Volvidas seis semanas de ensino à distância, aulas e avaliações online e muito tédio à mistura, deparamo-nos agora com o anúncio do tão esperado regresso à normalidade, se é que assim lhe podemos chamar…
Dezoito de maio, o dia apontado para a reabertura das escolas e o respetivo regresso “às atividades letivas presenciais”, ainda que apenas às disciplinas sujeitas a exame final nacional.
À medida que o tempo avança, a data se aproxima e se conhecem mais detalhes sobre o tão apregoado regresso, cresce o medo, alimentado pelo desconhecimento e pelas infindáveis dúvidas e gerador de ansiedade e nervosismo.
Com o passar dos dias, todos, desde alunos e pais a professores e funcionários sentem na pele a incerteza quanto à vontade de voltar, até aqui dada por adquirida e muito desejada. Deparamo-nos, assim, cada
vez mais, não com uma vontade de voltar mas sim com uma vontade de ficar. Ficar em casa, em segurança e longe do cenário apocalítico que, aos poucos e de forma subtil, nos vai sendo apresentado.
A questão que se coloca é: qual das fações terá mais peso na ponderação de uma decisão que pode custar vidas? O desejo de normalidade ou a sombra do vírus?
«Sem cenários idílicos nem soluções perfeitas, teremos que nos circunscrever ao cumprimento das regras e aos cuidados redobrados [...] com a certeza absoluta de que tudo está nas nossas mãos, literalmente!»
Certo é que, mais dia, menos dia, teremos que regressar à normalidade possível nas nossas vidas, enfrentando um risco que vai marcarpresença, de forma insistente, a médio prazo, contudo, não é menos certo que este regresso representa uma exposição tremenda e a possibilidade de declínio da situação vivida.
Parece-me, assim, que não existe uma resposta estanque para este dilema, à semelhança do que acontece com a esmagadora maioria dos problemas que surgiram com esta pandemia. Sem cenários idílicos nem soluções perfeitas, teremos que nos circunscrever ao cumprimento das regras e aos cuidados redobrados que até aqui demonstraram a sua eficácia espelhada no sucesso do caso português, com a certeza absoluta de que tudo está nas nossas mãos, literalmente!
Respondamos, assim, à vontade de ficar e ao medo de voltar com as devastadoras consequências de um eventual não regresso, que seria recheado de (ainda mais) injustiças, frustrações e problemas sociais agravados.
Lutemos e empenhemo-nos em construir uma realidade em que tenhamos medo de ficar e vontade de voltar, e na qual nos possamos dar a este novo luxo, o da normalidade.
Alexandre Jorge tem 17 anos e é estudante do 12.º ano da Escola Secundária de Porto de Mós.
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