Como avalia a importância da utilização dos social media no processo de procura de emprego? E como tem evoluído nos últimos tempos?
Os social media são cada vez mais uma peça fundamental no processo de procura de emprego em duas perspetivas. Do lado do empregador, há a necessidade de atrair talentos e, uma das formas de o conseguir, passa pela implementação de estratégias para atração e retenção de talento. Neste ponto, os social media são fundamentais para levar a mensagem ao público-alvo certo.
Por outro lado, temos a perspetiva de quem procura emprego e que, ao recorrer aos social media, pode ver o seu trabalho facilitado, se conseguir tirar partido das funcionalidades oferecidas pelas diferentes plataformas disponíveis. Para isso, é necessário que crie adequadamente a sua presença online, tirando partido da sua rede de contactos, de forma a obter informação e a ser referenciado para uma determinada vaga.
Do ponto de vista dos empregadores, qual a relevância que é dada à informação disponibilizada nestas plataformas?
Estima-se que, atualmente, mais de 60% dos empregadores utilizam os social media para avaliar os candidatos e, com base na informação encontrada, tomar a decisão de os contratar ou não. A informação disponibilizada em redes como o Facebook, Twitter ou Instagram pode dizer muito sobre a personalidade e comportamento de um candidato. Já o LinkedIn, por sua vez, é usado para consulta de histórico profissional, bem como forma de validação da informação que o candidato disponibiliza no seu perfil.
Apesar de este ser uma prática cada vez mais comum, pode ter os dias contados. Está em estudo uma lei europeia que visa impedir que um empregador avalie a informação disponibilizada nos social media de um candidato sem a sua autorização prévia.
O LinkedIn goza de alguma especial importância, neste aspecto? Porquê? Que outras redes devem ser levadas em conta?
O LinkedIn é, atualmente, a principal plataforma utilizada pelos empregadores para encontrar profissionais no mercado de trabalho. Uma vez que a sua missão é ligar profissionais para os tornar mais produtivos e bem-sucedidos, é fundamentar ter uma boa presença nesta rede e usá-la para ser encontrado ou para chegar à pessoa certa.
Outras redes que também devem ser tidas em conta são o Viadeo, Twitter, Instagram e o beBee que, em conjunto com o LinkedIn, possibilitam ao candidato posicionar a sua marca pessoal através de conteúdos relevantes para a sua área de atuação.
Independentemente das redes escolhidas, quais são os cuidados a ter, na elaboração desta nossa apresentação digital?
Existem alguns dos cuidados que devemos ter na nossa presença digital. Desde logo, devemos evitar perfis desatualizados ou incompletos. É frequente encontrar perfis, principalmente no LinkedIn, sem qualquer conteúdo, com conteúdo que é pouco relevante para um empregador ou que não demonstra o nosso percurso profissional. Pior que não ter um perfil é ter um sem qualquer informação.
Os nossos perfis nos social media são sobre nós mas não são para nós: são um canal para que outros conheçam mais sobre quem somos, o que fazemos e sobre o que podem esperar de nós. Por isso é fundamental ter um perfil e conteúdos que o demonstrem e reflita o nosso percurso.
«(...) devemos apostar em ter uma presença digital que reflita quem é somos e
quais são as nossas singularidades»
Outra das questões importantes a ter em conta passa pela não publicação de conteúdo falso. Vários empregadores com os quais trabalho mencionam com frequência descartarem candidatos por encontrarem informação falsa disponibilizada nos seus perfis online. Este é um erro que se paga caro. Qualquer informação publicamente acessível pode ser facilmente verificada pelo empregador ou qualquer outra pessoa e obviamente terá impacto na sua reputação.
Outro dos erros que é cometido, neste âmbito, é o não se saber diferenciar. Se o nosso perfil for apenas "mais um" dificilmente vamos ser considerados. Não devemos tentar copiar o perfil de outra pessoa ou usar as mesmas palavras – devemos apostar em ter uma presença digital que reflita quem é somos e quais são as nossas singularidades.
Por fim, outro dos conselhos passa por evitar ter uma fotografia inadequada nas redes sociais. A nossa fotografia deve ser profissional e preferencialmente igual em todas as plataformas onde estamos presentes. Uma fotografia inadequada leva imediatamente a que um empregador passe para o perfil seguinte. Devemos lembrar-nos que a nossa imagem chega sempre antes de nós.
Na sua experiência, quais são os principais problemas que os candidatos a um primeiro emprego apresentam no seu processo de procura e candidatura?
Penso que os candidatos não investem tempo e energia em várias áreas relevantes. Desde logo, em conhecer-se. Hoje, já não basta ter estudado numa boa universidade ou ter notas altas, é necessário que o candidato se conheça, saiba quais os seus pontos diferenciadores, as suas fraquezas e pontos de melhoria, de que forma lida com pressão, conflitos entre outros fatores importantes e relacionados com as suas competências comportamentais.
Por outro lado, é importante investir tempo para ter uma presença adequada online, sendo necessário definir uma estratégia alinhada com as competências que o candidato tem, o emprego que procura e as plataformas de social media onde deve estar presente. Tudo isto sem esquecer a disponibilização de conteúdo que permita o reforço e validação das competências pretendidas.
Outro dos problemas que identifico é não tirar partido dos social media para a procura de emprego. Muitos candidatos limitam-se a estar presentes nas diferentes plataformas. Ainda assim, é necessário ser proativo e aparecer do "radar" dos empregadores, ou seja, desenvolver um conjunto de atividades que permitam ao candidato ser visto por quem interessa, seja através de publicação de conteúdo, da rede de contactos, ou através da interação com informação disponibilizada pelo empregador. Com a quantidade de informação que existe hoje, torna-se mais difícil sermos encontrados. É necessário usarmos as ferramentas que temos ao nosso dispor para sermos vistos, pois caso contrário é a mesma coisa que não existirmos.
Por fim, outro dos principais erros passa por não conhecer a empresa e função para que se candidata. Se um candidato considera ser a melhor opção para uma vaga de emprego, então deve conhecer em detalhe a empresa e a função a que se candidata. Apesar de parecer óbvio, ainda existem muitos candidatos que falham neste ponto, para o qual não há desculpa. A internet e plataformas de social media permitem-nos conhecer uma empresa, quem lá trabalha, que amigos temos em comum com os colaboradores, entre outras informações. Os dados recolhidos permitem que o candidato defina um plano de ação e que ajuste o seu discurso, o seu CV e a sua presença digital para que seja um "perfect fit" para a vaga. Isto, claro, sem perder a sua essência, a sua singularidade.