De um lado, um colégio onde se fala de médias altas, exames internacionais e universidades prestigiadas. Do outro, uma escola pública onde, diariamente, alunos e professores enfrentam os desafios do abandono escolar, da falta de materiais e de recursos. Realidades à partida tão distintas que poderiam parecer incompatíveis, mas foi exatamente na diferença que nasceu a descoberta e na descoberta, a transformação.

Como descreve o IPAV, entidade promotora da iniciativa, "num mundo cheio de muros invisíveis, este encontro deu forma, cor, som e movimento a novas pontes. Porque, quando nos encontramos verdadeiramente, não há margens que nos separem”.

O intercâmbio culminou num momento de abertura impactante na Fundação Calouste Gulbenkian. Através da música, da dança e da expressão artística, os jovens deram voz a uma nova visão da escola: um espaço onde todos têm espaço para brilhar e não um lugar de competição e rótulos. Como reforça o IPAV, “quando as barreiras caem, o que emerge é a humanidade partilhada – um espaço onde cada um é visto, ouvido e valorizado pelo que é”.

 

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Abrir portas, dar oportunidades

Ao longo do caminho, foram os próprios estudantes a deixar avisos: o privilégio só faz sentido se abrir portas; a verdadeira educação acontece no encontro com o outro; não há escolas de primeira ou de segunda, há apenas escolas que precisam de mais oportunidades. E, acima de tudo, a empatia continua a ser a linguagem universal.

A vontade de construir pontes esteve também no centro da mesa-redonda “A Escola, um espaço de oportunidade para todos”, onde se refletiu sobre como desenhar uma escola capaz de se adaptar às necessidades de cada aluno, garantindo o acesso a condições essenciais para um desenvolvimento pleno.

Moderada por Andreia Sanches, jornalista do Público, a conversa reuniu Domingos Fernandes, Presidente do Conselho Nacional de Educação, João Trigo, Diretor do Colégio Efanor, e José Lourenço, Diretor da Escola Secundária da Baixa da Banheira.

Durante a sessão, José Lourenço sublinhou que "é muito mais o que nos une do que o que nos separa", reforçando que "construímos facilmente juntos soluções que separados nunca chegaríamos". Defendeu ainda que, ao partilharmos problemas, sonhos e ambientes, podemos "construir novos caminhos", e que "é fundamental permitir aos nossos alunos que errem" para crescerem de forma mais livre e autêntica.

 

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“A Escola Sou Eu”

O Clube Ubuntu Nacional também foi desafiado a pensar no tema do evento - “A Escola Sou Eu!” - e criar um momento especial para apresentar no Grande Auditório da Gulbenkian. Foi assim que surgiu o Manifesto de Escolas Ubuntu, com apoio do Conselho Científico da Academia de Líderes Ubuntu e do Conselho de Diretores de Escolas Ubuntu. 

Diretamente dos Estados Unidos, Mungi Ngomane - autora, oradora e ativista dos direitos humanos, trouxe à plateia um testemunho de vida verdadeiramente inspirador. Neta do arcebispo Desmond Tutu, líder sul-africano que inspira o trabalho da Academia de Líderes Ubuntu, Mungi falou a partir de uma herança profundamente vivida.

“Ubuntu não é, para mim, um slogan ou uma lição. É a minha herança. É o que me permite ser quem sou”, afirmou. Ao apresentar o seu livro Everyday Ubuntu, destacou a importância de tornar esta filosofia parte da vida quotidiana, nos gestos mais simples, nas conversas difíceis, nos momentos em que nos esquecemos de escutar. “Quero que as pessoas saibam praticar Ubuntu todos os dias, sobretudo quando parece mais difícil”, sublinhou.

Lembrou ainda que nenhuma ação é insignificante. São os pequenos gestos que, juntos, constroem um mundo mais humano. Como dizia o seu avô, “cada pequeno gesto tem um impacto muito maior do que imaginamos”.

 

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O palco recebeu ainda Pedro Calado, da Fundação Calouste Gulbenkian, Sofia Athayde, Vereadora da Câmara Municipal de Lisboa, Filipe Almeida, Presidente do Portugal Inovação Social, e David Carlos da Rocha Sousa, Diretor-Geral da Educação.

Pedro Calado destacou a importância de transformar boas ideias em projetos sustentáveis. “Na área de quem investe em transformação social, o grande objetivo é esse: fazer a transição de uma ideia para um verdadeiro processo de mudança. E é isso que, para nós, representam as Escolas Ubuntu e a Academia de Líderes Ubuntu, uma transformação real das escolas e, esperamos nós, da própria sociedade”. 

Reforçou ainda o valor da energia que se renova a cada edição do encontro: “Recolher e colher todos os anos esta vivacidade é algo que verdadeiramente nos anima”. E deixou, por fim, uma mensagem aos jovens e futuros líderes: “Esperamos que este momento seja para vós um estímulo de força e de coragem cívica, que vos alicercem valores que nos ajudarão a avançar como sociedade, como humanidade. Felizmente, há pessoas que não desistem de tornar o mundo um lugar melhor.”

A tarde terminou ao som do Conservatório Artallis, que não deixou ninguém indiferente com a sua atuação. Desta tarde ficou um registo claro: um manifesto partilhado de empatia, liderança e transformação, valores que marcaram cada intervenção e cada encontro ao longo do ENEU 2025.