De acordo com a Direção-Geral do Ensino Superior (DGES) a primeira meta de um mestrado é simples: “Desenvolver e aprofundar os conhecimentos obtidos em licenciatura”. Este aprofundamento é realizado ao longo de 90 a 120 créditos, implicando um investimento temporal de 3 ou 4 semestres. ?Durante este tempo, o percurso é dividido em duas partes:?há unidades curriculares de especialização numa área e há também um trabalho científico, de projeto ou estágio. Mas qual a relevância desta formação no contexto atual?  

Desde logo, a implementação do Processo de Bolonha trouxe uma nova importância ao Mestrado, uma vez que os ciclos de estudos, mantendo as designações anteriores (licenciatura, mestrado e doutoramento), se caracterizam por durações mais curtas e por uma maior flexibilidade. No fundo, a duração da maioria das licenciaturas foi encurtada, fazendo com que possam ser completadas em 6 semestres.

Os números da Pordata são ilustrativos desta mudança. Em 2007, no ano letivo seguinte à implementação do Processo de Bolonha, o número de estudantes de mestrado quase duplicou, num total de mais de 11 mil estudantes, em comparação com os cerca de 6300, no ano letivo anterior. Os anos seguintes vieram a reforçar essa tendência, confirmando a alteração do papel do mestrado – em 2023, mais de 82 mil estudantes estavam matriculados em mestrados em Portugal. 

É importante ter em conta que, durante este período, o número de estudantes no ensino superior aumentou significativamente em Portugal. Se existiam 336 mil estudantes matriculados em 2007, em 2023, esse número passou para 446 mil. Contudo, a percentagem relativa de estudantes de mestrado é reveladora do novo papel do mestrado, tendo passado de 3,4%, em 2007, para 18,4%, em 2023.  

 

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A empregabilidade 

E de que forma pode um mestrado ter impacto na inserção e progressão no mercado de trabalho? As mudanças fizeram-se sentir pouco tempo depois de Bolonha. Em 2015, o jornal Público noticiava: “Mestrados já são condição para entrar mais rápido no mercado de trabalho”. O artigo detalha como, depois de Bolonha, o lugar das formações de segundo ciclo se alterou: “Se antes eram um passaporte para a vida académica, hoje as empresas preferem recrutar alunos com mestrado”.

A tendência tem vindo a acentuar-se, ao longo dos últimos 10 anos. De acordo com o relatório Estado da Nação 2024, da Fundação José Neves, “as ofertas de emprego com requisitos de qualificações superiores, nomeadamente ao nível de mestrado, assumem cada vez maior importância no total de ofertas de emprego”: “A tendência de ofertas de emprego no mercado laboral português para profissões que geralmente indicam a necessidade de um mestrado ou doutoramento como requisito de acesso mostra uma tendência de crescimento que parece ter acelerado sobretudo a partir de 2022, já numa fase pós-pandemia (35,6% – janeiro de 2022; 38,5% – dezembro de 2023)”.  


 

«As ofertas de emprego com requisitos de qualificações superiores, nomeadamente ao nível de mestrado, assumem cada vez maior importância no total de ofertas de emprego»

Estado da Nação 2024, Fundação José Neves 


Em outubro de 2023, a diferença entre a percentagem de ofertas de emprego com requisitos de um mestrado ou de uma licenciatura era significativa – as ofertas que exigiam mestrado ou doutoramento perfaziam 38,5% do total, enquanto apenas 13,5% exigia uma licenciatura.  

Esta mudança reflete-se, naturalmente, na probabilidade de estar empregado. De acordo com a investigação da Fundação José Neves, “o prémio de empregabilidade associado à obtenção de um mestrado aumentou consideravelmente durante o período pandémico, dada a maior proteção conferida pelos vínculos de emprego dos diplomados deste nível de ensino”. 

A remuneração

As diferenças não se ficam apenas pelo acesso ao emprego, passando também pela remuneração. Em 2022, a Agência Lusa noticiava que “jovens com mestrado ganham em média mais 22% que os licenciados”. Os dados foram apurados pela investigação Livro Branco "Mais e Melhores Empregos para os Jovens" diferença da média salarial vai dos 1326€ de um licenciado para os 1617€ de um detentor de um mestrado.  

De igual forma, um estudo do Banco de Portugal concluiu que, entre 2006 e 2020, o salário médio real de entrada no mercado de trabalho diminuiu, no caso dos diplomados de uma licenciatura (de 1088€ para 1050€), mas aumentou no caso dos jovens com mestrado, passando de 1150€ em 2006 para 1178€ em 2020.  

O prosseguimento de estudos depois da licenciatura para mestrado é ainda associado a outra vantagens como a especialização das competências (que pode ser valorizada no mercado de trabalho), a possibilidade de networking avançado (interagindo com colegas, docentes e especialistas) e o acesso à carreira de docência em determinados contextos.