As taxas nacionais de sucesso escolar «são preocupantes», reagiu já a tutela governamental e várias instituições de ensino, já que quase um terço dos estudantes (29%) abandona o Ensino Superior. O número surge num âmbito de um estudo inédito da DGEEC sobre o trajeto no ensino superior dos alunos que ingressaram em cursos de licenciatura com a duração teórica de três anos (inscritos no 1.º ano e pela primeira vez, no ano letivo de 2010/11).
«O percurso académico destes alunos foi acompanhado durante os quatro anos subsequentes ao ingresso", explicam os autores, no decorrer dos quais muitos conseguiram concluir com sucesso as licenciaturas, enquanto outros não. O objetivo do estudo passou por, precisamente, medir quantitativamente as taxas de sucesso e determinar alguns dos fatores que mais as influenciam, positiva ou negativamente.
Quem desiste mais?
No final dos quatro anos em análise, 46% dos alunos tinham concluído a sua licenciatura, 14% continuavam inscritos no curso sem o terem ainda concluído e 11% continuavam inscritos no ensino superior, mas tinham optado por mudar de curso. Por outro lado, um em cada quatro alunos abandonaram o ensino superior algures nesse período de tempo, havendo maior taxa de abandono nos politécnicos públicos (30%) e privados (38%) do que nas universidades públicas (26%) ou privadas (31%).
A desistência também é superior entre os que ingressam através do concurso para Maiores de 23 Anos (50%) ou que pedem transferência de instituições (62%), do que entre aqueles que ingressam pelo regime geral (21%).
O valor médio de acesso também pode influenciar se, a curto prazo, o aluno desiste do curso. Quanto maior for a classificação de ingresso menor é a probabilidade de desistência. Entre os alunos com média de entrada de 10 valores, 54% desistiram, enquanto que só 8% dos alunos com média de 20 ficaram pelo caminho. «Estes números não deixam grandes dúvidas sobre a importância do nível de preparação escolar dos alunos para o seu posterior sucesso no ensino superior», frisam os autores do estudo.
Outro fator frequentemente apontado como um potencial determinante do sucesso de um aluno no ensino superior é a sua opção de ingresso, ou seja, o facto de o aluno ter ou não entrado nos cursos que indicou como primeiras escolhas na sua candidatura ao concurso nacional de acesso. Muito naturalmente poderíamos partir do princípio que tal poderia condicionar o seu empenho. Mas não é bem assim: entrar no Ensino Superior em sexta opção não leva, em média, a uma maior probabilidade de abandono futuro do que entrar em primeira opção. A taxa de conclusão é maior entre quem entra na primeira opção, isso é certo, mas quem entra em sexta não desiste obrigatoriamente. Tem, isso sim, uma maior probabilidade de futura transferência para outro curso, o que é compreensível.
Quanto à área disciplinar do curso, nas licenciaturas de três anos na área dos Serviços Sociais – que incluem cursos como Educação Social, Serviço Social ou Animação Sociocultural – 75% dos alunos já tinham obtido o seu diploma passados quatro anos. As áreas da Saúde, da Informação e Jornalismo, das Ciências Veterinárias e das Ciências da Educação revelaram todas elas elevadas percentagens de conclusão, com valores entre os 67% e os 70%. No oposto, com taxas de conclusão muitos baixas, estão as licenciaturas na área de Informática, Engenharias, Arquitetura e Construção, e Ciências Físicas.
As (des)motivações financeiras
Os alunos deslocados têm taxas de abandono ligeiramente inferiores às dos seus colegas não deslocados e conseguem com maior frequência concluir as suas licenciaturas em três ou quatro anos. Explicação para este fenómeno? «Apenas podemos oferecer uma hipótese plausível mas não testada: (…) a disponibilidade para deslocação regional implica já uma pré-seleção dos indivíduos, a qual, provavelmente, não será completamente neutra em termos de motivação média para o trabalho escolar, o que tem consequências nos desempenhos futuros», arriscam os autores do documento.
«Outra hipótese relacionada é a de que os alunos deslocados, tendo encargos financeiros adicionais associados à frequência do ensino superior, como despesas de alojamento, têm também uma motivação adicional para concluírem a sua licenciatura o mais rapidamente possível, de forma a minimizar os custos para si e para a sua família, o que acaba por se traduzir também em melhor desempenho escolar», sintetizam.
Motivação semelhante sentem os filhos de pais com baixa escolaridade que, apesar dos ventos contrários, conseguem terminar o ensino secundário e ingressar no ensino superior. «Serão jovens com desempenhos escolares e níveis de resiliência francamente acima da média», destacam os autores. Ainda assim, níveis mais elevados de escolaridade dos pais estão associados a menores taxas de abandono, especialmente no caso de os pais terem, eles próprios, um grau superior. Estes alunos também têm propensão para mudar mais frequentemente de curso. As percentagens mais elevadas de conclusões em quatro anos (54%) registaram-se no grupo dos filhos de pais cujo nível de escolaridade equivale ao 6º ano completo.
E será que no Ensino Superior as raparigas continuam, a exemplo do que acontece no secundário e anteriores ciclos de escolaridade, a apresentar melhores indicadores de sucesso académico do que os rapazes? Este estudo da DGEEC não deixa grandes dúvidas: a percentagem de mulheres que se diplomaram em 4 anos (60%) é muito superior à percentagem análoga masculina (40%). Também a taxa de abandono é inferior entre as mulheres (17%), quando comparada com a dos homens (25%).