São 10h00 e faltam poucos minutos para a Comic Con abrir os portões. Uma fila de cerca de 500 metros está formada, no Passeio Marítimo de Algés, com visitantes que aguardam a ordem de entrada. Rui Oliveira, de 16 anos, está na linha da frente. "Estou aqui desde as sete e pouco da manhã", conta o estudante.
Ainda que a distância de sua casa até aos portões da Comic Con seja curta, tendo em conta que mora em Algés, Rui decidiu chegar cedo "para aproveitar mais o dia e ser o primeiro a experimentar alguns jogos como Pokemon Sword and Shield". "E também não me importo de levantar cedo", completa.
Alguns segundos depois, os primeiros visitantes pisam o terreno da sexta edição da Comic Con Portugal, o evento anual que se define como "dedicado à indústria da Cultura Pop" e que, desde 2018, se realiza no Passeio Marítimo de Algés. A quinta edição juntou neste local quase 110 mil vistantes, segundo os dados divulgados pela organização.
As referências do universo Pop presente na Comic Con são oriundas de diferentes áreas. De igual forma, o seu espaço também encerra divisões, da área de Gaming ao Cinema e TV, passando pela Música, pela Banda Desenhada ou pelo Cosplay. "A Comic Con é uma marca agregadora", explicou à FORUM o diretor do evento, Paulo Rocha Cardoso: "tentamos criar um equilíbrio para que todos tenham o seu espaço e ofereçam a melhor experiência aos visitantes".
Por dentro do gaming
Na manhã do primeiro dia, o foco começou por estar na área de gaming, onde se juntaram grande parte dos visitantes. Perto de uma das entradas da tenda, no palco Split Screen, onde alguns competem entre si, Duarte Pessoa, de 17 anos, diz ter escolhido começar pelos videojogos "até as coisas lá fora entrarem no ritmo".
Enquanto espera a sua vez de jogar, de comando na mão, o estudante vindo da Parede diz considerar este espaço de gaming uma boa opção, "sobretudo para visitar com um grupo de amigos". Contudo, para Duarte, esta é também "uma boa oportunidade de unir pessoas que não se conhecem, através dos videojogos".
Na tenda de gaming, encontramos os vários nomes de fabricantes de consolas e computadores, como PS4, Xbox, Asus ou Omen. Mas este espaço não se faz apenas de empresas. Aqui, encontramos também a FTW Sports, uma das maiores equipas portuguesas de eSports.
"Não participamos apenas em eventos de gaming", conta o presidente da FTW, Ramiro Teodósio, exemplificando com a presença recente na Feira de Santiago, em Setúbal. Em momentos como este, o objetivo é "transmitir a nossa missão e mostrar o que é a realidade dos eSports, esclarecendo todas as questões". Em Setúbal, por exemplo, foram vários os momentos em que pais e filhos jogaram em conjunto, explica: "queremos mostrar que os videojogos também são bons alicerces para a vida familiar".
As máscaras e as cabeças de chocolate
No interior do recinto, são vários os franchises que propõem desafios aos visitantes. No espaço da HBO, é possível sentar numa das três réplicas oficiais do Iron Throne - o Trono de Ferro de Game of Thrones. O AXN propõe tirar uma foto num cenário inspirado na série L.A. Finest. O desafio da FOX está ligado a The Walking Dead e capta certamente a atenção: oferecer ao visitante uma réplica da sua própria cabeça em chocolate.
Mais ao fundo, encontramos a tenda de Cosplay, onde cerca de quinze máquinas de costura captam a atenção de quem entra. "Vamos dinamizar três workshops de costura ligados a Cosplay", explica o representante da marca que promove a iniciativa, Gonçalo Felizardo. O objetivo, acrescenta, é "possibilitar o contacto com outra vertente do Cosplay, com dicas ligadas a materiais e técnicas de costura".
Na mesma tenda, encontramos Mariana Nobre e Luís Lopes, voluntários da Comic Con 2019. "O nosso papel passa por prestar apoio e informação ao público e zelamos pelo espaço", explica Mariana, que conta ter decidido ser voluntária "para enriquecer o currículo e para poder conhecer pessoas e participar no evento".
«O Cosplay pode ajudar a ultrapassar dificuldades de sociabilização e de expressão.
Ao ser uma espécie de teatro, ajuda-nos a interagir e criar amigos»
Mariana Nobre, 22 anos
Mariana é cosplayer e não vai perder a oportunidade de o ser também na Comic Con 2019. O seu vestido de Kurapika está a ser terminado e, a partir de amanhã, vai poder utilizá-lo depois do seu turno. "O Cosplay pode ajudar a ultrapassar dificuldades de sociabilização e de expressão. Ao ser uma espécie de teatro, ajuda-nos a interagir e criar amigos", realça.
Por outro lado, acrescenta, o espaço de Cosplay da Comic Con 2019 é uma forma de mostrar ao público português o que é, afinal, esta arte. Durante os quatro dias de evento, passarão por aqui exposições, artistas, convidados e workshops, numa oferta que considera "mais completa". "É uma maneira de mostrar o que está por trás da máscara", conclui, a seu lado, Luís Lopes.
No caminho das estrelas
Um total de cinco tendas foram a área de Cinema e TV. No total, estas estruturas têm capacidade para albergar 4000 pessoas e destinam-se à exibição de filmes e ao encontro com celebridades, muitas delas internacionais. Para o dia de hoje, estava reservada a presença de nomes como Itziar Ituño e Esther Acebo (La Casa de Papel), Todd Stashwick (12 Monkeys) e Tricia Helfer (Battlestar Galactica). No último dia, um dos nomes mais aguardados: Millie Bobby Brown, a "Eleven" de Stranger Things.
A visitante Ana Igreja, de 20 anos, não tem dúvidas que esta presenças deverão "aumentar o interesse" no evento. Elogiando o cartaz de 2019, Ana destaca a presença de Millie Bobby Brown: "Por ser uma protagonista, penso que deverá estar cheio". "Por outro lado, as atrizes d' A Casa de Papel também interessarão a muita gente, devido ao próprio timing da série".
Essa ideia é confirmada por Ana e Helena Santos, de 21 e 24 anos, respetivamente. As irmãs falam à FORUM enquanto aguardam o momento de entrada para uma das sessões com as atrizes espanholas. "Viríamos à Comic Con de qualquer forma, mas o alinhamento de personagens que nos são queridas aumentou a vontade", conta Helena. Durante a sessão, contam, o objetivo passará por "tentar apanhar pistas para a próxima temporada e ouvir um pouco a experiência de quem está por dentro da produção", completa Ana.
«A Comic Con, para nós, é um espaço e uma oportunidade
de liberdade, sem preconceitos nem tabus»
Ana e Helena Santos, 21 e 24 anos
"Também gostávamos de saber até que ponto a mensagem mais feminista da última temporada, de empoderamento das mulheres, foi calculada", realça Helena Santos, antes de concluir, sorridente: "Se foi, foi bem feito". Para as irmãs, que trajam os vestidos de Arwen e Galadriel, a Comic Con é mesmo "um espaço e uma oportunidade de liberdade, sem preconceitos nem tabus".
Banda Desenhada por medida
Muitos dos personagens que, durante estes quatro dias, cruzarão o recinto da Comic Con nasceram nas páginas de Banda Desenhada. É também por essa razão que o evento guarda espaço para o contacto direto com artistas desta área. Junto ao grupo de quatro artistas que, durante o dia de hoje, desenharam figuras a pedido dos visitantes, Raquel Saldanha, de 14 anos, realça: "É uma arte linda e não é qualquer um que consegue fazer estas coisas só com uma caneta e um papel".
Depois de pedir um desenho "de um Batman", Raquel descreve esta oportunidade como "magnífica", explicando que tem um interesse pessoal na área: "Também desenho e, no futuro, gostaria de ser diretora e guionista de Banda Desenhada". Por essa razão, completa, esta experiência traz-lhe uma noção mais clara "do muito trabalho e dedicação que estão envolvidas".
Para um dos artistas presentes, Ivan Reis, este momento é uma forma de obter reações de forma direta. "Ser desenhista pode ser um trabalho solitário e as redes sociais não suprem de forma suficiente essa necessidade [de feedback]", realça, antes de concluir: "esta é a forma de saber, olhos nos olhos, como o nosso trabalho chega e afeta as pessoas".
Num dos espaços mais próximos, há outra forma de contacto em destaque: os jogos de tabuleiro. Os visitantes podem juntar-se em grupos de amigos e desconhecidos e experimentar jogos que desconheçam. "Jogar jogos de tabuleiro é sociabilizar", contrariando a ideia dos jogos associados a um perfil mais solitário, explica Ricardo Gomes, Relações Públicas de uma das marcas de jogos presentes.
Para além de destacar esta vertente colectiva e de contacto, o responsável salienta como os jogos de tabuleiros são "duradouros". Não só do ponto de vista físico, ressalva, mas também do seu interesse. Para ilustrar este ponto, deixa um exemplo: "O Catan é o jogo mais popular do Mundo e é de 1995".
Uma cultura que une
"A Cultura Pop é uma linguagem universal, é algo que nos une", destaca, a certa altura, o diretor da Comic Con. É por essa razão, acrescenta, que existem visitantes assíduos que criaram amizades e ligações. "A Comic Con Portugal tem um grupo de fãs de mais de 9000 membros de todo o país e que partilham experiências entre si".
Em complemento a esta universalidade de símbolos como o Batman ou Super-Homem, "existe a missão da Comic Con Portugal em promover e disseminar o mercado português", realça Paulo Rocha Cardoso. O trabalho de autores nacionais de banda desenhada, de cinema ou de videojogos são alguns exemplos. "Em todas as áreas, temos algo que reflete o mercado nacional".
Depois de cinco edições em que o número de visitantes cresceu, o diretor destaca o objetivo de "criar uma melhor contínua". Mais do que números, contudo, o importante passa por "oferecer a melhor experiência aos visitantes". "O que vemos aqui é incrível: vemos Sailormoons, Princesas da Disney, Darth Vaders, Zombies... Vemos personagens que nos dizem alguma coisa, ao longo da nossa vida. Este é um espaço onde todas estas referências vivem em conjunto, numa linguagem universal que nos une".