Mariana Alves e Rafael Galupa são investigadores do Laboratório Europeu de Biologia Molecular (EMBL). Há cerca de um ano, os dois cientistas portugueses tiveram uma ideia: e se crianças dos países de língua oficial portuguesa e cientistas trocassem correspondência durante um ano letivo? Assim nascia a "Cartas com Ciência" – iniciativa que é lançada hoje, Dia Mundial da Língua Portuguesa, através da inauguração do seu site oficial

"Mitigar barreiras e preconceitos relacionados com o ensino superior e as carreiras de investigação" é o principal objetivo da "Cartas com Ciência", destacam os seus autores, em nota divulgada pela Agência Lusa. Através desta correspondência, a meta passa também por sensibilizar crianças dos nove países de língua portuguesa a optar pela frequência do ensino superior e, em particular, por carreiras de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática. Desta forma, salientam os cientistas, será possível promover, simultaneamente, "a literacia científica e a língua portuguesa".

 

Home | Cartas com Ciência

Programas de troca de cartas entre cientistas e crianças, tudo em Português. A levar a ciência a todos os cantos da lusofonia, uma carta de cada vez.



Durante um ano letivo, explica Mariana Alves, crianças e investigadores vão trocar um total de oito cartas em quatro rondas. Os temas previstos são variados e vão de "Investigação Científica e carreira" ao "Ensino Superior", passando pela reflexão sobre "obstáculos e desafios e como superá-los" ou sobre "o património da língua portuguesa". "Muitas destas crianças vão receber uma carta pela primeira vez", recorda a cientista, de 25 anos. No site do projeto, é dada a indicação de que o programa terá início, em Portugal, em setembro deste ano. Em Moçambique, o arranque realiza-se em fevereiro de 2021.

Do outro lado do envelope, estarão "investigadores lusófonos espalhados pelo mundo em universidades e institutos", revela Rafael Galupa. Qualquer pessoa que exerça investigação científica (como técnicos de laboratório, doutorandos, investigadores em pós-doutoramento, chefes de investigação, docentes universitários) poderá participar.

De acordo com a informação publicada no site oficial, "Cartas com Ciência" é um spin-off do projeto Native Scientist, inspirado no projeto americano Letters to a Pre-Scientist

 

 

Reduzir desigualdades

No site da iniciativa, os criadores da "Cartas com Ciência" destacam que, ao aumentar o acesso à realidade do ensino superior e das carreiras científicas, o projecto "constitui um passo estratégico no caminho para a mudança social"

“Mais crianças encararão as carreiras de investigação e o ensino superior como uma possibilidade, especialmente em contextos desprivilegiados”, salienta Mariana Alves, citada pela Agência Lusa. No site do projeto, recorda-se que "existem 9 países no mundo onde o português é língua oficial; 8 são países em desenvolvimento, 5 dos quais estão na lista da ONU dos Países Menos Desenvolvidos".

 

cartascc

 

Desta forma, acrescentam os fundadores, o projeto contribui para algumas das metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, nomeadamente Educação de Qualidade, Trabalho Digno e Crescimento Económico, Redução das Desigualdades, e Parcerias para a Implementação dos Objetivos.


Como participar?

A inscrição no projeto é realizada por turma, sendo efetuada por um professor responsável. A partir daí, a equipa do "Cartas com Ciência" fará a associação da turma inscrita a um conjunto de investigadores. O número de cientistas será igual ao número de alunos de cada turma. "[Adotamos] assim uma política que fomente a inclusão: todos os alunos de cada turma participam no programa independentemente do seu interesse inicial em carreiras científicas", explica Rafael Galupa.

 

Projeto está presente no Facebook, Instagram e Twitter


Segundo revelam os responsáveis do projeto, os interesses dos estudantes (científicos, recreativos, desportivos, musicais, etc...) serão tidos em conta na escolha dos investigadores com que se corresponderão.

"Cartas com Ciência" conta com a parceria do Instituto Gulbenkian da Ciência, da Universidade de Aveiro, da ONG Osuwela (Moçambique) e do Instituto Superior Politécnico Tundavala (Angola), bem como das empresas multinacionais Cision e Idea Factory.

Para saber mais sobre o projeto, podes visitar: https://www.cartascomciencia.org/