Setembro foi mês de regressar de férias e abraçar um novo ciclo de Esperançar. E as Escolas Ubuntu fizeram-no – como sempre –- de forma exímia, através das muitas iniciativas e oportunidades geradas no âmbito do Acolhimento Ubuntu, pondo em prática a nossa Ética do Cuidado, que estende os braços àqueles que chegam, mais uma vez ou pela primeira, a cada comunidade escolar.
No IPAV, é nosso dever e propósito inspirar a comunidade e ativar, naqueles que tocamos, a opção por uma Esperança ativa, que não desiste da Humanidade, nem se resigna perante os primeiros silvos que nos chegam aos sentidos. Vemos, lemos e ouvimos notícias de um mundo demasiado convulso para o nosso entendimento, cruzamos vidas demasiado densas para a nossa compreensão, escutamos e mantemos conversas que desafiam a nossa empatia. Mas, como Agostinho da Silva, sabemos que "o que se quer existe a – só que está coberto". Cabe-nos continuar a desocultar no mundo aquilo que queremos.
Por isso é tão importante dedicarmos este nosso ano a outro verbo: o reconhecer. E fazê-lo a partir de um olhar concreto que nos permite continuar a Esperançar, ativamente. Precisamos aprender o valor do reconhecimento e empreender nesta atitude tão humana e tão simples.
Por isso deixo aqui três dimensões deste verbo que nos podem ajudar a refletir.
Reconhecer começa por uma atitude de generosidade para com os outros, explicitando e agradecendo o mérito do seu trabalho, do seu esforço, dos seus gestos e das suas conquistas, mas simultaneamente de humildade, fazendo-nos livres para recebermos o mesmo por parte deles, numa busca permanente do thymos, que é a parte da alma que busca o reconhecimento da nossa dignidade.
Que conversas temos em falta para praticar o reconhecimento? Do que preciso para aceitar ser reconhecido por alguma atitude minha que desvalorizei? Em segundo lugar, atrevermo-nos a voltar a conhecer. As pessoas, os lugares, as ideias e os princípios que, por tanto julgarmos já conhecer, nos deixam cristalizados. Precisamos regressar ciclicamente àquilo/àqueles que já conhecemos, para celebrarmos a alegria do reencontro e a redescoberta do espaço de possibilidades que existe entre o hoje e o amanhã.
Finalmente, como agentes (secretos?) ao serviço da Ética do Cuidado, é importante mapear os lugares e conhecer cada detalhe dos espaços que ocupamos e onde agimos. Nenhuma batalha se trava sem fazer o reconhecimento territorial e dos recursos materiais e humanos, nossos e do "adversário". Sem planear com detalhe qualquer operação que se pretende levar a cabo, dificilmente alcançaremos os nossos objetivos com sucesso e para maior benefício de todos os envolvidos.
Que este ano seja, portanto, tempo de (re)conhecer, para melhor Esperançar.
Rui Nunes da Silva, Presidente do IPAV