A cada curva, é como se encontrássemos o cenário perfeito para uma fotografia muito capaz de quase retratar na perfeição os melhores papéis de parede que todos temos nos computadores. É a planície alentejana única, que só pode ser encontrada no Alentejo. Hoje por Elvas, a dois passos de Espanha, a Green Academy vive o interior mais interior de Portugal. No seu verde, nos seus cheiros, e na história que se esconde por entre cada muralha e forte que vão pontuando a vista.

O objetivo de dar a conhecer as opções que o Politécnico de Portalegre tem para oferecer nas diversas áreas que compõem a sua oferta é um dos motes desta semana. Mas é redutor dizê-lo. Querer estudar no Alentejo e Portalegre, como em qualquer outro sítio, mais do que gostar de um determinado curso ou das instalações de uma escola, implica gostar do local onde se escolhe passar pelo menos três anos. É, por isso, fundamental conhecer os recantos mais imprescindíveis, as suas gentes e a forma de melhor de se encruzar numa cultura tão caraterística. É também essa aventura que os 20 escolhidos desta primeira edição estão a poder viver.

Ao chegar-se a Elvas e ao subir-se à parte mais alta da cidade percebemos imediatamente o papel estratégico e defensivo que esta cidade desempenhou na história do país. No centro, vemos a grande muralha, rodeada por uma série de fortes, verdadeiros pontos estratégicos para melhor defender a cidade. Não é por acaso que a cidade presta a homenagem aos combatentes da História no Museu Militar. No primeiro ponto de passagem do dia, a vista permite uma panorâmica invejável sobre um dos lados de Elvas. Mas é outro o aspeto que mais chama a atenção. Logo que se passa a entrada, o olhar é conduzido para um moral onde se assinala o nome de quem perdeu a vida a defender o país, não só na Primeira Guerra Mundial, mas também no Ultramar. Os anos passam, mas manter viva a História é também uma responsabilidade de quem não quer repetir os erros que deixaram a sua mancha no passado.

 

Green2021 2 2

É ainda no Museu Militar que são dadas algumas pistas sobre aquilo que se pode esperar da visita à Escola Superior Agrária, que teve lugar durante a tarde. Da apresentação feita pelo presidente da escola, José Manuel Nunes, são apresentadas as primeiras pistas sobre uma cidade e uma escola que também reflete o passado da Elvas. Esta é, sem sombra de dúvidas, uma cidade com um forte passado militar. De tal forma que a dada altura o total destes homens era superior ao número de habitantes, e a população era obrigada a ceder casa aos militares que precisassem de um teto. Também a Escola Superior Agrária está localizada num antigo quartel, que foi cedido pelo exército e permitiu a instalação desta unidade do Politécnico de Portalegre.

Na parte inferior do museu, onde se encontram as cavalariças, Carlota Rico Duarte espera o grupo. Já se seguirá uma visita à pista de obstáculos. Mas por enquanto Carlota não está sozinha. Está também acompanhada pelo seu cavalo, o seu companheiro dos últimos anos. Carlota estudou Equinicultura por Elvas, está a terminar um mestrado orientado para o turismo equestre e já está a olhar para um doutoramento. Pela ausência de sotaque, percebemos que não é uma alentejana de gema. Satisfeita a curiosidade, percebemos que nasceu na Madeira, viveu em Leiria e há alguns anos escolheu Elvas como a sua casa.

A jovem de 23 anos monta a cavalo desde os cinco anos, e desde cedo percebeu que o seu futuro passava por esta área. Até que deu de caras com a licenciatura em Equinicultura. Não pensou duas vezes em escolher Elvas e esta unidade orgânica do Politécnico de Portalegre: “Quando no 11º ano descobri este curso, pensei que era mesmo isto.” E não é caso único. “Arrisco-me a dizer que não temos nenhum aluno de Elvas nesta licenciatura. Temos estudantes de todo o país e até de fora”, conclui Dora Gonçalves, que já ontem tinha recebido o grupo.

 

Green2021 2 3

A assistência está atenta a Carlota, curiosa com as histórias que guarda de muitos anos a fazer desta a sua vida. Mas o olhar está sempre fisgado no amigo de quatro patas. De parte a parte, lá o raciocínio de Carlota vai sendo interrompido por umas quantas lambidelas. Para a jovem, não há segredos na relação com os cavalos. “Conheço este cavalo como a palma da minha mão”. Cada cavalo é um cavalo, e com o tempo e a prática vai-se percebendo que a forma de chegar a duas espécies diferentes exige um tratamento especial. “Digo-vos uma coisa… Agora comecei a trabalhar com lusitanos e noto uma diferença brutal. Os lusitanos são super cumpridores. Já os de sangue inglês dão-me cá umas dores de cabeça…”, confessa Carlota. Terminada a visita, há que voltar às cavalariças para continuar o trabalho do dia.

A visita pela cidade também continua. As ruas estreitas, as roupas estendidas à janela dão o sinal de que, apesar de estarmos numa zona fortemente afetada pela desertificação, há população à vista. E é, por exemplo, no Museu de Fotografia João Carpinteiro que encontramos alguns dos retratos que mostram a cidade das últimas décadas. À entrada é logo o próprio quem recebe o grupo. 77 anos, mas com uma mente e uma memória de ferro. Uma história de vida deliciosa. Foi Presidente da Câmara Municipal de Elvas durante nove anos nas décadas de 80 e 90 e logo aí percebeu o quão importante era a aposta na cultura, ainda que no interior do país. As memórias de há mais de 30 anos estão lá, e tão vivas como se tivessem ocorrido ontem.

 

Green2021 2 4

Numa altura em que a fotografia estava longe de ter toda a tecnologia que tem hoje à sua disposição, como é que se conseguiu, por exemplo, tirar uma fotografia aérea de um dos ícones da cidade, o Forte de Nossa Senhora da Graça? Simples. “Ia num parapente, com um senhor ao lado, e foi uma loucura. Estava cheio de medo”. Por entre as suas fotografias, o próprio apresentou-se da forma mais descontraída possível, com um toque que mostra que o requinte humorístico não tem idade. “Mal sabiam vocês que vinham a Elvas conhecer um louco. Eu sou um louco! Em toda a minha vida tive mais de 1000 máquinas”. Loucuras à parte, Carpinteiro mostrou-se de braços abertos para receber e inaugurar da melhor forma a manhã deste segundo dia.

Green2021 2 5

Mas não podemos esquecer o foco. No que ao Politécnico de Portalegre diz respeito, o dia de hoje é marcado pela visita à Escola Superior Agrária. A pergunta é pertinente, e é lançada mais uma vez por Dora Gonçalves. “Podem, e com razão, estar a pensar neste momento: Que sentido faz uma escola agrária estar localizada no meio de uma cidade, entre muralhas, sem animais e zonas de campo?”, pergunta. A resposta está na génese associada à construção desta escola. “Se já temos agricultores, empresas com mais do que ferramentas na área, então quisemos associar-nos a eles. As parcerias são uma base importante da nossa dinâmica”, acrescenta.

 

Green2021 2 6

Entre outros cursos, a oferta formativa inclui a licenciatura em Enfermagem Veterinária. Com Luísa Raimundo, docente da licenciatura e coordenadora do CTeSP de Cuidados Veterinários, o grupo Green Academy 2021 pode visitar os laboratórios e até o consultório onde são dadas recebidos os animais da comunidade ou dos alunos. “É mais uma forma de meter a prática em ação”, sintetiza.

Green2021 2 7Green2021 2 8

E a passagem por Elvas não poderia chegar ao fim sem uma passagem pelo Forte de Nossa Senhora da Graça. É um verdadeiro monumento, em todos os sentidos. Imponente, capaz até de fazer questionar: “Como é que é possível os portugueses conseguirem construir uma coisa destas, com este tamanho?”. A questão, lançada por Rafael Remoaldo, um dos participantes desta Green Academy, lê os pensamentos do restante grupo. O fascínio e as interrogações – muitas – são visíveis nos olhos de todos.

Na verdade, foram 30 anos de construção e o trabalho de mais de 6 000 homens e 2 000 animais que permitiu vermos aquilo que hoje marcou a tarde destes jovens. Tanta imponência e trabalho tem, contudo, um objetivo: chamar o inimigo, levá-lo entrar, e com todos os estratagemas da construção, eliminá-lo de vez. No fundo, trata-se de seduzir em falso para sagrar vitória. Uma visita guiada por Alice Reis, que, pela forma apaixonada como deu a conhecer todos os segredos e curiosidades desta obra histórica, tem recomendação mais do que aprovada pelos visitantes desta tarde. E é de aproveitar: as visitas guiadas são gratuitas até ao fim do ano. E tiram-se boas fotos, no topo do edifício, com a cidade de Elvas e Badajoz como fundo. Fica a dica.

Green2021 2 9Green2021 2 10Green2021 2 11

Ao final do dia, são muitas ideias para assimilar. Há que refrescar as ideias. O programa está mesmo construído ao pormenor, e também essa parte não poderia ser descurada. Hoje foi a vez de o fazer na Piscina do Reguengo. Amanhã o caminho é o mesmo, mas na Barragem da Apartadura. Porque o Alentejo, o Politécnico de Portalegre e o espírito desta academia também é isto: aprender, conhecer, mas também visitar e ver de perto o património natural. Não só o verde das planícies que foram sendo vistas permanentemente ao longo das horas passadas no autocarro, mas também o azul da água. Se é para cumprir o desafio e o espírito, que seja a sério.

Green2021 2 12Green2021 2 13