Vários Artistas, Rapública (1994)
Este foi um álbum verdadeiramente pioneiro, ao ajudar o rap a fazer a ponte entre o underground das ruas de Lisboa, Almada e Porto e o mainstream das rádios e televisões portuguesas. Com músicas cantadas em português, inglês e crioulo, este álbum distribuído pela Sony conseguiu captar para o formato CD exatamente aquilo que o rap português era nesta altura dos seus primeiros passos: festivo, interventivo e, acima de tudo, diverso.
Não é fácil agarrar num movimento suburbano e sem recursos, enraizado na cultura africana, e levá-lo para estúdio, para ser transformado algo apelativo para a rádio, sem lhe tirar a essência. Mas o Rapública conseguiu isso mesmo. E é por isso que figura nesta lista.
Mind da Gap, Sem Cerimónias (1997)
A luta pelo estatuto de Meca do hip-hop português sempre se travou entre Almada e Porto. Por isso, só é justo viajarmos até à Invicta para focar um álbum que marca uma grande mudança no hip-hop português. O Rapública incluía muitas experiências e fusões com outros géneros musicais, pelo que não soava ao hip-hop americano, mais desenvolvido, que nos chegava do outro lado do Atlântico.
O Sem Cerimónias mudou esse paradigma. Ace, Serial e Presto trouxeram-nos um trabalho que parecia que podia ter vindo diretamente de Nova Iorque. Com muitos samples de jazz, soul e funk, era clara a preocupação com a maneira como a música iria soar e não apenas com a mensagem das rimas, contrariando um pouco aquela que tinha vindo a ser a abordagem da maior parte dos discos de rap até à data.
Boss AC, Mandachuva (1998)
Se pensamos no Sem Cerimónias como um disco que parecia ter saído diretamente de Nova Iorque, que tal escolher um que saiu mesmo? Em 1997, Boss AC viajou para Nova Iorque e por lá gravou faixas que viriam a servir de esqueleto de Mandachuva. Para além da produção de alto quilate, este é um disco que foi construído como se de um filme se tratasse, criando coesão e um sentido de continuidade entre as faixas.
Com músicas em crioulo e alguns salpicos de outros géneros musicais (como o reggae e a música africana), Mandachuva combina as raízes da cultura onde o Boss AC cresceu com muita diversidade sonora, incluindo uma preocupação com estética e sonoplastia. Esta mistura valeu-lhe um salto para o topo das tabelas musicais, fazendo do AC o primeiro rapper a tornar-se estrela nacional.
Dealema, Dealema (2003)
É difícil ir ao Porto e encontrar alguém que não tenha sido influenciado pelos Dealema de alguma maneira. É este o peso carregado por este grupo icónico que, em 2003, lançou um disco homónimo que se tornaria num clássico de culto para a cultura hip-hop. Dealema colocou em exibição a diversidade deste grupo composto por 4 MC’s de Vila Nova de Gaia e do Porto com estilos bastantes diferentes, permitindo influenciar um maior número de artistas e suscitar uma maior adesão dos ouvintes.
O trabalho ganhou também importância por ser um álbum de rap “à séria”, sem grandes refrões orelhudos, mas com muitas e afiadas rimas em cima de beats, alguns deles, bastante pesados. Se Portugal tivesse um Wu Tang Clan, seriam sem dúvida os Dealema!
Sam The Kid, Pratica(mente) (2006)
Falar do Pratica(mente) é falar do álbum que está mais perto de ser consensual no rótulo de magnum opus do rap português. O seu verdadeiro impacto é ainda palpável hoje, 16 anos depois. É que este é um disco que, apesar de ter sido editado pela Edel, tem um sentimento caseiro. Para além das rimas, todos os beats são do próprio Sam The Kid e até as participações vêm do seu círculo próximo de colaboradores.
O resultado é um autêntico pontapé na porta da indústria musical, com o sentimento de autenticidade a agarrar o público – este era um disco genuíno e à imagem de quem o fez. Uma volta de consagração de quem venceu fazendo as coisas à sua maneira, com os seus valores e princípios, e que inspirou toda uma geração de artistas a tentar fazê-lo também.