Inserido na Secção Ensaios, do festival Caminhos do Cinema Português, o filme A Vida Luminosa, de João Rosas, é exibido hoje, pelas 14h30, no Teatro Académico Gil Vicente (TAGV), em Coimbra. Na antecâmara da sessão, o estudante de 17 anos, Vasco Andrade, trouxe a sua análise crítica a este filme e partilha a sua paixão pelo cinema.
A Vida Luminosa, João Rosas
A Vida Luminosa é um filme que nos prende pela atmosfera. Lisboa, primavera. Nicolau é um jovem daqueles que andam por aí. A vaguear entre cafés, livrarias e ensaios que nunca chegam a palco. Existe algo de poético em vê-lo caminhar pela calçada portuguesa como quem procura sentido entre as pedras soltas. A capital que surge como cenário, revela-se um labirinto.
Há uma melancolia muito portuguesa presente neste filme. A tristeza suave de quem espera que algo mude, mas nada muda. A vida de Nicolau que está sempre prestes a começar, mas que nunca começa. Essa ausência de acontecimentos não é uma falha na narrativa. É o espelho de uma geração que vive na linha ténue entre o desejo e a ação, entre o sonho e o próximo passo.
Nisto tudo, surge Chloé. Francesa. Não fala português, mas também não precisa de grandes gestos. Um “je ne sais pa” transforma todas as dúvidas existenciais em poesia, como se Lisboa, ao ouvi-la, se tornasse ainda mais bela. Quando fala, o filme muda de tom. Tudo parece ganhar uma clareza melancólica. A língua francesa acaba por servir para dizer o que em português seria demasiado cru.
Nicolau encarna aquela sensação de estar à procura de um lugar no mundo sem saber bem por onde começar. O andar pela cidade, os sonhos adiados, o futuro incerto, a fragilidade das relações, são todas experiências comuns a quem vive a juventude entre expectativas e desilusões. O protagonista mostra que crescer também é sobre lidar com o vazio, com a dúvida e com o tempo que parece escapar.
Depois de ver A Vida Luminosa, só houve uma coisa a fazer: descer de Coimbra a Lisboa, ir até à Cinemateca, sentar-me na esplanada a fingir que leio qualquer coisa e esperar. Não por um filme. Esperar por um cruzar de olhares com alguém que ande tanto à deriva pela capital como Nicolau. O café soube melhor com essa possibilidade no ar.






