No e-book Passado, Presente e Futuro do e-learning em Portugal, um dos seus autores, José Bidarra, descreve o e-learning como uma forma de aprendizagem que tem apresentado “uma tendência crescente nos últimos anos, em especial devido às restrições impostas pela pandemia da Covid-19”. Uma modalidade que, no passado, se baseava em textos disponibilizados através de plataformas e páginas web, tornou-se um método de ensino multimédia, acessível através de computadores e dispositivos móveis, resultando numa “aprendizagem mais conveniente e flexível”.

Com o objetivo de formar 50 mil adultos até 2030, foi aprovado, em 2019, um projeto de decreto-lei que regula o ensino superior à distância e assim introduz em Portugal “um quadro claro de princípios e regras de organização e funcionamento desta modalidade de ensino superior”. Desta forma, foram definidos “critérios de qualidade para a avaliação e acreditação” de ciclos de estudos conferentes de grau na modalidade de educação a distância.  

Na altura em que foi publicado o projeto de decreto-lei, a intenção passava por “estimular a qualificação da população portuguesa, sobretudo a qualificação de adultos, assim como a formação superior em língua portuguesa em países estrangeiros, designadamente em países de língua portuguesa”

 

 

Visitando a plataforma Keystone Masterstudies, quando procuramos por Mestrados online, encontramos várias opções em instituições de ensino superior portuguesas. As áreas destes mestrados vão desde à Análise de Dados até à área da Comunicação e Multimédia. O site esclarece inclusive as modalidades destes mestrados, se totalmente lecionados à distância (E-learning), se lecionados num regime híbrido (B-learning, online e presencial).

Já no site da empresa de consultoria educacional EduPortugal, podemos encontrar uma base de dados mais completa, com cerca de 28 mestrados que praticam o Ensino à Distância (EaD e com maior diversidade de Instituições de Ensino Superior (IES). A oferta disponibilizada na plataforma passa por áreas do saber como a Educação, a Gestão de Recursos Humanos, a Psicologia, a História, a Engenharia Informática, entre outras.

A missão de ensinar a distância

Em Portugal, a Universidade Aberta (UAb), que abriu portas em 1988, ministra toda a oferta pedagógica (licenciaturas, mestrados e doutoramentos) em formato de e-learning desde o ano de 2008. Como podemos ler na página da instituição, são utilizadas pela UAb nas suas atividades de ensino, metodologias e tecnologias de ensino à distância “orientadas para a educação sem fronteiras geográficas nem barreiras físicas” e que dão “especial enfoque à expansão da língua e da cultura portuguesa no espaço da lusofonia”

Ao ser entrevistado pelo Jornal de Negócios em 2021, o à altura presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP), António de Sousa Pereira, falou sobre o EaD como tendo “vantagens pedagógicas que há muito são conhecidas, valorizadas e maximizadas no Ensino Superior”. Aponta ainda o EaD como “uma solução formativa credível, eficaz e adequada às novas tendências e comportamentos sociais, em especial dos nativos digitais”. “A crescente mobilidade humana à escala global exige, por seu turno, um modelo de ensino sem limites geográficos ou espaciais e com grande flexibilidade de funcionamento”, acrescentou. 


Números

 No ano letivo de 2021/2022, foram atribuídos aproximadamente 280 mil graus (de licenciatura a doutoramento) por faculdades que operam primariamente online. Desses, cerca de 94 mil eram estudantes de mestrado, o que corresponde a uma percentagem de 33,7% dos graus atribuídos.

Cerca de 10 milhões de estudantes universitários nos Estados Unidos da América (EUA) frequentam cursos de EaD, sendo previsto que este mercado cresça 20,5% entre 2022-2030.


Podemos também observar IES a desenvolver novos modelos pedagógicos. É o caso, por exemplo, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa (NOVA FCSH) que, em 2023, criou um novo modelo pedagógico em EaD, “aplicável às formações de 2.º, 3.º Ciclo e Pós-graduações, bem como ao amplo e diversificado domínio da Aprendizagem ao Longo da Vida”, de forma a responder “aos novos desafios do Ensino Superior”.

Na apresentação deste novo modelo pedagógico, o Presidente do Conselho Pedagógico da NOVA FCSH, Carlos Clamote Carreto, afirmou encarar o EaD como “uma forma de promover a inclusão digital e o desenvolvimento social, a internacionalização e a inovação pedagógica e curricular associada à criação de valor”. O modelo criado centra-se nas modalidades e-learning e b-learning e “convida à reflexão sobre oportunidades pedagógicas” e estende às universidades a oportunidade de “renovarem a sua cultura institucional e derrubarem barreiras geográficas e constrangimentos temporais”.

É importante notar, contudo, que ainda nem todas as IES oferecem cursos online conferentes de grau, mas sim complementares à formação do estudante. Aquando da conclusão do curso, os alunos recebem um certificado para comprovar a sua frequência e conclusão.

 

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O EaD no resto do mundo

Olhando para o resto do mundo, os dados quanto a quem decide prosseguir educação superior, principalmente mestrado em EaD, ainda é escasso. Se olharmos para cursos online no geral, vemos que esta é uma opção em crescimento, sobretudo desde a pandemia da COVID-19. De acordo com a Forbes, cerca de 10 milhões de estudantes universitários nos Estados Unidos da América (EUA) frequentam cursos de EaD, sendo previsto que este mercado cresça 20,5% entre 2022-2030.

No ano letivo de 2021/2022, foram atribuídos aproximadamente 280 mil graus (de licenciatura a doutoramento) por faculdades que operam primariamente online. Desses, cerca de 94 mil eram estudantes de mestrado, o que corresponde a uma percentagem de 33,7% dos graus atribuídos.

Em 2022, o Fórum Económico Mundial (World Economic Forum), noticiava que a nível global, o número de alunos a aceder a cursos online excedia os números pré-pandemia. A maior percentagem de utilizadores de cursos online vinha de economias emergentes. Por outro lado, depois da mudança para trabalho remoto, induzida pela pandemia da COVID-19, é habitual ver trabalhadores a recorrer a ferramentas digitais, à procura de desenvolver as capacidades necessárias para navegar nas constantes mudanças no mundo do trabalho.

Com dados fornecidos pela plataforma online Coursera, o Fórum Económico Mundial fez notar que o maior número de estudantes vinha de países como os EUA (17,3 milhões), a Índia (13, 6 milhões), o México (4,8 milhões), o Brasil (3,7 milhões) e a China (3,3 milhões). O crescimento do número de estudantes da plataforma, que disponibiliza cursos de licenciatura e mestrado online evidencia, segundo o Fórum Económico Mundial, “a crescente aceitação do ensino online).

A organização menciona ainda a importância do acesso a este tipo de cursos, tanto para comunidades vulneráveis como remotas. "[Este] é um passo importante para ajudar pessoas a melhorar as suas competências”, afirmam, antes de concluir: “E procurar novas oportunidades para crescimento e desenvolvimento”.