Se lhe perguntassem pela escola ideal, Dino d’Santiago não teria dificuldade em responder: “esta roda para mim é a escola ideal. Em vez das mesas estarem viradas para um quadro, devíamos dar as aulas assim, em círculo”. Não é de estranhar que, por isso, tantos jovens olhem para Dino como um líder Ubuntu, por verem nele um testemunho de superação, que abraça os cinco pilares da filosofia, não só na sua vida pessoal, como profissional.
Para Dino, as escolas com um método de ensino assente numa mesa redonda, significaria que estaríamos “prontos para ouvir”, reconhecendo que “estamos todos no mesmo pé de igualdade”, facilitando a construção de pontes entre todos os membros que compõe a comunidade educativa. “Exercitar a empatia seria muito mais fácil também”, revela.
«Quando sentires que não é para falar, não fales. O teu silêncio é a arma mais bonita que podes dar em termos de compaixão e de inteligência emocional»
Não foi a primeira vez que o artista português contactou de perto com o método Ubuntu. Em novembro do ano passado, enquanto convidado especial da Semana Ubuntu, já tinha conhecido o grupo da Escola da Baixa da Banheira. A partir da experiência, explica, conseguiu chegar a um lugar onde não tinha medo de mostrar a sua vulnerabilidade. Dino fez questão de realçar o espírito de liderança que sentiu à sua volta, assim como a “vontade real de fazer a mudança”.
O cantor fez uma viagem ao passado e revelou que, enquanto aluno, o que mais o marcou foram os seus professores. “Já mencionei alguns em letras ou detalhes”, recordou o artista.
O amor como eixo
Sob o lema “esperançar” que acompanha este ano a Academia de Líderes Ubuntu, Dino d’Santiago acredita que o caminho passa por continuar a “esperançar o amor no seu todo, com as suas várias faces. O amor é o eixo que liga essa ponte que nós queremos esperançar”.
Despidos de preconceitos, a conversa permitiu que todos viajassem até lugares mais íntimos. “Estou em família, com pessoas que querem construir a mesma ponte e posso partilhar com eles onde sofri que é para perceberem que mesmo passando por aquilo tudo, dá sempre para dar a volta por cima”, confessou.
Imbuídos no espírito Ubuntu, houve tempo para refletir sobre a importância da auto-confiança. Nas palavras do cantor, o amor próprio passa por perceber que todos temos direito a ter momentos altos e baixos, assim como vibrar em frequências positivas ou negativas e aceitar que é válido sentir raiva: “a raiva é um sentimento tão válido como o amor no seu extremo”.
“Exercitar o interior”
Para Dino, canalizar as emoções mais fortes, como o ódio, a inveja, a ganância ou a ambição, passa por “aproveitar essa energia e filtrá-la” através do desporto ou de uma atividade que se goste de fazer. Durante a conversa, sublinhou como é importante reconhecer que “aquilo por que estamos a passar é nosso e não temos o direito de expulsar em direção a outra pessoa”.
Confrontado com os desafios que muitos jovens enfrentam na escola, Dino d’Santiago quis reforçar a mensagem de que tudo o que cada um sente ser válido e que não pode existir medo de o partilhar: “às vezes nas escolas é difícil porque os nossos colegas são cruéis e quando percebem onde está a nossa fragilidade, é mais fácil atacarem-nos”.
A solução, aos olhos do músico, passa por “exercitar muito o interior para compreender as emoções”. Acredita que é essencial aprendermos a respeitar o silêncio para evitar “disparatar” palavras que se traduzirão em arrependimento. “Quando sentires que não é para falar, não fales. O teu silêncio é a arma mais bonita que podes dar em termos de compaixão e de inteligência emocional”, destaca o músico.
À roda, chegaram ainda vozes curiosas sobre o percurso do Dino enquanto artista. “Eu agora consigo distinguir o Dino d’Santiago do Claudino Pereira, porque durante algum tempo era muito difícil perceber que existe o serviço do Claudino Pereira através da personagem Dino d’Santiago mas não existiria o artista Dino d’Santiago sem o Claudino Pereira”.
O cantor partilhou com o grupo que muito do seu trabalho passa por desconstruir estereótipos criados pela sociedade, assim como ser mais uma voz que se junta na luta contra o racismo: “Racismo é quando tu desumanizas alguém que é da mesma raça humana. É importante ter noção dessa realidade porque isso a mim ajudou-me a ter empatia e eu senti que a minha missão era muito desconstruir”.
O artista acredita que o espírito Ubuntu pode, por exemplo, ser importante para colocar um ponto final ao estigma criado em relação aos bairros sociais. As barreiras podem ser quebradas, por exemplo, através de iniciativas que levem as pessoas até aos bairros. “Há uma ideia muito estereotipada que nunca mudou no país”. Este tipo de projetos são também “importantes para que as pessoas dos bairros sociais não se sintam tão à margem”, concluiu.