“Somos mais produtivos quando precisamos de ser produtivos”, explicam os jovens músicos de Évora que se afirmam humildes, puros e com a ambição de ter uma carreira beeeem loooonga. No próximo festival MEO Sudoeste dão mais um passo nesse sentido, ao encerrarem o Palco LG by Megahits a 10 de agosto.
Passaram 5 anos desde a vossa revelação. Como é que o crescimento enquanto indivíduos e músicos se reflete nas vossas canções?
Estes anos trouxeram-nos muita maturidade pessoal e profissional. Isso nota-se nas nossas canções. Tentamos chegar às pessoas com problemas reais e graves. Pegamos em assuntos sérios, que não são fáceis de abordar. Tentamos sair da zona de conforto que é o amor, ao qual a pop se prende muito falando das discussões, dos momentos felizes ou das memórias. Já não vamos só aos temas amorosos – apesar de continuarmos a ir, até porque fazem parte das nossas vivências – mas já pegamos também em problemas como a depressão ou o álcool.
E o que é que se mantém nos Àtoa desde o início?
A nossa boa disposição, a leveza com que levamos as coisas. Algumas vezes ainda levamos as coisas um bocado à toa. Isso faz com que os nossos concertos em vez de serem super-sólidos – iguaizinhos tanto em Barcelos, no Barreiro ou em Leiria – variem muito, não em termos de alinhamento, mas de improviso nos discursos, histórias e piadas que contamos. Outra coisa que se mantém é fazermos questão de receber as pessoas depois dos concertos, para “meet & greets” e comunicarmos com elas. Acabamos por não criar fãs mas sim amigos. Essa é a humildade que trazemos do início. Somos puros e transparentes. Não nos transformámos em robôs. Não estamos mecanizados. As pessoas olham e dizem: “aqueles são mesmo os Àtoa”.
"A nossa música teve sucesso,
mas isso é como quando
tiramos uma boa nota na escola:
sabemos que há todo um ano letivo”
Gostariam de ser a voz de uma geração?
Sem dúvida que seria importante, daqui a uns anos, sermos recordados como uma banda que marcou uma geração. Mas isso é difícil porque há muita informação, muitos artistas. Não queremos ser “a banda da geração” mas gostávamos de marcar não só esta mas também as próximas gerações. Dizemos na brincadeira que o nosso objetivo é ganharmos aos Xutos & Pontapés, em termos de longevidade de carreira.
Enquanto banda de Évora são a prova de que já não é preciso viver nos grandes centros para ter sucesso?
Os Àtoa são um exemplo disso. Felizmente, estamos a chegar a uma fase de globalização tal que já não é preciso nascer-se nos grandes centros para se ter um projeto de sucesso. Além de nós, que somos de Évora, há o Diogo Piçarra que é de Faro ou o Fernando Daniel que é de Estarreja. Uma das vantagens da Internet é que, mesmo estando longe, estamos todos muito próximos uns dos outros.
A partilha entre músicos é uma das marcas do panorama musical nacional atual?
Cada vez mais. Não creio que exista rivalidade, mas sim competitividade. Queremos ser nós. Claro que partilhamos opiniões construtivas: “vocês deviam ser mais assim ou fazer mais isto”. São opiniões construtivas para nos ajudar. Já não há só uma camisola: já não são só os artistas da Universal Music ou os que só passam na Rádio Comercial que se apoiam entre si. Felizmente há muito partilha de música e de experiências. Recorremos muitos uns aos outros.
A vossa editora tem apostado imenso na banda. Sentem essa pressão?
Sentimos que temos de ser alvo de várias apostas e, qualquer uma delas, por pequena que seja, acaba por nos fazer pressão. Irmos tocar nem que seja à terra mais pequena, o nosso agente contratar-nos, a rádio passar a nossa música, sermos entrevistados por uma revista ou canal de televisão, tudo isso traz-nos pressão, pois todos acreditaram em nós. Todas essas pressões é que depois nos dão vontade de nos tornarmos maiores e melhores. Com a Universal trabalhamos em equipa, a pressão é de ambas as partes, é uma partilha de obstáculos.
Como combatem o deslumbramento natural de serem reconhecidos na rua, do vosso trabalho ser valorizado, de terem mais status e até mais atenção das miúdas?
Não é difícil porque temos há um fator que faz com que nós sintamos que não estamos lá em cima: que é querermos sempre mais. Quando estamos no 2 e atingimos o 3, nós queremos o 4. Nunca sentimos que estamos no auge. Quando atingimos 4 milhões de visualizações de uma música vemos isso como um aplauso do público. Não ficamos a pensar que somos os reis do mundo. É aí que sentimos a tal pressão de ir para estúdio e fazer mais e melhor. A nossa música teve sucesso, muito bem, mas isso é como quando tiramos uma boa nota na escola: sabemos que há todo um ano letivo, não é aquele “Excelente” a Matemática que vai fazer de mim um excelente aluno. Também tenho de ter boas notas a Português, História ou Físico-Química. Há muito mais reconhecimento à nossa música do que à nossa imagem. E esse é o nosso objetivo, porque nós somos músicos, não somos modelos, não somos “posers”.
(Fotos de Graziela Costa)