Pouco depois de se conhecer o resultado da votação que indicou António Guterres como grande favorito para o cargo de Secretário-Geral da ONU, o jornalista Ricardo Costa escrevia, no jornal Expresso, sobre as razões “porque Guterres chegou ao topo”.
Referindo-se às capacidades e cultura geral do próximo Secretário-Geral da ONU, Ricardo Costa considera que “António Guterres é o clássico estudante aplicado e enciclopédico, que devora dossiês e lê tudo o que apanha à frente”.
Ainda que as palavras de Ricardo Costa sejam centradas no presente, olhando o passado de António Guterres, percebemos que a descrição poderia ser adequada para ilustrar o seu percurso estudantil.
Depois de entrar no Liceu Camões, terminou com média de 18 valores, recebendo, por isso, o Prémio Nacional dos Liceus, em 1965. Em declarações ao jornal Público, o seu antigo colega Luís Miguel Cintra – fundador do Teatro da Cornucópia – revelou algumas das características de António Guterres enquanto aluno: era um “aluno bom em tudo – no comportamento, no aproveitamento e até nas suas capacidades de chefia”.
Fachada do Liceu Camões, em Lisboa, onde António Guterres e Luís Miguel Cintra foram colegas
Para o ator e encenador, Guterres mostrava já características que indiciavam vocação política, uma vez que “era inteligente, falava muito bem, escrevia muito bem, não tinha dificuldades de comunicação”. Por essa razão, foi eleito várias vezes chefe de turma pelos colegas.
De igual forma, Luís Miguel Cintra recorda a “grande lealdade e honestidade em relação a todos” do próximo Secretário-Geral da ONU que, nesse tempo, o ajudou diretamente. Depois de Luís Miguel Cintra adoecer, António Guterres passou todos os dias na sua casa, deixando os seus cadernos das aulas de Química.
No ensino secundário, contudo, “as suas principais vocações iam para as disciplinas de Física e de Matemática”, destaca o semanário Sol. Por essa razão, acrescenta o mesmo texto, “o ingresso universitário no Instituto Superior Técnico parecia inevitável”.
António Guterres terminou a licenciatura, no Instituto Superior Técnico, com média de 19 valores
O estudo e a orquestra
A escolha de Guterres recaiu mesmo sobre o IST, especificamente o curso de Engenharia Eletrotécnica. Em 1971, terminaria a licenciatura com uma das melhores médias da história do instituto – 19 valores.
Colega de curso no IST, José Tribolet recordou à revista Visão o dinamismo de Guterres. “Nas sessões de estudo, em casa dos pais, tínhamos o gira-discos a tocar música clássica, e enquanto resolvíamos problemas , o António girava a caneta, conduzindo a orquestra. Não parava quieto”, conta.
“Nas férias, enquanto a maior parte de nós se divertia, ele estudava a parte da matéria que ia dar a seguir”.
José Queiroz, antigo colega de António Guterres
Porém, a média de 19 valores é resultado de um método de estudo contínuo e determinado, revela ao jornal Público outro dos colegas, José Queiroz. “Nas férias, enquanto a maior parte de nós se divertia, ele estudava a parte da matéria que ia dar a seguir”.
Ao longo do percurso estudantil, António Guterres guardou ainda espaço para as atividades fora da escola. Depois de ter sido voluntário da Juventude Universitária Cristã, durante os anos 60, tornou-se membro do Centro de Assistência Social Universitária (CASU) que chegou a liderar enquanto estudante universitário.