canções Porquê, Respeitar e Segredos. Essa faixa que não poderia ter um título mais português…
É a palavra mais linda…

És um rapaz romântico?
Sou, por acaso sou. Não do género de comprar flores mas sou um tipo atencioso e sensível. E por isso gosto de surpreender e retirar boas energias das pessoas que amo.