Navegar mais de 17.000 quilómetros até Timor, no Lusitânia Expresso, um velho ferry-boat, com estudantes de 23 países a bordo. E ser intercetado por três fragatas de guerra, ameaçado, obrigado a recuar. No final, cumprir a missão, alertando o Mundo para a situação dramática vivida pelo povo timorense. “Parece mentira” mas não o é.

“Só levamos flores contra canhões”, escreveu Rui Cardoso Martins, 20 anos depois. Num artigo publicado no jornal Público – intitulado “Parece mentira” – o jornalista relata a história da viagem até à costa de Timor e conta um desabafo que ouviu no convés: “é preciso o mundo estar muito louco para ser preciso fazer uma coisa destas”.


Missão Paz em Timor tinha como objetivo

"Colocar uma coroa de flores no cemitério de Santa Cruz"


E que coisa faziam, afinal, 120 estudantes de 23 países num velho barco junto à costa de Timor? A iniciativa partira, uns meses antes, da então recém-fundada revista Forum Estudante. Depois do massacre no Cemitério de Santa Cruz, em que as forças militares indonésias mataram 400 pessoas, a FORUM organizou uma viagem de barco até Timor, com o objetivo de homenagear as vítimas e chamar à atenção da comunidade internacional para a situação vivida pelos timorenses.

Anos mais tarde, o então Diretor da Forum Estudante, hoje seu CEO, Rui Marques, contou à RTP os objetivos da iniciativa: “reunir jovens estudantes de todo mundo, numa atuação pacífica, para que fossem colocar uma coroa de flores no cemitério de Santa Cruz”. Acima de tudo, porém, o objetivo era “que Timor Leste nunca mais fosse esquecido até ao dia em que pudesse conhecer a liberdade”. 

Flores e canhões

Prestes chegar à costa timorense, milhares de quilómetros depois, as forças militares indonésias intercetaram o Lusitânia Expresso, a 16 milhas de Díli. No dia 11 de março de 1992, três fragatas de guerra bloquearam o acesso à costa e deram uma ordem: “abandonem imediatamente esta área e prossigam para o mar alto. Over. Perante a resistência do Lusitânia, os canhões foram mesmo levantados para a posição de ataque.

As flores seriam atiradas ao mar. “Para o mar que as levará até ao mar de Timor”, disse então Rui Marques aos restantes tripulantes. “Não chegámos a Timor mas cumprimos a nossa missão”, continuou o Diretor da Forum Estudante: “colocar Timor na Agenda Internacional”. “Hoje é o primeiro dia da nova missão”, concluiu. A liberdade do povo timorense chegou oficialmente dez anos depois, a 20 de maio de 2002.