Quais as tendências macro que moldam o futuro do mundo do trabalho? Qual o seu impacto nas profissões, competências e trabalhadores? O relatório “The Future of Jobs 2023” procurou realizar uma previsão para os próximos 5 anos, partindo da perspetiva de cerca de 803 empresas que empregam mais de 11 milhões de funcionários.
Para começar, o relatório indica que 69 milhões de empregos vão ser criados, enquanto no caminho inverso 83 milhões de empregos vão desaparecer. Tal mudança será causada pelo o avanço da economia verde, pela busca de maior produtividade e eficiência e pela adoção de novas tecnologias. As mudanças na educação, saúde e agricultura também são apontadas no relatório como influenciadores de mudanças no perfil das profissões.
Um dos fatores de transformação de negócios mais prevalentes será a contínua adoção de tecnologia. A adoção de novas e melhores tecnologias e o alargamento do acesso digital foram identificados por 85% das empresas que participaram no relatório como uma das tendências transformadoras do seu negócio.
Uma aplicação mais abrangente dos padrões ESG (ambientais, sociais e de governança) nas suas organizações também vão impactar o seu dia-a-dia. Outros fatores são macroeconómicos tais como: o aumento do custo de vida, um lento crescimento económico, a transição ambiental, escassez de stock e preocupações dos consumidores quanto a problemas sociais e ambientais, o impacto da pandemia de COVID-19, maior divisão geopolítica e o dividendo demográfico em economias em crescimento.
Futuro tecnológico
Entre as tecnologias mais prováveis de ser adotadas nos próximos cinco anos estão o “big data”, a computação em nuvem e da Inteligência Artificial (IA). Espera-se que as empresas também abracem a utilização de plataformas digitais e aplicações no dia-a-dia das suas operações, efetuando uma transição para o comércio digital. A robotização, tecnologia de armazenamento de energia e a adoção de tecnologia de ledger distribuído são outras das tendências identificadas.
Espera-se que o impacto da tecnologia nos próximos cinco anos no mercado do trabalho seja positivo. Análise de “big data”, alterações climáticas e tecnologias de gestão ambiental, encriptação e cibersegurança são algumas das áreas que poderão oferecer maior empregabilidade no futuro.
De acordo com o estudo do Fórum Económico Mundial, a introdução da automação no mercado de trabalho tem ocorrido a um ritmo mais lento que o esperado. É estimado pelas organizações que apenas 34% das tarefas do seu dia-a-dia sejam desempenhados por máquinas, com os restantes 66% a ser desempenhados por seres humanos. Este ritmo contraria as previsões de 2020, onde se esperava que quase metade (47%) das tarefas nas empresas fossem automáticas, com estes valores a serem revistos em baixa para 2027 (42%).
Ao contrário do que se esperava no que respeita à substituição de humanos por máquinas nas linhas de trabalho, é esperado que a IA cause maior agitação no mercado de trabalho. Com cerca de 75% das empresas a querer adotar os serviços de IA para as suas tarefas, o que leva 50% a esperar que esta crie maior oferta e 25% a esperar perda de oportunidades laborais.
As áreas onde se espera maior crescimento estão maioritariamente relacionadas com tecnologias, em profissões como Especialista em IA e “Machine Learning”, especialista em sustentabilidade, analista de “business inteligence” e analista de segurança da informação. Com a transição das economias para as energias verdes, espera-se que a área da engenharia também acompanhe esta tendência para o crescimento.
No sentido inverso, espera-se que trabalhos relacionados com tarefas mais burocráticas entrem em declínio. De acordo com o documento, profissões como bancário, funcionário dos correios, funcionários de caixas de supermercado ou bilheteiras são alguns dos ofícios que se espera que entrem em declínio.
A visão dos empregadores
E quais são as qualidades mais procuradas no mercado de trabalho pelos empregadores? Em 2023, as características mais procuradas no potencial funcionário eram o pensamento analítico e o pensamento criativo. O pensamento analítico é considerado uma capacidade fundamental pelas empresas. Outras capacidades que são procuradas em futuros colaboradores são o pensamento criativo, a resiliência, a flexibilidade, motivação, curiosidade e capacidade de aprendizagem, empatia e escuta ativa.
O crescimento da importância das capacidades cognitivas reflete a relevância da rápida resolução de problemas no local de trabalho. Capacidades como a literacia tecnológica, auto-eficiência, atitudes socio-emocionais (empatia, resiliência, etc), capacidade de aprendizagem entre outras “skills” vão continuar a ser características procuradas em funcionários nos anos vindouros.
Atualmente, apenas metade dos funcionários parece ter acesso a oportunidades de formação adequadas. No período de 2023-2027, as empresas vão procurar melhorar as competências na área do pensamento analítico, pensamento criativo, treinar os funcionários na utilização da IA e “big data”, desenvolver conhecimentos na área da liderança e influência social. Grande parte das empresas espera ver um retorno neste investimento no prazo de um ano, tanto na satisfação do trabalhador, como no aumento da produtividade dos funcionários.
No período de 2023-2027, as empresas vão procurar melhorar as competências na área do pensamento analítico, pensamento criativo, treinar os funcionários na utilização da IA e “big data”, desenvolver conhecimentos na área da liderança e influência social.
De maneira a cumprir os seus programas de diversidade e inclusão, as empresas vão priorizar a contratação de mulheres, jovens abaixo dos 25 anos e de pessoas com deficiência. Outras prioridades serão pessoas de diferentes religiões, etnias ou raças, trabalhadores acima dos 55 anos, da comunidade LGBTQIA+ ou que vêm de empregos com menor remuneração.
E em Portugal?
De acordo com o relatório da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), “O Futuro do Trabalho em Portugal: O Imperativo da Requalificação”, elaborado em parceria com a Nova School of Business and Economics (SBE), o país apresenta “um elevado potencial de automação, em que 50% do tempo despendido em tarefas laborais é suscetível de ser automatizado recorrendo a tecnologias já existentes”.
O relatório, que data de outubro de 2019, ainda não reflete o impacto da pandemia de COVID-19, mas deixa algumas conclusões sobre o que esperar na década corrente.
Um dos fatores referidos para a possível adoção de tecnologias de automação é a baixa taxa de desemprego, que conduz a uma dificuldade por parte das empresas em encontrar mão-de-obra. Tal dificuldade, poderá traduzir-se no investimento em automação para, assim, colmatar esta lacuna.
O cenário base utilizado no relatório assume que “metade das tarefas que têm potencial de ser automatizadas serão automatizadas até 2030”. Neste cenário, perspetiva-se a “redução de 1,1 milhões de postos de trabalho”.
Contudo, neste mesmo cenário, espera-se que a adoção da automação crie entre 0,6 a 1,1 milhões de novos empregos. O que conduz a este cenário são fatores como o “crescimento direto dos setores ligados à oferta e manutenção de tecnologias ligadas à automação” e “o crescimento económico que tem origem no aumento da produtividade que a automação proporciona”.
Evidenciada neste estudo fica a necessidade de cerca de 700 mil trabalhadores terem “de alterar a sua ocupação ou adquirir novas capacidades até 2030”. O desafio colocado pela automação é a requalificação da força de trabalho de forma atempada, que se torna necessária de forma a que “os postos de trabalho criados em ocupações e setores diferentes possam ser ocupados pelos trabalhadores que viram a sua ocupação automatizada”.
O estudo indica que o impacto não será igual em todas as regiões do país. O “maior impacto em percentagem do emprego regional”, ficará concentrado em regiões onde atividades como “a manufatura, comércio, atividades administrativas e agricultura têm uma elevada participação no total do emprego”. As regiões menos afetadas quanto à perda de postos de trabalho serão Norte, Lisboa e Algarve. Já o Centro e o Alentejo vão ser as regiões mais impactadas.
Este estudo reconhece que, atualmente, em Portugal, no que toca ao trabalhador “a qualificação dos trabalhadores é baixa para uma elevada fração da força de trabalho, o que torna o processo de requalificação mais difícil, que num contexto de automação de atividades, pode implicar a necessidade de aprender a desempenhar tarefas de maior complexidade”.
De acordo com o documento da CIP, em 2016, o potencial de automação de Portugal estava equiparado com a China (50%), estando apenas atrás do Japão (53%) e 1% acima da média global (49%). Países como a Itália, Espanha, Estados Unidos, França e Noruega, apresentavam menor potencial quando em comparação com Portugal.
Com o objetivo de acelerar a requalificação de trabalhadores, surgiu em Portugal o projeto Pro_Mov, liderado pela Sonae, Nestlé e SAP. O objetivo destas entidades “é garantir uma empregabilidade superior a 75% aos formandos em situação de desemprego”, avança o comunicado de divulgação da iniciativa.
O projeto está integrado no programa europeu R4E – Reskilling 4 Employment, criado pelo ERT - European Roundtable for Industry, que tem como ambição “ajudar na requalificação de um milhão de europeus até 2025”.
Podes descarregar aqui o "The Future of Jobs Report 2023".