Maria Bélon é espanhola e estava a passar férias com a sua família num resort da Tailândia quando foram surpreendidos pelo tsunami. Sobreviveu e a sua família também. A sua história deu origem ao filme “The Impossible”, protagonizado por Naomi Watts e vencedor de vários prémios.
Foi através de videoconferência que a Forum se encontrou e falou com Maria Bélon, que vai contar a sua história no próximo dia 14 de março no Campo Pequeno, na conferência “O que de Verdade Importa”.
Forum Estudante (FE): Como te sentiste depois do tsunami?
Maria Bélon (MB): Tiraram-nos de uma “cena de televisão”: uma cena meio desfocada, obscura com que vivíamos a vida. E, de repente [quando nos tiraram de lá] a vida ganha muito mais luz, é tudo mais claro. Agora, acho que a vida é muito mais de extremos, mais preto no branco, mais definida. Antes de viver a experiência de morte tão perto, vivia a vida de uma maneira mais cómoda.
FE: E, agora, o que fazes pelas vítimas?
MB: O que faço, ao longo de nove anos, é tentar regressar à vida normal, embora a minha vida nunca mais seja normal. Pelas vítimas em concreto, trabalhamos com vítimas da catástrofe da Tailândia e com associações de mulheres viúvas. Mas o que tento, sobretudo, não é fazer só coisas pelas vítimas após o tsunami mas também apoiá-las na sua vida diária: pela dor que sentem e com que lido tão perto, faço o pouco que posso. Mas se nos toca a cada um colaborar um pouco… cada um de nós tem uma vida difícil mas perto dessas pessoas, torna-se mais simples.
FE: Alguma vez imaginaste que estarias a fazer isto, com estas pessoas?
MB: Não. Bem, tudo o que se passou na minha vida, nunca esteve de acordo com o que eu tinha imaginado. A vida é muito mais criativa que nós. Jamais pude imaginar que estaria aqui convosco numa conferência de imprensa com gente portuguesa maravilhosa a escutar-me. E imagina quando fui à estreia do filme, só dizia: “isto é tão surreal”. A vida sempre nos superou, sempre superou a imaginação que alguma vez tivemos mas também te digo que a vida tem sido mais bonita do que tínhamos imaginado.
FE: Tu viste o filme antes da estreia…
MB: Trabalhei durante cinco anos, 24 horas por dia para fazer o filme. Fui muito rigorosa e profissional: escrevi o guião, trabalhei com o realizador, fomos às filmagens, trabalhei com os atores, na produção, no som, estive a trabalhar sempre no filme. Na verdade, o que me importava não era que o filme retratasse a história da nossa família, que de facto retrata muito bem. O importante é que retratasse a história de 250 mil pessoas que não podem contar a sua história.
FE: Porque decidiste juntar-te a estas conferências?
MB: Por puro egoísmo, porque sou uma pessoa muito egoísta (risos). Nestas conferências, conheci e continuo a conhecer pessoas tão maravilhosas, que me ensinam tanto, tanto que eu continuo a colaborar com elas como e quando faça falta. A verdade é que eu tive a oportunidade de ir a um dos congressos, em Madrid há cerca de ano e meio sem saber muito bem ao que ía e aprendi tanto e recebi tanto através dos quatro oradores e cada um me cativou tanto na maneira de ver a vida que, quando conheci a Maria Franco e as suas sete mulheres loucas que fazem esta equipa e ela me disse: “Maria, quero que te juntes à equipa”, eu disse “como e quando faça falta”. Ela tinha visto o filme e disse-me: “ olha, acho que seria bonito preparares uma conferência” e eu nunca tinha falado em público. A primeira vez que fiz uma conferência no norte de Espanha, disse para mim mesma “serão 40/50 estudantes” e de repente subo ao palco e havia umas quinhentas pessoas e quase fugi a correr. Meteu-me mais medo que a onda. Mas é uma experiência preciosa e acredito que o mínimo que posso fazer é continuar a meter o meu medo dos palcos ao serviço da fundação. Mas é por puro egoísmo que o faço e colaboro.
FE: O que tentas transmitir nas tuas apresentações?
MB:O que tento transmitir é a verdade do que eu aprendi com uma experiência muito dura, muito difícil e sobretudo, tentar explicar a história em nome das pessoas que não podem explicá-la. E isto aconteceu-nos, continuamos vivos, a nossa família é igual a todas as pessoas que estão sentadas na plateia. E dizer que eu acredito que o que importa é continuar a tentar encontrar a luz.
“O Que de Verdade Importa” quer inspirar os jovens, através de testemunhos contados na primeira pessoa, acerca de experiências que mudaram a sua vida para sempre. A entrada é gratuita para qualquer interessado em participar.
Para além de Maria Bélon, estarão presentes Bento Amaral (vice-campeão do mundo de vela após ter ficado tetraplégico), Johnson Semedo (presidiário durante dez anos que está a desenvolver um projeto social no Bairro Cova da Moura) e Jaume Sanllorente (ex-jornalista que deixou tudo o que tinha para criar uma associação para apoiar crianças em Bombaim).
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