O descanso é a chave para garantir que dia após dia a energia continua em alta nas muitas atividades que compõem esta Green Academy. Os dias começam cedo, e se um pequeno-almoço reforçado ajuda a garantir que a energia está no nível certo, a animação e a alegria nos rostos de quem, da parte da equipa do Politécnico de Portalegre, recebe a equipa nos primeiros minutos da manhã faz a diferença. Alda, Nelita e Rosa fazem questão de receber os participantes da Academia da melhor forma, nesta que é a sua casa há mais de 20 anos. Só Rosa é a novata do grupo, e conta com oito anos de casa. De resto, as três têm em comum uma vida dedicada a Portalegre, a um dos seus grandes dinamizadores, como é o Politécnico, e aos alunos.
“Devem gostar imenso de receber os alunos, não?”, surge a pergunta. “Diga-me lá…. Acho que dá para perceber, não é verdade?”, ouve-se a resposta. Sim, não há mesmo nada que enganar. Trabalhar no Politécnico e na residência é lidar diariamente com quase 200 alunos que vêm de todo o país, e que na maioria das vezes chegam à cidade completamente desamparados. E todos os anos chegam alunos novos. Aqui há espaço para, pelo menos, o primeiro impacto ser positivo e a experiência no Politécnico de Portalegre poder ser vivida com mais alegria. No fim do pequeno-almoço, lá chega Jorge, o motorista que tem conduzido o grupo durante a semana. Também a boa energia está pronta para o receber. Quando se diz que o ambiente que aqui se vive é familiar, não é mera conversa de circunstância. É mesmo verdade: Nelita, por exemplo, é irmã de Jorge.
“Tu és o Rodrigo, também já sei que és a Bruna…”, ouve-se de Alda. Ao terceiro dia, até os nomes da maioria já estão na ponta da língua. “E preparem-se… amanhã temos uma surpresa preparada para amanhã depois do jantar…”. O que se pode pedir mais?
Pela serra
E se o espírito é importante para contrariar um dia raro por estes lados. Chover no Alentejo em pleno Verão? É possível. Aconteceu hoje. Mas nem o clima encoberto e as pingas miudinhas que teimam em cair estragam os planos da manhã. Com a serra no horizonte, o Parque Natural da Serra de São Mamede esconde o ponto mais alto que se pode encontrar a sul do Tejo. É a 600 metros de altitude, na Barragem da Apartadura, que Afonso e Henrique da Marvão Adventures têm tudo pronto para ocupar a manhã do grupo com uma caminhada, stand-up paddle e canoagem.
Na caminhada, o guia de serviço é Henrique Almeida. Com 24 anos, conhece os recantos e os trilhos desta serra como ninguém. Por entre os caminhos ensombrados pelo negro das nuvens que de tempo a tempo lá vão soltando umas pingas, a vista esconde entre árvores de várias espécies a barragem e o Castelo de Marvão. Neste último caso, a palavra certa é mesmo esconder. O nublado não dá margem para conseguir ver o símbolo maior da vila de Santa Maria de Marvão.
Mas há margem para conseguir provar os figos e as amoras que vão teimando em aparecer no percurso. É a natureza em estado puro. A chuva até veio dar um plot twist a uma caminhada que, se por si só, já valeria a pena, ficou ainda marcada por uma dose de aventura maior do que se esperava. A experiência não foi tão fisicamente exigente quanto muitos receavam, mas fez-se bastante bem. Com música à mistura e tudo, daquela que faz lembrar as melhores memórias do passado. “Com a chuva foi ainda melhor”, atira Inês Costa, de 18 anos, e que veio diretamente de Ovar para viver estes dias.
Já a olhar para o futuro, e em jeito de balanço daquilo que já se pode conhecer do Politécnico de Portalegre esta semana, percebemos pela conversa que o interesse de Pedro Vale é a Informática. Apesar de ser do Porto, Portalegre pode passar agora a ser uma hipótese. “Daquilo que vi, gostei das instalações e do ambiente. Vamos ver. Ainda faltam dois anos…”.
O mesmo aconteceu dentro de água. Com chuva ou sem chuva, as pranchas e as canoas estiveram dentro de água. E água quente, ou quase. Para haver bom ambiente, não basta haver bom tempo. No meio de chuva, nem tudo é mau.
Pela cidade
Num dia de fenómenos estranhos por esta zona, ao menos foi cumprida uma visita imprescindível. Aí sim, estranho seria se tal não acontecesse: uma visita pelo centro de Portalegre. Finalmente com a chuva a dar sinal de tréguas, encontramos uma cidade com pouco movimento, mas muitos jardins e património. “As pessoas devem aproveitar para conhecer mais estas cidades. Às vezes as cidades do interior são um bocado desvalorizadas, porque as pessoas pensam que não têm nada, mas a riqueza cultural está à vista”, ouve-se da parte de Catarina Gomes, uma das participantes.
Esta é uma cidade onde as tradições têm ainda o seu espaço e deixam a sua marca. Também no Museu das Tapeçarias de Portalegre, onde se retrata um trabalho de mãos femininas, cuja produção de uma só peça dura sempre mais do ano. Nas paredes, vê-se o trabalho de alguns dos mais prestigiados artistas nacionais, como Maria Helena Vieira da Silva. No olhar e no pensamento está guardada a questão que já tem sido habitual por estes dias: “Como é possível?”. Há espaço para as interrogações continuarem amanhã.