Tudo começou no verão passado. Mais concretamente, em julho, quando o projeto E³UDRES² foi aprovado pelo programa Erasmus+. A partir daí, os procedimentos avançaram rapidamente e, cerca de três meses depois, o projeto para construção de uma universidade europeia em que participa o Politécnico de Setúbal arrancou oficialmente. “Pretende-se criar uma Universidade Europeia empreendedora e envolvida, que responda aos desafios societais, ambientais e económicos do século XXI e que esteja comprometida com o desenvolvimento de objetivos sustentáveis", salientou então a vice-presidente do IPS, Susana Piçarra, na altura do anúncio.
A designação do projeto faz, de resto, referência a alguns destes objetivos. E³UDRES² é a sigla em língua inglesa que identifica um projeto de universidade europeia como “motor para Regiões Europeias Inteligentes e Sustentáveis”. Tendo em vista esta meta final, a E³UDRES² assume como caminho o “desenvolvimento de pequenas e médias cidades e os seus respetivos ambientes”. No total, para além do IPS, o projeto inclui outras cinco instituições de ensino superior da Roménia, Letónia, Bélgica, Hungria e Áustria.
“[Haverá] um forte envolvimento dos estudantes, professores e de toda a comunidade, entre empresas, autarquias, hospitais, organizações da economia social, num processo de coaprendizagem entre os diferentes agentes”
Pedro Dominguinhos, Presidente do IPS
O local e o global
Com um investimento comunitário de cinco milhões de euros, a E³UDRES² tem um tempo de execução previsto de três anos. O resultado final, depois de estabelecida esta universidade europeia, estará enquadrado naquilo a que o IPS descreve como um “novo paradigma para o ensino superior europeu”.
Através deste esforço coletivo será possível criar um novo campus multi-universitário, distribuído pelos seis países envolvidos. Será também potenciada a criação de centros de conhecimento que trarão um contributo ativo para as regiões em que se inserem.
Esta preocupação local é mesmo um dos pilares do projeto, sendo as regiões em que se inserem as instituições de ensino superior entendidas como “laboratórios vivos” para a produção de soluções concretas que respondam às necessidades do território. As respostas serão enquadradas três eixos que se alinham com temáticas emergentes – economia circular, contributo humano para a inteligência artificial e envelhecimento ativo e bem-estar.
Estas três dimensões articulam as dimensões social, tecnológica e de sustentabilidade, rumo ao desenvolvimento das regiões, através da inovação, conhecimento e educação. De igual forma, as metas definidas focam inovação centrada no ser humano e a aprendizagem por projetos. Nas palavras do Politécnico de Setúbal, Pedro Dominguinhos, a grande novidade proposta pela aliança E³UDRES², “é a capacidade de, através de um processo de cocriação, contribuir para melhorar o nível de vida dos territórios onde as instituições se inserem”.
O que é uma universidade europeia?
Foi durante a Cimeira de Gotemburgo, na Suécia, em 2017, que os responsáveis da União Europeia referiram pela primeira o conceito de “universidade europeia”. Na altura, a previsão passava pela criação de cerca de vinte destas instituições internacionais que constituiriam “da base para o topo, redes de universidades em toda a UE, criadas por iniciativa das próprias universidades”.
Esta criação conjunta envolverá a colaboração de todos os protagonistas da comunidade académica do IPS, acrescentou Pedro Dominguinhos, durante uma conferência online de lançamento da E³UDRES². “[Haverá] um forte envolvimento dos estudantes, professores e de toda a comunidade, entre empresas, autarquias, hospitais, organizações da economia social, num processo de coaprendizagem entre os diferentes agentes”.
O impacto para os estudantes
O impacto da E³UDRES² não se fica, contudo, pelo contributo para o desenvolvimento dos territórios. Os estudantes do Politécnico de Setúbal também terão acesso a mais-valias graças a esta oportunidade. Quem o diz é o representante dos estudantes no “Board of Students” desta universidade europeia, Rodrigo Rente: “Uma das inovações que esta aliança nos traz a nós, estudantes do IPS, é a possibilidade de desenvolver projetos em equipas internacionais, interdisciplinares e com a participação de atores regionais, que lidem diretamente com desafios sociais, ambientais e económicos do nosso século XXI e nos permitam trabalhar em conjunto os objetivos de desenvolvimento sustentável”.
"Uma das inovações que esta aliança nos traz a nós, estudantes do IPS, é a possibilidade de desenvolver projetos em equipas internacionais [...] que lidam diretamente com desafios sociais, ambientais e económicos do nosso século XXI”
Rodrigo Rente, representante dos estudantes do IPS no Board of Students da E³UDRES²
Por outro lado, para o elemento da Associação Académica do Politécnico de Setúbal, esta será também uma forma de “aumentar a taxa de internacionalização dos estudantes do IPS”, ao serem criadas “novas oportunidades de mobilidade, tanto física como virtual”. Nesse sentido, para o estudante, a E³UDRES² afeta diretamente a comunidade estudantil do IPS também na dimensão da “envolvência e comunicação com estudantes de outras instituições”.
De acordo com Rodrigo Rente, a integração do IPS nesta aliança surge na continuação daquela que tem sido a aposta da instituição “num ensino prático e adaptado ao mercado de trabalho, no mundo global em que hoje vivemos”. Perspetivando o seu trabalho no “Board of Students” desta universidade europeia, o estudante acredita que o seu papel deverá passar por assegurar a representação dos estudantes do Politécnico de Setúbal, “garantindo que nenhum estudante fica para trás nesta mudança”.
“Tempo de ação”
No total, a iniciativa para formação de universidade europeias, dinamizada pela Comissão Europeia, resultou na criação de 41 alianças ou consórcios. Um pouco por toda a Europa, 280 universidades e institutos politécnicos encontram-se em fase de implementação destes projetos, contando com um investimento de 287 milhões de euros do orçamento comunitário.
A importância destas novas redes foi destacada pelo ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, durante a sessão de lançamento da E³UDRES². “É tempo de ação”, destacou o ministro, explicando que estes projetos internacionais são de uma relevância urgente para a recuperação da europa no pós-pandemia. “[Esta é] uma oportunidade única para as instituições de ensino superior se mobilizarem, junto com os seus stakeholders, assegurando que podemos mobilizar todos os atores a nível europeu para a concretização dos planos de recuperação e resiliência dos diferentes países”.
Presente na mesma sessão, o responsável pela Unidade de Ensino Superior da Comissão Europeia, Tine Delva, destacou a E³UDRES² pelo seu “papel pioneiro e de construção de um caminho para outros”. “Estamos particularmente satisfeitos com o vosso foco no desenvolvimento de pequenas e médias cidades e regiões”, garantiu.