Para obter o grau de Mestre ou de Doutor, um estudante escreve uma dissertação – que tem, assim, a designação de tese de Mestrado ou de Doutoramento. Sob a orientação de um professor, ao aluno cabe a escolha de um tema, a recolha de dados, a análise da informação, a redação do texto e a defesa pública deste trabalho académico na presença de um júri. A tese deve defender uma ideia científica original e, com isso, produzir um conhecimento novo.
“Saber investigar com rigor, eficácia e qualidade conta-se entre as competências com maior projeção ao longo da vida profissional e deve ser preparada com autonomia individual desde o início da formação universitária”, avisa Gabriel Mithá Ribeiro no Novo Manual de Investigação.
Nesta obra, o investigador do CIEP (Centro de Investigação do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa) explica ao leitor “Como fazer uma tese no Século XXI”. Isto porque, “os trabalhos e as teses (…) continuam tutelados por obras da época pré-digital, como as de Umberto Eco (Como se Faz Uma Tese, 1977) e sobretudo de Raymond Quivy e Luc van Compenhoudt (Manual de Investigação em Ciências Sociais, 1988)”.
Uma tese atual
Mais de 30 anos volvidos, há que adequar à realidade de hoje as orientações-chave para quem pretende fazer uma tese de mestrado ou doutoramento de forma eficaz e rigorosa. Dica número 1: aliar o rigor científico à originalidade do olhar, “os dois atributos que garantem a qualidade de trabalhos e dissertações académicos”.
Paralelamente, há que respeitar os cinco princípios epistemológicos de forma a não contaminar o trabalho a realizar: investigar implica valorizar a interdisciplinariedade, deve ter em conta a complexidade humana, é o mesmo que analisar (e não julgar), obriga a estabelecer fronteiras entre empatia e identificação, implica um modelo de análise composto por teoria, metodologia e empiria.
É verdade que o estudante deve aprender a utilizar métodos e técnicas de investigação, a conduzir o trabalho de campo e a tratar o material empírico. Porém, é no momento da redação da tese que as dificuldades aumentam, dada a angústia do papel em branco.
A tese é, em suma, a resposta para uma pergunta científica e por isso tem a forma de uma afirmação. Deve partir de uma ideia original e criar novo conhecimento. “O método de escrita académica eficaz parte da clarificação das especificidades das diferentes matérias sobre as quais terá de escrever (teóricas, metodológicas, empíricas). O passo seguinte consiste em ir escrevendo e revendo os diferentes capítulos à medida que a investigação avançar”, diz-nos Gabriel Mithá Ribeiro.
Qual a estrutura de uma tese?
Na Secção de Abertura, as páginas iniciais da tese incluem Capa, Palavras-Chave, Resumo, Declarações Formais/Agradecimentos, Índice e Introdução. Só depois surge a Parte I, dividida em dois capítulos fundamentais: Enquadramento Teórico/Conceptual (“a cabeça que pensa filosoficamente os desafios da Investigação”) e Fundamentação Metodológica da Investigação (“os pés que permitiram à investigação caminhar sobre o concreto”).
Aconselhável (mas não indispensável), é um capítulo de fronteira, entre a Teoria e a Empiria, entre esta Parte I de Enquadramento e a Análise estampada na Parte II. Já esta estende-se por metade ou mais do total de páginas da versão final da tese e tem como segmentos, primeiro, Análise do Fenómeno Estudado/ Decomposição do Objeto de Estudo/ Análise dos Dados Recolhidos - “capítulos que constituem o coração do trabalho por manterem viva a relação com as fontes” -, e depois, Encontro entre Teoria e Empiria - “a alma do texto que liga todas as suas componentes”. Finalmente surgem a Conclusão, a Bibliografia (segundo as normas do curso ou instituição de ensino), e os Apêndices/Anexos. As conclusões não devem ser a última parte a ser redigida mas sim a primeira, defendem os especialistas. Assim, é possível planear o texto para que ele conduza o leitor para as conclusões.
5 comportamentos a evitar na criação de uma tese
#1 PROCRASTINAR
Há que gerir o tempo com muita disciplina pois um prazo final que parece distante, de repente, está já ao virar da esquina.
E a pressa é inimiga da perfeição, já se sabe. Organiza-te por metas diárias, semanais e mensais para não adiares tarefas.
#2 LER POUCO
Ler vários artigos relacionados com o teu tema dar-te-á maior segurança na discussão dos resultados, bem como acesso a outras formas de observar o problema de pesquisa e a mais vocabulário.
Como diz uma lei de Murphy: “um atalho é sempre a distância mais longa entre dois pontos”.
#3 ESPECULAR/COLAR
Evita generalidades: Cada afirmação do texto deve ser suportada por dados, informações e interpretações encontradas em textos de outros autores ou na tua própria pesquisa.
Escrever um trabalho académico é muito mais do que apenas fornecer uma compilação de informações ou opiniões.
Discute informações, relaciona-as com os teus resultados ou de outros autores. Assume um estilo próprio de escrita.
#4 PEDIR POUCAS OPINIÕES
Tu e o teu orientador, por estarem tão próximos da premissa da tese e do seu texto, terão mais dificuldade em encontrar aquela gralha ou incongruência intelectual.
Por isso, o ideal é pedires a outras pessoas — colegas de curso, amigos, familiares – para lerem o trabalho antes da entrega.
#5 TER APENAS 1 CÓPIA
Imagina que perdes ou te roubam o PC e, com isso, lá se vai todo o teu trabalho.
É aconselhável que tenhas cópias da tese impressas, no teu email, num disco de memória externo ou numa “cloud”.
E não imprimas a versão final na véspera da entrega, não vá a impressora avariar a meio.