“O ensino superior não se faz sozinho” – Este é o meu lema desde que comecei esta viagem pelo mundo académico e, quer concordes ou não, vais perceber que vais precisar daquele colega chato para te dar os apontamentos da aula em que não estiveste, da funcionária da secretaria para te passar aquele papel de que precisas, dos trabalhadores das papelarias da tua escola para a sebenta infinita que vais ter de imprimir. Poderia continuar esta enumeração, mas nunca mais acabava e acho que já percebeste que o percurso é exclusivamente teu, mas sem cada uma destas e mais pessoas não vais conseguir chegar ao fim.
Depois destas palavras, que parecem vindas de alguém que já acabou o curso, mas ainda está apenas a metade, digo-te agora como é estudar dança no ensino superior. Em duas palavras: aventura e privilégio. Um privilégio porque o posso fazer no meu país e aprender com nomes gigantes no mundo da dança a nível nacional e internacional e uma aventura porque sempre que começo a explicar o meu dia, as pessoas perguntam: “E ainda tens energia para a vida pessoal?”
Uma viagem ao interior do Politécnico de Lisboa
Conhece as características que distinguem o Politécnico de Lisboa e as suas oito escolas superiores. Da dança à música, teatro e cinema, passando pela educação, comunicação, ciências da saúde, engenharia e ciências empresariais, no Politécnico de Lisboa há espaço para todas as áreas e gostos.
A resposta é sempre fundamentada com a valorização que dou à possibilidade de poder estar a tirar um curso superior e que tenho a liberdade de poder escolher o que quero, porque quando tu estás exatamente onde queres estar, toda a energia sobra, mesmo depois de um dia gigante a nível físico, psicológico e emocional.
O meu dia é preenchido por aulas teóricas, aulas técnicas e aulas práticas, e sempre que existe um trabalho de criação prática tenho de o fundamentar teoricamente, ainda tem de sobrar tempo para ensaios, fazer trabalhos em casa, tempo para cozinhar, lavar roupa, limpar e afins… Ah! E quase me esquecia de acrescentar o tempo para viver a minha vida pessoal fora do curso.
Começas a ver as coisas de uma forma um pouco mais difícil do que pensavas que era, para um aluno de dança no ensino superior? Se a resposta é sim, então o meu objetivo foi cumprido. Se a resposta é não, então convido-te a vires passar um dia connosco e veres que não andamos só a ‘fazer umas danças e a dar uma pirouettes’.
No entanto, chegou um inimigo invisível que mudou todo este ritmo alucinante e que já nem nos dávamos conta. Apresento-te o excelentíssimo e maior influencer mundial do ano 2020: o arrebatador Covid-19!
Aquele que nos veio surpreender com uma pausa obrigatória de ritmo e que nos obrigou a ficar em casa dos pais, mas não de férias, e sim com uma surpresa: aulas online! Aulas estas que são repletas de “a minha internet caiu”, “como vamos então fazer uma apresentação oral?”, e aquela frase para o colega que nunca foi às aulas presenciais e decide aparecer: “ainda és desta turma?” Pois é, se pertences ao ensino superior como eu, de certeza que já ouviste alguma destas frases e fizeste aulas com a camisola mais gira que só usas para eventos e o último grito da moda em calças (de pijama).
Escola Superior de Dança. O corpo também fala
Diz-se que um silêncio vale mais do que mil palavras. O desafio na Escola Superior de Dança (ESD) é diferente. Conseguir falar só com o corpo. O quartel general da Escola Superior de Dança é, temporariamente, outro. Para trás, ficaram as instalações no Palácio Marquês de Pombal, no coração do Bairro Alto.
E a dança? Onde fica no meio de todas estas mudanças? Bem, posso-te confessar que a minha sala tem uma nova decoração, no lugar do tapete decorativo está um tapete de yoga, a mesa da cozinha mudou de sítio e virou estúdio e a cadeira passou a ser a minha barra de ballet, e claro que ao fim de uns dias a minha mãe me perguntou se ainda podia usar o quarto para dormir, com tanta troca! Mas é possível, mesmo que faças tudo a metade e não partas um candeeiro ou pises o rabo do teu gato.
Falando agora de coisas sérias, se és um futuro aluno do ensino superior, prepara-te para a montanha russa que vai ser a tua vida ao sair de casa, aprender a cozinhar algo que ultrapasse as duas receitas que sabes fazer com massa (com atum ou com salsichas), gerires o teu tempo e fazeres os teus horários, sem teres ninguém para te acordar, e o mais importante, passares às cadeiras! Mas calma que isto tudo é possível mesmo com as saídas à noite, as idas a casa e o tempo de procrastinar que necessitamos. A melhor dica que te posso dar é: aproveita ao máximo todos os segundos do teu dia porque vão parecer escassos e tenta ao máximo ser ativo e despachar tudo o que tiveres para depois ser possível teres tempo para ti!
É tudo uma questão de hábito e de gestão de tempo, mas por agora fica em casa e sai apenas quando necessário, para poderes aproveitar a boa vida o mais depressa possível, e não te esqueças que o tempo passa a correr e não podes adormecer, há muito ainda para se viver!
Daniela Gonçalves
(Presidente da AEESD)
Ao longo dos próximos dias, fazemos uma viagem pelas escolas e institutos superiores do Politécnico de Lisboa. Fica atento às novidades em forum.pt!